sábado, fevereiro 25, 2012

Diplomacias de Sirigaita

A notícia sobre a transferência para a Embaixada dos EUA em Paris dos serviços de concessão de Vistos para Emigrantes – com o decorrente encerramento de anteriores (e históricos!) desempenhos idênticos não só no Consulado em Ponta Delgada quanto ainda na Embaixada americana em Lisboa –, começou já a gerar grande mal-estar, indignação e justificados protestos nos Açores, nas Comunidades Açorianas imigradas nos USA e nalguns (por enquanto ainda poucos e insignificantes, impotentes ou pouco avisados…) meios diplomáticos e políticos portugueses!

Suspeições – embora não exatamente coincidentes com os factos agora consumados – haviam corrido já nos finais do ano passado, mas sendo então e antes as hipóteses alvitradas apenas e propriamente no sentido do encerramento daquele Consulado, e naquilo que foi aliás um aceno logo denunciado, contrariado e sujeito a várias diligências e petições impugnatórias, de entre as quais aquela que os Congressistas Barney Frank, Dennis Cardoza, David Cicilline, Jim Costa, James Langevin e Stephen Lynch dirigiram à Secretária de Estado Hillary Clinton, no dia 16 de setembro de 2011, e onde era afirmado constituir “um grave erro” o fecho daquele serviço diplomático, atendendo à componente luso-americana (incluindo a de proveniência açoriana) em significativas camadas populacionais e comunidades de Massachusetts, Rhode Island, Connecticut e Califórnia (Central Valley), aos respetivos laços económicos, culturais e pessoais, e bem assim – tudo isso! – reforçado pela existência de uma das mais importantes instalações militares americanas (Base das Lajes) na ilha Terceira! (*)

Porém – e a par da rigorosa e humanitária menção ao fenómeno das deportações e da alusão às implicações (mútuas vantagens…) económicas da manutenção de um serviço consular nestas ilhas muito distantes do Continente –, ainda no mesmo texto eram avisadamente relembradas outras reações da comunidade luso-americana a anteriores intenções (portuguesas essas!) de reformulação de redes consulares nos Estados Unidos…

– Mas, cá e lá, tudo mostra agora ter caído em saco roto e para muito pior do lado português continental e insular (e aqui por maioria de razões!), ao que parece perante inoperâncias nacionais, menoridade institucional, vexatória impotência ministerial e diplomática de Lisboa, ou da apenas espevitadamente feirante e caseira pesporrência de sirigaita dos nossos Estrangeiros!
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(*) - O Documento referido -- e bem assim algumas das movimentações que suscitou então --  pode ser consultado aqui:
http://myemail.constantcontact.com/Opposition-Letter-to-Closing-the-American-Consulate-in-Ponta-Delgada.html?soid=1102586872185&aid=LruqXFdY4Hs
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 25.02.2012),
"Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 26.02.2012),
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2201&tipo=col
e http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=25527&visual=9&layout=17&tm=41

sábado, fevereiro 18, 2012

Os Barómetros do Entrudo

Com origens bem remotas na História das Civilizações e com particulares formas de manifestação no Ocidente – desde a Grécia e a Roma antigas (aí associado a desfiles navais chamados de currus navalis, de onde o nome Carnavale poderá ter derivado, e bem assim às licenciosas bacanales, lupercalia e saturnales), até à nossa dita “pós-moderna” Contemporaneidade, mas passando modelarmente por decisivas e paradigmáticas configurações várias de cariz popular ou palaciano (aqui especialmente nas sociedades de corte), mas com outras tantas formas híbridas de exteriorização folgazã ao longo da Idade Média, do Renascimento e do Barroco –, o Entrudo tem constituído ao longo dos tempos: 


 – 1) uma festa total ciclicamente comemorada (de base, génese e significação pagã e essencialmente inserida nos calendários propiciatórios e exorcizantes da primavera);

– 2) uma festividade tradicional pré e para-religiosa, intencional ou subliminarmente articulada com a assumida reversão simbólica do tempo litúrgico cristão do começo da Quaresma;

– 3) uma quadra cultural, artístico-teatral e turística, e

– 4) enfim, também pela conjugação de todas as referidas facetas e dimensões societariamente representativas, integrantes e relevantes, um legislativamente consagrado feriado (cuja novel subtração falhada e falaciosa, mesmo enquanto discutível matéria de “direito social”, tem vindo a ser contestada e parodiada como medida inócua e despicienda das zelosas, mas gravosas e abusivas, tontarias governamentais lisboetas…).

De tudo isto se poderia pois falar a propósito deste Entrudo, mas mais motivador para nós será mesmo tornar a evocar, recomendando para observação artístico-teatral, comunitária participação lúdica e estudo social o Carnaval destes dias nas nossas ilhas, enquanto e como fenómeno complexo, eclético e sincrético da vida do povo dos Açores, e em especial dos terceirenses.

– Nele genuína e primordialmente entroncando múltiplos, recriados e recreativos elementos patrimoniais dos universos expressivos, estéticos e sociais das culturas luso-afro-brasileiras e hispânicas, o nosso Carnaval constitui seguramente ainda um excecional laboratório e um barómetro indicativo daquilo que mais sensivelmente marcou o quotidiano, a memória e o imaginário da nossa gente ao longo do ano, pelo que oxalá ninguém fique alheio, ou indiferente, aos discursos e práticas da existência privada e pública que nele, conflitual ou pacificadoramente, se vão manifestar, mascarar ou transferir…
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 18.02.2012),
"Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 19.02.2012),




sábado, fevereiro 11, 2012

Ultimatos, Carlos César e a Kaiserin


Para quem tiver acompanhado com um mínimo de atenção, conhecimento geo-histórico ou perceção sociopolítica e económica-financeira o que nos últimos dias foi dito sobre Portugal por dois altos responsáveis da Europa atual – Herrin Merkel (Bundeskanzlerin) e Herr Schulz (presidente do parlamento da UE), ambos dignos filhos da impoluta Deutschland… –, certamente não terá deixado de sentir subir-lhe à memória (e, com decorrente certeza, também à indignação!) outros e anteriores acontecimentos pátrios e mundiais que afrontaram a consciência patriótica portuguesa e marcaram muitas das mais paradigmáticas configurações político-institucionais, ideológicas, culturais e filosóficas que as nossas respostas a idênticos estigmas e desafios assumiram ao longo de décadas e especialmente desde o ultrajante Ultimatum de 1890!

– Entretanto, a vários níveis e pela voz e pena de diversas personalidades políticas, observadores, analistas e intelectuais portugueses, algumas significativas, nobres e conhecidas reações a tais atrevimentos alemães já se fizeram notar, porém e  infelizmente a par de outras tantas ausências, fossem elas por oca magistratura “de influência”, cínica tática de miserável partidocracia, cobardia institucional ou mera preguiça na honra…

E veja-se mesmo que alguns dos enfatuados (quando não ridículos comediantes, menores ou trágicos atores) políticos que ao nosso País coube em decadente sina sustentar, foram até ao ponto de, algaraviando-se todavia um poucochinho contra Herr Schulz, praticamente encolherem os seus entrevados ombros ministeriais, dobradas cervizes de mente ou desirmanado discurso institucional português à metediça e afrontosa ingerência estrangeira no que à nossa constitucional e congénere Região Autónoma diz respeito, como se a Madeira fosse para aquela (e para estes últimos, afinal?!) somente um pequeno território suburbano de um “estado falhado” a ser tutelado pelos novos mandarins da Europa, ou então algum remanescente domínio, colónia ou zona de ocupação do que restasse (e está renascendo?) de um velho novo Reich (Paris-Berlim?), ou ainda de um outro novo velho Império boche!

– Ora é por isto mesmo, e pelo que ainda mais envolvido está neste tema (ao qual voltaremos depois), que daqui se envia uma palavra solidária para com a Madeira, e um louvor a Carlos César pela justeza da sua reação à intolerável diatribe daquela nada angélica Frau Angela!
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Publicado em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 11.02.2012),
“Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 12.02.2012),







sábado, fevereiro 04, 2012

Vasco Graça Moura ou As Desgraças da Ortografia




Para quem não conhece minimamente o temperamento e as múltiplas verves do novo director nomeado pelo Governo para o Centro Cultural de Belém (CCB), ou para quem, apesar de todo o talento e valor ensaístico, literário e cultural que Vasco Graça Moura (VGM) indiscutivelmente detém – muito embora, nas suas palavras mesmas, até ele ache que muitos “criadores”, e talvez não apenas esses como ainda possivelmente também todo o demissionário e não remunerado ex-Conselho Directivo do CCB (constituído por João Caraça, João Vieira de Almeida, António Rebelo de Sousa, Laborinho Lúcio, Clara Ferreira Alves e Lídia Jorge) –, o possa(m) encarar tal qual uma “espécie de monstro horrendo” (sic), – a verdade é que aquele distinto intelectual, (re)criador de notáveis poéticas e façanhas políticas, ainda mal se tinha sentado à sua nova escrivaninha belenense, e logo se envolveu numa previsível guerrilha de escrita e ortográficos desacordos…

– Só que, agora, tais persistências e recorrências foram exercidas segundo mais decisivos e decisórios modos, e assim para individualizada retoma de antigas causas e propostas próprias (e não só…), no que à dita matéria (de Lei?) do famigerado Acordo Ortográfico diz (des)respeito!

Porém, no que envolve o Governo, até ao momento, o Primeiro-Ministro Coelho apenas se desembrulhou da questão com informáticas cartolas de explicação para os tira-e-põe de correctores nos computadores e redes do CCB e/ou por VGM, ficando o resto por esclarecer e coerente e paradigmaticamente corrigir em acentos, consoantes e outras dissonantes articulações de Língua e fala

– O assunto é pertinente e significativo (embora um pouco quixotesco…), mas deve ser visto em toda a implicada linha das perspectivações linguísticas, culturais e político-jurídicas que o pespontam, até porque sabe-se o que nas escolas, nos manuais, nas repartições públicas, nos OCS e até nas redacções oficiais impostas (nalguns casos com impugnação proteladora de aprovação e vigência legislativas…) se mandou fazer, para que diplomas e outros textos tivessem as respectivas e decorrentes validações e aplicabilidades normativas e gramaticais devidamente homologadas! 
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Publicado em:
"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 04.02.2012), "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 05.02.2012),


sexta-feira, fevereiro 03, 2012

SEEBMO publica estudo sobre Epilepsia nos Açores



O Serviço Especializado de Epidemiologia e Biologia Molecular (SEEBMO) do Hospital de Santo Espírito de Angra do Heroísmo (HSEAH) acaba de editar as Actas do Seminário do Projecto RIRCE que teve lugar em Angra do Heroísmo no passado mês de Abril (2011).

O livro, intitulado Contribuição para o Conhecimento da Epidemiologia da Epilepsia Pediátrica nos Açores – Relatório e Comunicações, reúne todas as intervenções, comunicações e estudos apresentados num Simpósio temático (realizado nos dias 29 e 30 de Abril de 2011, em Angra do Heroísmo) e produzidos no âmbito do Projecto do Registo Informatizado Regional de Crianças com Epilepsia na RAA efectuado no arquipélago dos Açores, entre 2008-2011, com o apoio do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEAGrants) através da Unidade Nacional de Gestão do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, e que contou com a colaboração e patrocínios locais do Governo dos Açores (Direcção Regional da Educação) e da Caixa Económica da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo.

Esta publicação científica – dirigida, organizada e coordenada por Jácome Bruges Armas (director do SEEBMO e responsável pelo Projecto RIRCE na RAA) e por Eduardo Ferraz da Rosa (investigador associado do SEEBMO), com recolha e revisão documental de Paula Lourenço (técnica superior do SEEBMO) e Paula Pires (neurologista) –, inclui, para além do historial do Projecto, o respectivo Relatório Técnico-Administrativo (por Lígia Poim e Marco Rendeiro), uma caracterização estatístico-patológica dos Resultados Provisórios apurados nas ilhas Terceira, Graciosa, Pico, S. Jorge, Faial e Flores (por Fernando Fagundes, Adriana Pinheiro e Rita Lopes da Silva), e estudos e ensaios epidemiológicos sobre Epilepsia Pediátrica na Ilha da Madeira (por Joana Oliveira, Paulo Sousa e Rui Vasconcelos), Importância dos Registos Nacionais e Regionais (por Daniel Virela), Síndromes Genéticos e Epilepsia (por Rui Chorão), e Gestão Integrada da Epilepsia – Recomendações de Qualidade e Desempenho Assistencial (por J.M. Lopes Lima).

Segundo salienta Jácome Armas no “Preâmbulo” desta nova publicação epidemiológica do SEEBMO, a mesma tem como “principal objectivo dar a conhecer aos técnicos de saúde, professores e educadores alguns resultados obtidos com a implementação do Projecto RIRCE”, pretendendo-se assim “consolidar o relacionamento” entre todos os que lidam com a Epilepsia Pediátrica, “no sentido de completar e uniformizar metodologias para que o registo dos casos seja o mais fidedigno possível” no âmbito do Serviço Regional de Saúde da Região Autónoma dos Açores.
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Notícia publicada em "Diário Insular", "A União", "Diário dos Açores" (06.02.2012),
http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=25140&visual=3&layout=10&tm=6