domingo, novembro 27, 2011

As glosas de Dumas


É conhecida e tem sido glosada nos mais variados contextos, embora quase sempre de modo invertido, a célebre divisa que Alexandre Dumas consagrou na novela Os Três Mosqueteiros e cujo texto original é “Todos por um! Um por todos!”.
 Nos tempos actuais, essa frase – equivalente a uma palavra de ordem ou slogan mobilizador – tem aparecido até com maior frequência em muitos dos discursos e práticas que cunham o nosso tão mediatizado quotidiano próximo…
 E é assim que se tem recorrido muito àquela representação – porém sintomaticamente sob o realinhado formato de “Um por todos e todos por um”… –, tal como se verificou em três casos:
– O primeiro foi o de António Costa, em Junho, ao apelar à (sua) mobilização à roda do fuso da (ex)liderança socratista, nestes unanimistas e delirantes termos: “ Pensaram que podiam cortar o PS às fatias, dizendo que uns eram bons e outros eram maus. Estavam enganados, não conhecem o PS! No PS temos um lema: um por todos e todos por um";
- o segundo foi o do economista João Duque (coordenador do Relatório para Relvas, o tal defensor da suficiente janela-postigo para o serviço público da RTP-A, que está em estado comatoso, ao que lá se vê…), questionando se “os habitantes e os políticos” da União Europeia se sentiriam todos vinculados da mesma maneira à crise económica, fossem tanto credores ou devedores dela;
- o terceiro, vindo da Madeira, lá trouxe o mesmo lema, mas subentendido, numa clara norma totalitária (e de recorte anticonstitucional), ao consagrar uma proposta do PSD, para que, nos plenários parlamentares autonomistas, em certas votações, um deputado possa votar por outros!!
– Ora distintos que sejam os ditos moldes, mas estando pressuposto em todos eles que a união faz a força e pode assim cimentar (ou fragmentar...) Poder, bom seria que glosas análogas fossem pensadas criteriosamente antes de consumadas à custa da liberdade, da responsabilidade pessoal e da consciência de todos e de cada um.
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Em "Diário Insular (26.11.2011)