sábado, novembro 19, 2011

As Colunas do Poder


 
     Com grande notoriedade mediática – especialmente em importantes órgãos da Comunicação Social escrita nacional (jornais e revistas) – mereceram, nos últimos dias, a Maçonaria portuguesa e a Política lusa, conjugadamente, uma significativa, ampla e desusada abordagem, à qual não faltaram muitos dos atraentes motivos e ingredientes que sempre estiveram, e ainda estão, associados àquela aureolada instituição e àquele decisivo (e decisório…) domínio da vida do País.
    
Ora não deixa – talvez, mas apenas à primeira vista… – de causar alguma estranheza o facto de ser precisamente nesta época de crises generalizadas (em Portugal, na Europa e nos Estados Unidos…) que entre nós esse tema tenha sido trazido, da forma como o foi, ao espaço, à divulgação e ao conhecimento da generalidade da opinião pública, curiosa e até potencialmente cativante, tanto mais quanto isso mesmo foi efectivado com a precisa, minuciosa e planeada revelação doseada – mais ou menos atractiva, sugestiva e sedutora… – de alguns documentados e ilustrados pormenores (afinal, nem sequer tão secretos ou reservados como se poderá ter querido fazer parecer) da história, génese, características, ritualidades, simbologias e práticas daquela instituição e dita “sociedade secreta”, que assim e por este meio viu provavelmente mais polidas e potencialmente levantadas algumas das suas novas e pretendidas colunas
    
Porém, e para além daqueles sucintos dados, o que mais acentuadamente terá motivado muita da referida e conseguida oferta de tão rentável produto informativo – e das respectivas e diligentes investigações jornalísticas que lhe deram matéria para edição –, foi certamente o rol de nomes dos “irmãos” ali elencados como pertencentes à agora relembrada Maçonaria (nas suas diversas obediências, tendências, Lojas e preponderantes filiações ideológicas ou político-partidárias, com destaque aqui, como é sabido, mas não só, para ilustres dirigentes históricos do PS e do PSD.

     – De resto, e quanto ao PSD, o referido destaque não deixa de vir mesmo a propósito e muito convenientemente por causa da distinta personalidade do seu quase plenipotenciário e iluminado ministro Relvas, figurinha aliás cada vez mais hegemónica no compasso governativo de Passos, e cuja emproada barriguinha de poderes, mesmo sem avental visível que lhe cubra as entranhadas circunvoluções e marteladas na Autonomia, lá vai conseguindo apertar os seus cordões nodosos aonde muito bem ou mal, e conforme quer, pode e manda!

     Não há dúvida que este tema da Maçonaria é mesmo apaixonante, revestindo-se de inusitados alcances directos e indirectos, de todos os pontos de vistas, mas sem dúvida ainda mais para o estudo da História e das Mentalidades.

     – E assim merece hoje e aqui referência, também pelos dados que no respeitante aos Açores contém, o recente livro do historiador António Ventura, aonde é sucintamente analisado o papel da Maçonaria e dos Maçons na Primeira República e na Assembleia Constituinte de 1911, entre os quais figuravam alguns açorianos e eleitos pelos Açores (António Joaquim Sousa Júnior, Augusto de Almeida Monjardino, Eduardo Augusto da Rocha de Abreu, Faustino da Fonseca, Francisco Luís Tavares e Manuel Goulart de Medeiros), e bem assim alguns outros cuja vida familiar e profissional de algum modo se ligou ao Arquipélago e à Maçonaria nas ilhas. A obra tem pois um especial interesse histórico-biográfico, complementando deste modo outros estudos conhecidos e de maior fôlego sobre o mesmo conturbado período da história de Portugal.

     Quanto aos primeiramente referidos artigos jornalísticos e de revista, ainda vistos à luz dos dados que a citada obra Os Constituintes de 1911 e a Maçonaria (Lisboa, Círculo de Leitores, 2011) inclui, não poderá deixar de constatar-se que na Maçonaria, como em todas as instituições, há gente de bem, de mérito e de genuína valia humana, científica e política (a quem Portugal e os Açores muito deveram e devem), a par de outros – como hoje é mais do que evidente continuar a poder ser constatado! –, cuja errática e oportunista carreira, mediocridade intolerante e pérfidas jogatinas de poder e fortuna são o contra-testemunho contínuo de quaisquer ideais fraternos e humanistas (ou assim pretensamente assumidos como tal)…

     – Todavia este é um assunto já profunda e propriamente filosófico e muito mais crítico, cujos contornos sistemáticos, teóricos e práticos, devem ser sempre relembrados, tal como aliás não deixaram de o fazer de passagem, no contexto que referimos, algumas destacadas figuras religiosas, teológicas e intelectuais da nossa Igreja Católica!
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Publicado em "A União" (http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=26050),
"Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 20.11.2011),
e Azores Digital (http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2166&tipo=col)




As Estratégias da Imagem


Nos últimos meses, talvez como nunca  nos passados anos, ganhou tanta importância, para a afirmação (prestígio, direitos, deveres e créditos das Autonomias, a própria imagem que de si e de nós – por intermédio das nossas instituições, actores e discursos – tem sido transmitida, por acção ou omissão, ao País inteiro.

Desde o famoso e controverso “buraco” da Madeira até aos resíduos (tristes restos, lamentáveis e penalizadores!) da dramática e irresponsável era de Sócrates a quem e à qual quase todo um (ir)reconhecível ou talvez definitivamente estigmatizado PS que (durante anos seguidos, e em peso) se rendeu e que ainda por cá vegeta ou pulula à sombra desnorteante de uma morte eleitoral possível (já anunciada, desejada ou prenunciada por outros, a quem, por seu lado, oxalá também as reservas de virtude, ou a presunção de alternativa credível, não lhes caiam pelo caminho…) –, passando pelas campanhas (quase todas falhadas!) da chamada “promoção” dos Açores e deles como “destino” – fatal e dúbia palavra esta, até nos persistentemente inócuos ou inoperantes esquissos da propaganda de um Turismo de feiras caras e certames duvidosos…

De tudo isso um pouco – dizia – nada nos tem faltado, e o que mais temos visto são enternecedoras encenações da excelência vacum insular nas rotundas da capital, marialvas incursões pelos campos e redondéis da tauromaquia lisboeta e mundial (pois então!), localmente ainda alimentada à mão e à base de expansivos intercâmbios, estatuária icónica de vitalidades perdidas, subsídios generosos para aparatosos eventos e incríveis faenas teóricas em cartazes abusivamente mensageiros de identidades forjadas (legitimadas por quem?), até às últimas da “parada gay” e do mergulho arriscado em terras (águas…) que já foram de baleeiros, de cândidos ecologistas e de cientistas e apaixonados pela Natureza e pela Beleza das nossas Ilhas…

– Só nos falta mesmo a estratégia da representação da vítima inocente ou a do bode expiatório que, até essas, não tardam aí a ser-nos ateadas ou tributadas!

É só esperar para ver…
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▪ Em “Diário Insular”- http://www.diarioinsular.com (Angra do Heroísmo, 19.11.2011)
e http://www.azoresdigital.com/.