segunda-feira, outubro 18, 2010

A SETE PASSOS DE TI

APRESENTAÇÃO DO LIVRO
A SETE PASSOS DE TI
DE MARIA ARMANDA SANTOS

É sob evocação e para Lançamento da obra A sete passos de ti que intencionalmente começamos e nos encontramos hoje aqui, neste espaço bem simbólico e num envolvimento humano muito significativo, certamente, para todos nós – o que, nesta ocasião, me permito salientar –, porquanto eles, de certo modo, se prendem à vida e às heranças e envolvimentos da nossa jovem autora, Maria Armanda Santos.

Já conhecido o seu perfil biográfico e sinalizadas algumas pistas de leitura no Prefácio que tive o gosto de colocar no pórtico desta edição – e deixando portanto, neste ensejo, para Rodrigo Leal de Carvalho o abalizado desempenho formal de uma Apresentação propriamente dita ao livro cujo vinda a público celebramos, e bem assim endossando à Judite Parreira a sugestiva recitação expressiva de alguns dos seus seleccionados excertos –, limitar-me-ei pois e apenas a pontuar umas breves notas de abertura e mais ou menos de rodapé, mas confluentes, sobre a nossa novelista, a sua obra e os universos da escrita que nelas, ou a propósito delas, me foram suscitados.

Começo por reafirmar que não me foi nada difícil encarar com simpatia e responder positivamente ao gentil pedido que me foi feito para que prefaciasse esta obra:

– De facto, tantos e tais são os factos e as vivências próximas que me ligam à família da Maria Armanda que, ao vê-la, com 18 anos personificando figura de escritora, logo me lembrei que, no seu caso, de comprovado modo, bem se podia justificadamente repetir, como diz o ditado popular, que “quem sai aos seus não degenera”…

Desses seus, familiares relativamente chegados, bem me inclinei logo a lembrar dois (para já nem referir, evidentemente, ainda o nosso Apresentador desta noite, cuja vasta obra romanesca também tive anterior oportunidade de apreciar).

Porém – dizia – desses seus familiares relembro e invoco hoje especialmente Vitorino Nemésio (seu primo, de genealogia mais distante mas firmada) e Armando Santos (seu tio-avô), sob cujos auspícios propiciatórios, digamos assim, desejo precisamente colocar esta promissora estreia literária aqui neste nosso comum berço praiense!

Ora se do primeiro muito se tem dito, feito e escrito (embora menos se tenha efectivamente lido e mais merecidamente estudado, e ainda bastante menos, com razoabilidade e sem saturação contraproducente, se tenha dele e a fundo congeminado outras e desejáveis torres de alguns e melhores emblemas histórico-culturais…), já do segundo, como de muitos outros filhos e valores da terra, o proverbial desconhecimento público por estas bandas será generalizado e quase total…

– Mas quanto a Armando Santos – “primo e poeta” de rasgo (amigo e vizinho e companheiro de poesias, saudades, músicas, teatros e outras fitas), como o reconheceu e nomeou o mesmo Nemésio da "Casa das Tias", suas e comuns (e assim, também ainda, as da Maria Armanda), – ainda estou a vê-lo, tal como o descrevi nas Heranças da Terra, “também ele revolto no sonho (ou quase delírio…) das ilhas, naquele distante e sombrio bairro labiríntico de Lisboa, de pé no banco baixo da sua sala, como que visionário e no mais perfeito virtuosismo praiano: “Ó meu amigo Eduardo, Ó Ferraz da cambitola”, etc., etc., por aí fora, e até aqui, a esta Praia de antigamente, de agora e talvez de sempre…

É claro que falo de escritas, textos, poesias, novelas, contos e casos, mas poderia falar hoje também daquele, digo deste mesmo espaço que acolhe o Lançamento de A sete passos de ti, aqui neste paradigmático enclave conventual da ilustre e notável ex-Vila e do velho Salão Teatro Praiense e da Filarmónica União Praiense que, por via também de muitos empenhos cívicos, societária e culturalmente consequentes de alguns nossos concidadãos, parentes e amigos da Cultura, das Artes (Música e Teatro, nomeadamente) e das Letras de há quatro gerações já, se não me engano, nos une e reúne ainda na nossa Praia!

– E digo nossa, com plena noção socio-histórica e ainda institucional daquilo que este pronome realmente traduz de consciencializada e assumida pertença, velho e quase esquecido ou desprezado capital simbólico de herança e prospectiva, isto é, como resultado das obra dos nossos antepassados e, simultaneamente, como responsabilidade, ainda também nossa, no tempo presente!

– Mas que terá isto tudo a ver com a comemoração, digamos assim, do nascimento e do baptismo do livro da Maria Armanda Santos?, – interrogar-se-ão os amigos e convidados que em tão grande número, e sintomaticamente, aqui acorreram.

– Pois tem tudo!, digo eu, porquanto um Escritor e, por maioria de razão, uma jovem Escritora, também é isto mesmo que neles se reincarna e perpetua: uma memória, uma inteligência, uma vocação e uma vontade de linguagens, afectos, imaginários e valores sempre criativamente renováveis e transmutáveis à luz daquilo que vai sendo inspirado pelo mundo subjectivo, pelas aprendizagens, pelas afinidades liminarmente conscientes ou subconscientes, e depois também pelos mundos colectivos, pelos sonhos e pelos mitos que a todos e a cada um é dado intersubjectivamente viver e narrar…

E posto isto, com que termino, vamos continuar o nosso serão cultural, novamente com A sete passos de ti e com a expressividade das suas figuras e construções literárias, também elas reveladoras – na exemplaridade feliz, e na nova e autónoma existência que todas as obras, discursos e textos sempre ganham relativamente a nós, ou a quem os produz, ao serem lidos, ou dados ao convite da leitura por outros, – e todos, afinal, a seus modos e géneros e destinos diversos, análogos ao risco a às promessas e às esperanças do Amor, esse único e maior sentimento que supera a finitude de tudo e todas as nossas humanas limitações, – tal como a Maria Armanda, tão bela e felizmente intuiu e ficcionalmente lhes deu forma textual e voz genuína nesta sua esmerada primeira novela, conforme tão poeticamente as suas Cartas mais ainda acentuam, para que sigamos, vacilantes ou seguros, confiantes e ressurgidos, os seus próprios passos, pela mão de Alice…

Academia da Juventude da Ilha Terceira, Praia da Vitória, 3 de Setembro de 2010