sábado, outubro 01, 2011

A alma e o corpo do PS

                                                            A consciência das dificuldades impede o facilitismo, enquanto
 a consciência das alternativas impede a autoflagelação".
                                                                                                                       BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

A possibilidade da(s) recandidaturas(s) de Carlos César à(s) liderança(s) do PS-Açores e/ou a um novo mandato como presidente do Governo Regional, como é sabido, continua(m) a constituir motivo de tácitos silêncios externos e debates internos sobre os estados presente e futuro da vida regional, naquele e nos outros partidos, no Executivo açoriano, nos OCS e na opinião pública (aberta ou privadamente manifestada…).

– Porém, e embora uma provável decisão já tenha sido alegadamente tomada pelo próprio – e até mesmo hipoteticamente transmitida a um reduzido e confidente círculo de auditores, agentes, militantes e decisores políticos muito chegados –, talvez que a decorrente resolução final ainda não tenha sido definitivamente pesada, medida e irremediavelmente assumida por ele e por todas as partes, actores e parceiros interessados, muitos deles nem querendo sequer arriscar inequívocas tomadas de posição convincentes, solidárias ou demarcantes, com receio delas poderem vir a condicionar ou, pior, a colidir com o do seu indiscutível líder, – e tanto mais quanto César vai recusando que lhe passem (política e metaforicamente, bem entendido!) “certidão de óbito”, todavia enquanto também, aparentemente, não consente, não fomenta nem incentiva, qualquer sinal ou movimento catalisador da sua esperada reencarnação (como alma aglutinadora, estruturante e dinamizadora…) no corpo bastante desvitalizado, estrategicamente híbrido e fragmentário (sem ele e sem ela…) do próprio PS-Açores!

Ora tudo isto sendo perfeitamente compreensível contabilizando os naturais pressupostos da avaliação partidária, sociopolítica e eleitoral que Carlos César vem desde sempre fazendo, já assim não o será tanto tendo em vista os específicos e legítimos interesses do PS, porquanto, exclusivamente a partir destes, a permanência do seu actual líder, simultaneamente à frente da condução do partido e como recandidato à presidência de um eventual futuro governo açoriano, parece em absoluto potenciadamente necessária, tanto mais quanto os próximos embates regionais se afiguram difíceis e exigentes, a conjuntura (nacional e internacional) problemática e aos presumíveis (alguns somente presumidos!) herdeiros ou sucessores de Carlos César, com todos os seus defeitos e indesmentíveis talentos e qualidades, a uns já não resta tempo para ganhos de maior qualificação estadística e os outros ainda não a possuem… Assim, como é perceptível, os actuais dramas e opções do PS e de Carlos César residem precisamente aqui!

– E as oposições, de corpo e alma, sentindo-o também, impacientemente esperam tirar todas as vantagens de uma sua irreparável claudicação (equivalente a uma isomórfica abdicação sem retorno!), seja ela histórico-política, democrática e constitucionalmente imposta, ou antecipada e voluntariamente infligida como autoflagelação escusada.

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Publicado em "Azores Digital" e "Diário dos Açores" (02.10.2011).
Outra versão em "Diário Insular" (01.10.2011).