domingo, novembro 22, 2009

PARTÍCULAS DE DEUS


Os mais representativos e relevantes mundos, agentes e actores da Ciência, da Filosofia, da Teologia e da Religião – devido às múltiplas e mutuamente implicadas dimensões, categorias, níveis e sistemas conceptuais, epistemológicos e hermenêuticos envolvidos –, estiveram nos últimos dias, e vão permanecer durante largo tempo, intelectual e reflexivamente mobilizados e especialmente atentos à particular, apelativa e muito pertinente conjugação de problemáticas, abordagens e desafios técnico-científicos e teórico-críticos suscitados pelo arranque das actuais, mais recentes e muito complexas experimentações do LHC (Large Hadron Collider), um audacioso projecto do CERN-Laboratório Europeu de Física de Partículas (www.cern.ch) que envolveu grandes consórcios científicos e financeiros europeus (entre os quais vários portugueses).




De resto e como seria de esperar, a presença e o confronto de questões técnicas muito sofisticadas com paradigmas, escalas e modelos físico-matemáticos, epistémicos e cosmológicos situáveis em vários campos disciplinares – que as referidas experiências com aquele Acelerador de Partículas vão consumando e mais hão-de ainda suscitar, também eles em cadeia –, começaram já a merecer um grande relevo na Comunicação Social de todos os países e regiões, para além, naturalmente, de estarem a ser retomados, em múltiplas vertentes, ópticas, interesses e sentidos, nos meios académicos e intelectuais cujos horizontes epistémicos, científicos e culturais aliás, embora de acordo com as variáveis e determinantes da própria historicidade do Conhecimento e do Saber, sempre os assumiram como objectos seus e próprios, conquanto metódica e ontologicamente diferenciados, isto é não sobreponíveis nem subsumíveis uns aos outros, nomeadamente nos campos da Física, da Astrofísica, da Cosmologia e, por maioria de razão, da Metafísica!

É pois assim que também tem sido proveitoso acompanhar e comparar ainda o actual debate sobre a dialéctica da própria dimensão das esferas de realidade com as respectivas categorias simbólicas, analógicas ou puramente formais de linguagem referenciadora (desde as equações energético-quantificadoras e representativas dos tempos, movimentos e espaços de existência ou para-vida das partículas sub-atómicas, tal aquela de Higgs, até à sua mesma e contraditória qualificação ôntica, quase demiúrgica, como se "de Deus"…).

– Mas é claro que tudo isto tem muito que se lhe diga, até porque de partículas, emanações ou sinais de Deus, neste nosso Mundo e nos outros a cujas penúltimas portas de Génese talvez o LHC ande mesmo a bater, nunca faltou nem centelha real nem ilusão de aparição, só que ocultas ambas no outro Mistério da sua ínsita Criação…
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Sexta-Feira, 12 de Setembro de 2008
* Originalmente publicado em "Diário Insular" e "Azores Digital"