sábado, junho 30, 2012

Fogueiras e Fogaréus

Nenhum observador minimamente atento à realidade política regional e nenhum ativo participante razoavelmente dotado de preparação e senso a condizer com responsabilidades e cargos assumidos (às vezes bem levianamente…) para tomadas de posição, análise e implementação de linhas de pensamento estratégico e medidas práticas decorrentes das opções de um justo e competente entendimento daquela mesma realidade política – mormente no que diz respeito a atos da governação, ao comportamento deontológico dos seus membros e ao devido (e exigível!) acompanhamento crítico, suporte solidário e elucidação precaucional por parte dos vários agentes e atores institucionalmente ali envolvidos –, poderá deixar de encarar com muita apreensão todos aqueles, sucessivos, multiplicados e acumulados casos e temas que tem, a esses mesmos diversos mas confluentes propósitos, vindo a inundar exponencialmente (e ainda mais nas últimas semanas e dias) o inteiro panorama político-informativo da Região Autónoma dos Açores, nos OCS e nas redes sociais (locais e nacionais…).

– Não valerá a pena, creio eu, inventariar aqui o leque dos ditos temas e casos em triste vista e alcance, tão percetíveis são eles, apesar da quase inacreditável série de miopias, arritmias de coordenação e nucleares ausências de terapia firme com que as referidas úlceras (algumas de grande pressão…) tem sido padecidas e geridas por quem, assim, até parece estar deixando cavar a sua própria cárie político-partidária e, talvez, conquanto inadvertida e involuntariamente, levantando ventos para uma eventual borrasca outonal cujos sintomas de contágio, suficientemente alarmantes pelo que prenunciam (e nalguns casos comprovam!), são mesmo risco de fósforo e fumo de fogueiras que poderão vir a chamuscar muitos dos fundilhos e rodas de saia que andaram a passear-se pela ilha Terceira durante as Festas Sanjoaninas, em visitações de caravana cortesã, em varandas acolchoadas, na calçada molhada ou no improvisado palanque de muita fatuidade, conforme o valor do cicerone, a música da marcha ou o ferro do curro…

A outra hipótese para o que se vê, lê e ouve é a de, novamente, querer-se arranjar fogaréu expiatório para um mal que antes provém, acima de tudo e de todos, da falta de inteligência política, de poder decisório esclarecido e da paralela e interesseira aniquilação da democraticidade partidária interna, – formas convergentes e larvares de reincidentes desculpabilizações pessoais e político-partidárias que não deixarão, desta vez e na devida altura, de ser objetivamente acentuadas!
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Em “ Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 30.06.2012):
“Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 01.07.2012):
Azores Digital:

sábado, junho 23, 2012

Um Exemplo de Deontologia


Proveniente da reflexão ética desenvolvida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham (1748-1832) e nesse mesmo âmbito por ele criado, o termo deontologia – como a sua própria composição a partir do grego evidencia – reporta-se ao estudo teórico e ao exercício prático de acções realizadas em cumprimento de valores, princípios e deveres morais, nomeadamente daqueles que fundamentam, regulam e orientam o desempenho de actividades e ofícios, ministérios públicos ou responsabilidades sociais, pelo que é assim também geral e conjugadamente usado, na expressão deontologia profissional, enquanto ramo da ética, como relativo à ética profissional.

– E é neste mesmo domínio e preciso sentido que muitas profissões, ordens e organizações possuem os seus códigos deontológicos normativos ou vinculativos, conforme os casos específicos (p. ex. médicos, jornalistas, advogados, enfermeiros, psicólogos, engenheiros, economistas, etc.).

Por outro lado, não deixa de ser curioso verificar que só muito raramente existem códigos deontológicos expressamente formulados e formalizados para o desempenho de funções ou cargos político-institucionais, embora, diversamente ou a quando de certas e determinadas tomadas de posse, muitos dos seus agentes e actores até façam um solene juramento de honra, fidelidade e lealdade à Lei, à Pátria e ao Povo que lhes delega Poder e partilha ou empresta poderes limitados, sendo que, em alguns países, esse preito é simbolicamente firmado e aceite sob a invocação do espírito e da letra de Deus, de Livros Sagrados ou da Constituição Civil.

– Todavia, caso recente, honroso, pouco usual e muito louvável acaba de ser posto em prática pelos Socialistas franceses, ao criarem uma Carta Deontológica dos Membros do Governo, que foi obrigatoriamente assinada por todos eles e aonde estão consagrados os princípios, normas e interditos ético-políticos (e outras auto-limitações em prebendas, favores, serviços, espaventos e mordomias…) que devem enformar e guiar o comportamento dos seus membros temporários, no que diz justamente respeito a Solidariedade e Colegialidade, Concertação e Transparência, Imparcialidade, Disponibilidade, e Integridade e Exemplaridade! O texto está disponível no site da internet da nova e tão promissora Presidência socialista da França…

Porém o precioso e exemplar documento, que mereceu logo destaque em todos os OCS gauleses, foi significativamente quase ignorado nos esconsos corredores da secular choldra política lusitana e nas palavrosas redes mediáticas ou de interesse e vassalagem contemporânea que ocupam e gerem as palacianas paragens, capitanias gerais ou enlameadas arribanas da política terceiro-mundista à portuguesa, – embora podendo, ainda a tempo – e mais, devendo! – ser consultado e meditado, na íntegra e com futuro proveito programático, político e moral, por todos e para todos os cidadãos e líderes livres e dignos!

– Assim sendo, sobremaneira nos tempos que correm, uma análoga adopção e implementação daquela Carta em Portugal – por todas as forças políticas que entre nós andam e aonde muitas ilegitimidades, várias ilegalidades, bastas impunidades e sinistras e ridículas figuras já tresandam (desde banqueiros corruptos e lesa-pátrias venais a pequenos tiranetes e falsários que pilham povos e regiões!) – seria mesmo um imperativo de consciência social, transparência democrática e pudor individual, para um limpo, renovado e amadurecido merecimento de confiança cívica, pessoal e comunitária (solidariedade e honorabilidade partidária, jurídico-institucional, competência e até autêntico zelo económico-financeiro!), a todos os indeclináveis e responsabilizantes níveis de conta, peso e medida deontológica… E, já agora, político-eleitoral também!

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Publicado em:
“Diário dos Açores” (24.06.2012):
“Diário Insular” (23.06.2012):
RTP-Açores:

sábado, junho 16, 2012

Os brasidos de Fahrenheit 451


Nascido no Illinois, em 1920, mas cedo tendo ido residir para Los Angeles, faleceu na passada semana o escritor norte-americano Ray Douglas Bradbury, autor de uma vastíssima obra – quase toda reunida em edições antológicas – e que inclui novelas, contos, peças de teatro, radiofónicas e televisivas, literatura infantil e ensaios sobre cultura, política e comunicação, além de adaptações cinematográficas nas quais participou como argumentista/guionista (nomeadamente do Moby Dick de John Huston, no Alfred Hitchcock Show ou em Twilight Zone de Rod Sterling).

Filho de uma imigrante sueca e de um guarda-fios, Ray Bradbury – que se  estreou na escrita ainda bastante novo, com a publicação de pequenos contos em revistas – manteve desde muito jovem um estreito e intenso contacto com a leitura e com a literatura, especialmente romances de aventura e ficção científica

Todavia, de entre as suas obras, maior notoriedade ganharam as famosas Crónicas Marcianas (1950) – que ele preferiu catalogar como de literatura fantástica – e a muito consagrada novela distópica Fahrenheit 451 (1953) – que o próprio entendeu classificar como sendo uma obra de ficção científica mas “baseada na realidade”, e que viria depois a ser passada ao cinema (por François Truffaut, em 1966) e encenada como ópera (em 1988).

– Apaixonado por Livros, Mitologia, História e inspiradoras Bibliotecas, mas sem nunca ter podido frequentar estudos superiores devido a dificuldades económicas, Ray Bradbury foi um escritor dotado de particular sensibilidade para as problemáticas da comunicação social, da partilha da informação e da liberdade de expressão, logo antecipando e denunciando, no que se aproxima de George Orwell e Aldous Huxley, muitas das questões críticas, ideológicas, político-militares e técnico-científicas que atravessaram a América da era McCarthy e que hoje povoam globalmente todos os universos mediáticos, virtuais, psicossociais e comportamentais do planeta.

Traduzido por Mário Henrique Leiria, com capa de Lima de Freitas, para a primeira edição portuguesa – que me recordo de ter adquirido na nossa saudosa Cooperativa “Sextante” –, Fahrenheit 451 – “the temperature at which book paper catches fire and burns” – constitui ainda agora (dir-se-ia até especialmente hoje!) uma assombrosa narrativa visionária sobre os perigos da repressão da Palavra e do Pensamento, da alienação unidimensional das Linguagens – como filosoficamente foi muito bem analisado por Herbert Marcuse –, da totalitária e violenta destruição da Memória e dos valores espirituais das grandes Civilizações, em paradigmáticas fogueiras censórias e inquisitoriais, ou na incendiária aniquilação concentracionária das consciências…
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Publicado em “Diário dos Açores” (17.06.2012): http://www.diariodosacores.pt/n/index.php/opiniao/1564-os-brasidos-de-fahrenheit-451;

quarta-feira, junho 13, 2012

Os Estilos da Questão


O Dr. Cristóvão de Aguiar – escritor e intelectual que muito admiro e respeito, e cuja íntegra personalidade e notável obra tanto tem prestigiado a Literatura Portuguesa e o nome dos Açores –, escreveu um pequeno artigo para o “Diário Insular” (DI) do passado dia 12 de Junho [que não quero deixar de aqui paritariamente arquivar, transcrevendo-o* ao final deste], no qual, com a habitual graça, humor e talento, teceu algumas breves considerações sobre dois textos meus publicados nesse jornal terceirense e no “Diário dos Açores” (DA). Comento pois o seu texto, igualmente hoje sem acrimónia, nos termos em que o faço e aceito, com sincero gosto por ter sido ele o autor desse tão espirituoso, objectivo e afinal, para mim, lisonjeiro escrito. 

Todavia, nem a questão disputada – ainda subjacente às suas bem humoradas palavras, conforme compreendo e deduzo com igual disposição de ânimo, e tal como o Dr. Cristóvão de Aguiar na sua leitura parece também das minhas ter entendidonem a sua respectiva e controversa vertente principal são realmente nem acima de tudo um problema “de estilo” (embora não deixem de prender-se ou desprender-se dele, pelo tipo de escrita que as aborda…), como a sua própria e muito arguta ligação entre os meus dois aduzidos textos logo captou de modo insofismável e exactamente como pretendido…

– Todavia, sabendo muito bem quem era o meu principal interlocutor na dita questão, não quis deixar de dialogar com ele em terrenos de eleição mútua e naqueles outros domínios em que os nossos horizontes e formações de algum modo se podiam cruzar, como sempre aliás amigavelmente se cruzaram de diversos outros modos ao longo de uma camaradagem que já leva quarenta anos.

No que ao facto dos fatos vestidos poderem ter sido demasiado cheios “de luzes”, apenas mais próprios para certas “faenas” ou por demais domingueiros e engravatados para dias de semana ou estação calmosa, – depende –, porquanto também para outras coberturas e descomposturas poderão os mesmos ser úteis e bem adequados … – para mais numa terra, como a nossa – aonde – e como não havia de ser? – apesar dos humildes leitores comuns do DI e do DA não serem tão pouco ilustrados ou iletrados ao ponto de não perceberem ao menos alguns dos passos e passes fundamentais das ditas longas corridas discursivas em arraial jornalístico, ou no remanso dos seus lisinhos areais ilhéus aonde a contenda acabou por espraiar-se mansamente, – julgo que, apesar disso, o meu texto sobre o Dr. Caetano Tomás não deixou de ser minimamente percebido em partes e por faixas significativas, espero eu, embora tendo sido realmente dirigido em primeiro lugar ao meu (apesar de tudo) velho camarada e amigo Luiz Fagundes Duarte, e a outros tão bons, intelectualmente habilitados e linguisticamente tão entendedores quanto ele…

– Agora que o dito quase “ensaio” e a respectiva temática pudessem (e se calhar devessem mesmo) ter ido preferentemente para outra publicação (uma Revista, talvez “académica” ou de circulação mais cingida…), estamos de acordo. Mas mesmo assim, desta vez, não foi; ficará para a próxima, se Deus quiser, já que o assunto é bem mais sério e complexo e grave do que possa parecer à distância, e até ganhou foros de incontida agressão pessoal (como ainda ontem o Dr. Caetano Tomás testemunhou aqui, e que até valia a pena apurar se viola alguma lei ou cai em foro criminal vigente)!
Porém, voltando ao nosso âmbito, achei sinceramente que os leitores do DI e do DA tinham direito a ver a questão tratada de forma mais sistemática, não aligeirada (embora, na verdade, sob um discurso um pouco tecnicamente formulado…) nem arrepiantemente apenas panfletária (embora ainda um pouco farpeante, conceda-se).

De resto, estando em português escorreito – sem falsa modéstia e sem recurso a nenhum latim –, apesar de tudo, parece-me que O Complexo de Salomé se apresenta minimamente acessível ao tal leitor comum e com tempo para ler pensando, porquanto, aos outros, aos fora do comum, embora exigindo-se-lhes menos pesquisas vocabulares e exegéticas, nem por isso, com certeza, lhes faltou o entendimento devido e acrescido para a respectiva intelecção alargada, como se depreende do que o Dr. Cristóvão de Aguiar inferiu (e em parte ficcionou…) com base numa certa realidade dura e crua, salpicando-a ainda com aquela sua, felizmente desperta, crítica, tão proverbial, conhecida e criativa verve, – talentos e valores que outros açorianos, por cá e nos subterfúgios de uma apenas vagamente castiça e penosa “insularidade” intelectual literária, mental, social e política, sem estilo algum, teimam em cultivar e deixam vegetar à sombra da bananeira ou de algum paradigmático guarda-sol nas toiradas de muita da nossa cinzenta e nublada insularidade retórica, poética e cultural…, porquanto, a estilos e conteúdos às vezes mais difíceis, trabalhosos e complexos – como os dos nossos dois tão honrosos Prémios Ricardo Malheiro Dias (Vitorino Nemésio e o próprio Cristóvão de Aguiar…) – alguns os perderam e outros nunca os possuíram, como de resto o Dr. Cristóvão de Aguiar, de modo corajoso e desmistificador tem podido constatar e denunciar!

– Agora, não posso deixar de recordar que aquela imagem do toureiro veio mesmo a propósito, ou não tivesse eu invocado o “campo pequeno” (para onde alguns revolucionários, do antigamente e de alto gabarito, tanto regalo teriam tido em ver bandarilhada e enfiada a reacção, e não sei se apenas a tridentina, talvez para verem os seus julgados próceres, sem julgamento isento, de orelhas decepadas ou rabo cortado para troféus rumo a não sei que vitória democrática e emancipadora…

Por mim, quando era rapazinho novo – mas esse tempo lá vai, infelizmente – também adorei touradas, especialmente as de corda (até levar uma valente raspadela de corno nas costas e sentir o bafo quente do toiro à perna, lembro-me bem, ao dobrar a esquina do velho Império nas festas do Porto Martim…), sem (des)primor para as “eruditas”, de praça, que presentemente me amarguram bastante e nas quais o que sempre mais me apaixonou foi a fantástica e nobre plástica dos movimentos encantatórios da lide dos cavalos, que também montei e alegremente os passeei por esses caminhos e canadas da Terceira, não fosse esse o meu signo chinês (não maoista…) e a minha mais fascinante e tentadora recreação de outrora, em sela portuguesa, estribo de caixa-galocha e sem esporas, rente ao joelho o calção/rente à rédea o coração

– Mas isso já não são contas deste rosário de questões tristes, nem apenas de estilo para estas trocas de amigáveis e fraternais ideias que optei por partilhar com Cristóvão de Aguiar nestas públicas páginas de jornal... Porém assim, creio eu, ficamos agora mais entendidos quanto a este caso passageiro, evidentemente na mútua estima e em idêntico reconhecimento das verdades ditas e justamente consentidas, e sem qualquer ressentimento pessoal, como não podia deixar de ser, com toda a franqueza e frontalidade, entre nós.
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 13.06.2012),
"Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 14.06.2012),

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Texto de cristÓVÃO DE AGUIAR:
A PROPÓSITO DE ESCRITOS SOBRE CAETANO TOMÁS
Uma questão de estilo

O Dr. Ferraz da Rosa escreveu dois artigos para o DI de hoje, Sábado, 9 de Junho. Um deles é mais um ensaio de alto coturno (muito palavroso, ou, melhor, inçado de palavreado de alto quilate) em que se espraia em sabedoria e exegese sobre um mar imenso de problemas que um leitor comum não pode entender.
E bem bom que assim tivesse sido, porquanto esse presumível leitor nem conseguiria adivinhar que estava perante um escrito que, com certeza, abandonou, bocejando, às primeiras linhas, escrito esse que se pressupõe ser de defesa do indigno sacerdote Caetano Tomás e de ataque ao Dr. Luiz Fagundes Duarte, cujo artigo publicado no Domingo passado é arrepiantemente lúcido e no qual se debruça sobre as atoardas psicológicas de um sacerdote que ainda vive debaixo da asa do Concílio de Trento ou da Santa Inquisição.
O outro artigo do Dr. Ferraz da Rosa, publicado na última página, já se pode considerar um bom texto jornalístico, muito interessante e entendível por qualquer leitor atento. Escrever prolixa e obscuramente pouco custa. Fazê-lo, porém, com simplicidade, clareza e sem alardes de erudição (a cultura será outra coisa bem diferente), dá muito mais trabalho e requer mais tempo. Alguém, após proferir um longo discurso, terminou a sua leitura, pedindo desculpa e adiantou que não tivera tempo de o fazer mais curto...
Foi pena que o Dr. Ferraz da Rosa, intelectual de primeira água que admiro, não tivesse tido tempo para escrever o seu "ensaio" mais curto, numa linguagem mais viva e menos recamada de lantejoulas, tal qual um fato luces de toureiro...
Num periódico fica tão mal como um veraneante vestido de fato preto e gravata em plena praia. Num livro de ensaios, e após alguma poda, ficaria melhor, dir-se-ia no lugar certo. A linguagem escrita tem de se adequar à situação. Antigamente, e não sei se hoje em dia, certos fiéis gostavam tanto mais das homilias ou dos sermões quanto menos os compreendiam. "Percebeste alguma coisa?" "Não, não percebi, mas o senhor padre falou tão bem, até Latim... Consolou a ouvir..."


domingo, junho 10, 2012

As (des)construções da Região




As declarações do primeiro-ministro e líder do PSD sobre as exemplares e resignadas virtudes da paciência (ou de submissão pacífica e pacificada?) – que o povo português, segundo ele, tem vindo a demonstrar perante a crescente tortura de vida, a situação de transe (como muito bem a classificou Medeiros Ferreira) e a galopante agonia económica, social, laboral e psicológica em que o país vive –, tornaram a ultrapassar os limites do razoável e do decente, tanto mais quanto se revestem de uma hipocrisia moral e política de que não há memória tão insultuosa e cínica nos tempos da Democracia, e que até parecem realmente saídas daquela obscura, triste e opressiva era política que dominou Portugal até ao 25 de Abril!

– Revelando, mais uma vez, completa ausência de senso e tino de linguagem, no que amiúde se assemelha ao pior dos talentos e à fria desfaçatez do seu ministro Relvas (figura, de resto, a quem tem, partidária, executiva e parlamentarmente adubado com uma piedosa cobertura, só equivalente ao brilho confiante e confiado que baila agora no olhar vivaço, conquanto algo petrificante e reptilário, desse seu homem de mão…), Passos Coelho conseguiu logo reacender fogos e graus de indignação, suscitando até desejos de apelo à revolta (mansa, por enquanto, mas na rua…). 

E um Bispo católico foi até ao ponto de dizer que os nossos concidadãos estavam a ser tratados como “povo amestrado” e “tão dócil que merecia estar num jardim zoológico”…

Ora estas trocas de mimos chegam numa altura em que no PSD cresce a divisão e mais vozes desafinam da política económica, social e salarial do governo/troika, como se viu a propósito dos últimos alvitres de António Borges e Vítor Gaspar.

– Assim sendo, é fundamental que a agora emblemática vontade de construção (análoga à nacional?), pelo PSD, dos Açores como “região económica”, seja mesmo competente e efetivamente complementada e garantida, pelo e com o PS, como Região também socialmente justa!
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 09.06.2012): http://www.diarioinsular.com/

sábado, junho 09, 2012


Uma Diegese Discricionária
ou O Complexo de Salomé


Já depois de escrito e publicado o meu texto “As máscaras do Parlamento”, pude ler, no “Diário Insular” (03.06.2012) e no Facebook, um artigo de Luiz Fagundes Duarte (LFD), a quem eu havia nomeado devido a uma primeira apreciação crítica que ele expressara sobre o afastamento do Dr. Francisco Caetano Tomás (FCT) da lista de personalidades a serem honorificamente distinguidas pela ALRAA.
A história é bem conhecida em todos os seus momentos e torpes percursos – desde a Presidência da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) à conferência/comité dos líderes parlamentares – e consta de um imbróglio que levou a que, do primeiro e aprovado elenco de honorificáveis, o nome de Caetano Tomás – proposto pelo PSD, partido que integra também a Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho (CAPAT) da ALRAA e que depois viria, pusilânime e impudicamente, a retirar e deixar cair a sua própria proposta! –, acabasse assim por ser liminarmente saneado por todos os restantes partidos, devido a chantagens do BE e com argumentos baseados numa denunciada discordância doutrinal de FCT, – sendo pois e por isso que o citado ato político-parlamentar, por móbil de um tipificável delito de opinião, configurou um arbitrário julgamento condenatório, uma inadmissível punição cívica e uma censura global à pessoa, trabalho e méritos de toda uma longa vida e vasto currículo (conquanto ignorados (?) ou intencionalmente estigmatizados por alguns dos manietados, ingénuos ou ressabiados avaliadores inquisitoriais e comissários do nosso mui ilustrado e democratíssimo Parlamento…).
– Mas note-se que essa leviana censura pessoal e político-institucional assentou também, conquanto distorcidamente, em emblemáticas, fraturantes ou (até mesmo…) angulares causas e pautas eleitorais de certos círculos e tendências partidárias (verbi gratia nos complexos, duplos e parcialmente díspares fenómenos da Homossexualidade e no sempre indiscutivelmente traumático e criminoso caráter predatório de toda e qualquer forma de Pedofilia!), todavia querendo fazer-se parecer que esta última perversão (de facto e amiúde histórica, individual e institucionalmente encoberta em múltiplos setores!) não teria sido bem denunciada e repudiada, por FCT, em toda a sua coimplicada dimensão e profunda dramaticidade psicoexistencial e ontológica (efetivamente reais e que ninguém poderá negar, mas que ninguém, que se saiba, absolveu…), no aludido artigo de opinião publicado em “A União”, e isto – conceda-se aqui – devido a discutíveis, controversos e redutores delineamentos esquemáticos e categorias psicologistas que estruturam e determinam a particular conceção do aparelho psíquico, a fenomenologia do psiquismo, a sistemática diagnóstica e os modelos etiológicos, psicopatológicos, sociais, morais, terapêutico-comportamentais, e – por essa via – filosófica e cientificamente disputáveis, do quadro teórica e metodologicamente seguido pelo Dr. Caetano Tomás.
– Acontece porém, como o próprio LFD teve já oportunidade de certificar, que as suas primitivas leituras do caso mudaram e inverteram-se entretanto radicalmente, de modo que aquilo que começara por ser indignação pela reconhecida e condenada censura ao “Pai Tomás” – como ele apelida o octogenário sacerdote… – acabou por transformar-se, de repente, num espantoso disserto de encobrimento e justificação dos insólitos procedimentos dos tribunos regionais (com relevo para os do PSD e do BE) e, ainda por cima, através de uma violentíssima navalhada à idoneidade e às teorias da “cabeça do Pai Tomás”…
E é precisamente essa reviravolta e o conteúdo da novel trama argumentativa de LFD, devido ao seu mais duro e puro recorte discricionário e persecutório, que não posso deixar de repudiar vivamente, entre outras, pelas razões seguintes:
– LFD, para agora contraditar, quase retratando-se e subscrevendo (e, pelo revistos, mais supramente e em progressão geométrica até abonando) a vergonhosa atuação censória (por especial culpa do BE e do PSD) consumada pela ALRAA – que, essa, enquanto tal, não sei se continua ou não ainda (?) a ser vista segundo o mesmo antes ponderado juízo… –, foi citar uma Conferência daquele sacerdote, realizada na Praia da Vitória, mas fazendo-o a vesgo golpe de memória e com caprichosa torção do corpo diegético avocado, tanto mais quanto as frases e ideias supostamente expressas pelo Dr. Caetano Tomás constam de um texto escrito e do confluente contexto de uma exposição problematizadora, comentada à própria margem e com recurso a diversos gestos e figuras de estilo
Mas acontece ainda que essa Sessão “oficial” (como LFD fez sibilina questão em adjetivar), ocorrida em 2009 – não “há uns dois anos”, portanto – e à qual também assisti –, teve lugar no dia 1 de dezembro, na “Casa das Tias”, foi promovida pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), em parceria com a Câmara da Praia da Vitória, tendo o Orador convidado – por mim (como Delegado da SHIP nos Açores) – desenvolvido o tema A Restauração de Portugal à luz dos Factos Psicológicos da Atualidade Portuguesa.
É claro que do texto de LFD, subliminarmente intitulado “A cabeça do Pai Tomás” muito haveria a dizer, tanto pelo que nele pode retinir da obra antiesclavagista de Harriet Stowe (A Cabana do Pai Tomás), quanto pelo que poderia revelar a partir da análise de um hipotético Complexo de Salomé, ali em recalcada dança pulsional e com alguma espelhante bandeja sacrificial aonde se pedia, ou recomendava, a exposição (transfer psicanalítico?) da parte mesma – metaforizada, bem entendido… – de um corpo/órgão humano mentalmente decapitado ou a decapitar
– No entanto, não deixa de ser curioso que aquela imagem (“cabeça do Pai”) tenha sido acionada e retida, vá lá saber-se se em subconsciente e equívoca paráfrase de projeção ou mimética aplicação possível a vastos campos lexicais e semânticos da Moral e da Ética, ou conforme os paradigmas subjacentes a determinadas mitologias sociopoliticamente expiatórias, a outras possíveis categorias analíticas ou noutros registos narrativos, – tais os daquela história bíblica de Herodias, Salomé e João Batista… –, para já nem chegarmos às formas, não só simbólicas quanto tragicamente reais, de alguma da nossa modernidade concentracionária (desde antigas e aterrorizantes guilhotinas revolucionárias a sevícias e assassinatos, esses sim, precisamente vigentes em regimes fascistas e hitlerianos, e também intrínsecos aos gulags soviéticos ou maoistas e a ditaduras terceiro-mundistas, tal como, em escala variável, em todas as tentações, práticas e sistemas totalitários, – alguns deles que inspiraram, ainda bem perto de nós e formalmente, idênticos campos pequenos, ameaças de terror e condenação à morte física, psíquica, cívica e societária, por meras razões de dissidência, “desvio” intelectual ou direito à diferença de opinião, ideologia, credo, sexo, raça, religião, cultura e mesmo até por simples desalinhamento partidário
Quanto a tudo isto, porém, fiquemos por aqui, até porque, como LFD também saberá muito bem, sempre devemos estar todos bem atentos à forma como as repressões e as discriminações começam, porquanto nunca sabemos até onde é que os algozes e os mandantes serão depois capazes de ir!
– Agora, que as palavras postas na boca e na cabeça do Dr. Caetano Tomás possam corresponder a uma real enunciação apologética de verdades ortopráticas, ou pertencer a qualquer prédica legitimante da Pedofilia, lá isso não!
E surpreende-me e indigna-me bastante que uma pessoa com a proverbial e justamente honrosa estatura intelectual e académica do meu amigo Fagundes Duarte tenha sido capaz de chegar a tal extremo de deturpação política e conceptual de registos e níveis de discurso, enviesando não só a respetiva intencionalidade lógico-argumentativa quanto até os seus sentidos ideográficos, ainda abusivamente tão (mal) manipulados e depois iconograficamente mimados com a cancela e a chancela de Auschwitz
– E isto para nem falarmos das omitidas questões disciplinares, histórico-curriculares, científicas e letivas que marcaram, nas Faculdades, Institutos e Laboratórios, a progressiva especialização e a autonomização da Psicologia (escolar, vocacional, clínica, etc.), nomeadamente por relação à Filosofia e à Medicina (problema que fundamentalmente nasceu e entronca, ainda hoje, também numa disputa corporativa, técnico-profissional e histórico-científica sobre as requeridas habilitações formais para os respetivos exercícios, a par das sistemáticas e bem mais profundas discorrências críticas sobre a dimensão antropológico-cognitiva (e até linguística…), – enfim – especialmente desde Freud até Lacan, mas afinal ainda e pelo menos desde Aristóteles e até Jaspers, Frankl, Dolto, Frye, Bettelheim, Kristeva ou Ricoeur… (como LFD, ao contrário talvez de alguns dos nossos deputados insulares, tinha obrigação académica e cultural de não ignorar!), a par das deliberadas e indevidas confusões feitas entre trabalho/valor/ocupação/ócio infantil e trabalho infantil “forçado” (ou explorador do mesmo como mão de obra escrava ou barata); entre uma alegada (mas falsa) deteção de retórica apologética de Pedofilias predatórias em FCT e a sua concreta e diferenciada casuística individual, psicossocial, institucional e moral – só aí então como efetiva e possível (des)culpabilização generalizada e simultânea de algozes e vítimas (e/ou das suas induzidas ou causais conjunturas e estruturas motivantes conjuntas…), – para daí chegar-se até àquele medonho, retroativo e sistemático libelo impugnatório que sobre e contra toda a carreira profissional e exercício docente, competência disciplinar e científica, capacidade e idoneidade pedagógica e pastoral de FCT é lançado, vai um grande e arriscado arco, – e de tal modo que LFD chega, sem escrúpulo, a arremessar temerariamente isto ao Padre Caetano Tomás: – “com a agravante de se tratar de uma profissão que interfere com a saúde pública” (sic)!
Pior do que isso, francamente, nada poder-se-ia ter escrito, dito ou feito, nem sequer como cantiga de escárnio! Mas foi mesmo assim que LFD – tão ativo ex-deputado na era das lojecas partidárias do José Sócrates e em cuja qualidade, aliás, na altura, se deslocou à citada cerimónia na Praia da Vitória) –, lá foi para ouvir somente o que quis, como quis e aquilo que, passados estes anos, extravasa hoje como lhe dá jeito ou gozo. Ou então, igual a isso – embora, confiemos, já sem LFD nessa confraria – só a “informação” que, num outro mas similar misto de relatório biográfico e pidesco cadastro ideológico-político, em reincidente falta de fiabilidade e transparência, alguém (anonimamente, por enquanto…) colocou, au point, na entrada (denunciadamente corporativa…) de uma ficha da Wikipédia – que só se acredita lendo! – sobre o Padre Caetano Tomás…
– Todavia e por ora fecharei mesmo aqui a porta a tanta trafulhice, continuando todavia de pena pronta para o que der e vier, neste medíocre, perigoso, incerto, cínico e opressivo tempo! E sem cabeça a prémio, espero eu, livre e inteligentemente no devido lugar, com olhar atento e sorriso sereno e aberto, mas… sem chapéus de palha à moda, tão gémea nos seus extremos, da Cuba de Fidel Castro ou do Chile de Pinochet, nas redes e enredos da loucura desencabeçada e irresponsável da politiquice caseira!
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Em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 09.06.2012): http://www.diarioinsular.com/,
“A União” (Angra do Heroísmo, 09.06.2012): http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=28287,


domingo, junho 03, 2012


As máscaras do Parlamento:
Ideologia, Censura e Miopia



O processo que envolveu o inicial anúncio público e a posterior exclusão liminar do Reverendo Padre Dr. Francisco Caetano Tomás da lista de personalidades agraciadas este ano com Insígnias Honoríficas Açorianas tem merecido algumas assinaláveis tomadas de posição – das quais relembro as do Prelado, do Vigário Geral da Diocese e do Clero e Ouvidoria da ilha Terceira, as reações frontais dos jornalistas Armando Mendes (“Diário Insular”) e Manuel Moniz (“Diário dos Açores”), ou a afim indignação do meu velho amigo e camarada Luiz Fagundes Duarte …–, embora, infeliz e incrivelmente, a par de muitos acobardados e sintomáticos silêncios ou cúmplices silenciamentos institucionais, mediáticos e pessoais…

Porém, a insólita história desta façanha político-parlamentar regional – que comprometeu em primeiro e patente lugar todo o elenco – visualizável em http://www.alra.pt/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=255 – da Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho (CAPAT) da ALRAA e a igualmente famosa, determinante e enjoada missiva da deputada Zuraida Soares (BE) – é já suficientemente conhecida nos seus contornos básicos, desde a preambular publicitação dos honorificáveis nomes até ao respetivo e derradeiro placet institucional, passando decisiva e formalmente pela apreciação ao conteúdo do Projeto de Resolução nº 22/2012 (entrado na ALRAA a 24 de abril último, por assinada e assinalável “iniciativa de Sua Excelência o Presidente da Assembleia Legislativa […] e dos Grupos Parlamentares do PS, PSD, CDS/PP e BE e das Representações Parlamentares do PCP e do PPM”), sendo então – como é de arquivar para memória futura – líderes desses agregados, respetivamente, os seus pares Berto Messias, Duarte Freitas, Artur Lima, Zuraida Soares, Aníbal Pires e Paulo Estêvão, enquanto que – por outra banda – integravam a CAPAT os seguintes deputados (cujas biografias e currículos muito proveito daria cotejar com os de outras agraciadas figuras e medalhadas personalidades da vida e da sociedade açorianas…). No entanto, lá os tivemos assim:

– Do PS: Hernâni Jorge (Pres.), Isabel Rodrigues (Relat.), António Parreira, Bárbara Chaves, Carlos Mendonça, Francisco Valadão Vaz e José Ávila; do PSD: Luís Garcia (Secret.), Clélio Meneses, José Francisco Fernandes e Paulo Ribeiro; do CDS/PP: Luís Silveira; do PCP: Aníbal Pires, e do BE: Zuraida Soares (participante “sem direito a voto”…).

Ora o vomitado saneamento do octogenário sacerdote, psicólogo e professor – cujas orientações e fundamentações teórico-disciplinares, epistemológicas, técnico-metodológicas, psicocomportamentais, científicas e de filosofia moral não cabe aqui sistematicamente esmiuçar nem confrontar, e que, ao que se imagina, nem ali na CAPAT terão estado em escorreita leitura e análise de contraditório (muito embora até fosse curioso vê-las discutidas pelos ditos comissários, a começar pelos provenientes da Terceira, ou por algum daqueles que eventualmente tivessem sido seus alunos no Seminário ou em outra qualquer Escola… –, foi proposto, assimilado e subscrito por todos os partidos com notória base em tendenciosos argumentos de desvio, discordância ou configurável delito de opinião, abrangendo, distorcidamente aliás, algumas das paradigmáticas causas e pautas fraturantes em certos círculos (verbi gratia os complexos, duplos e parcialmente díspares fenómenos antropológicos, bio-psico-societários, afetivos, morais e jurídico-políticos da Homossexualidade e a sempre irremissível, traumática, pecaminosa e criminosa tara patológica e predatória de toda a Pedofilia!), evidentemente porque se quis fazer aparentar – concedemos aqui – que esta última perversão violentadora de crianças até pode parecer não ter sido efetivamente bem perspetivada, em toda a sua dimensão e profunda dramaticidade psicoexistencial e ontológica, pelo algo esquemático diagnóstico psicologista do Dr. Caetano Tomás…

– Mas também digo isto por, nas rebarbativas hostes libertárias locais de alguns setores, não se vislumbrar a mais pequena estrelinha de autoridade derivada de uma, outra que fosse, anterior, reconhecida ou exemplar impugnação e resistência ideológica e prática à opressão, à violência e à exploração (ou a quaisquer outras e diferentes formas de perversão humana, antidemocrática e anticristã …), e porque foi, claramente, por um assumido e puro móbil censório que a tal bem caçada (pelo DI) cartinha do BE foi enviada, chegou e prosseguiu incontestada na presidência da ALRAA…, para embaraço de mão e face, ou a temeroso contragosto de um previsível escândalo a seguir-se àquele hipócrita e dissimulado golpe desferido à má e à falsa fé!

De resto, muitos dos ditos deputados regionais, que se armaram em juízes dos (de)méritos de Mons. Caetano Tomás, nem deste precário e contingente mundo teriam sequer visto a luz natural, ou por cá antes e ainda andariam de fralda e bibes pueris, quando já ele estudava, refletia e ensinava Filosofia, Psicologia, Teologia, Matemática, Línguas e muitas outras Ciências e Humanidades…

– Contudo, e até por nisso, a deputada bloquista foi mesmo coerente com o que o dela, desde há muito, se esperava e ideologicamente afinal tornou a revelar (embora nem ética nem, muito menos, intelectualmente esta sua rasteira atitude de denúncia e chantagem fosse de imaginar como possível agora, a frio e à socapa!). Todavia, para quem até já num Congresso do PS fez convidada oração “de sapiência”, que a “isca e a bisca” foram taticamente servidas desta feita na ponta da língua e de boca cheia, quais esquinadas e inquinadas pedras de arremesso para um pântano de sapos inchados e coaxantes rãs, como nas fábulas, lá isso verificou-se mesmo…

Quanto aos outros, novatos ou ressabiados politiqueiros, entre inocências perdidas, ademanes e ressentimentos subliminares, logros, desconhecimentos e enviesamentos de pasmar o mais estúpido dos votantes, à mistura com azedos ou toscos refluxos de ignorância e com uns salpicos de falsas, imaturas ou malsãs mentalidades, – nem sequer talvez se tenham apercebido do perigoso e imprudente precedente que estavam escancarando, e da hipoteca que, acrescida e levianamente, sobre a herdada e transmissível honorabilidade democrática e cívica do Parlamento Regional, e das suas próprias e mascaradas consciências privadas, estavam vazando!

– Todavia, dentre estes últimos, os casos do PSD e do CDS/PP ainda são mais surpreendentes e graves, porquanto sobremaneira denunciam uma indesculpável, autogerida e inusitada ausência de senso interpretativo e de memória histórica, a par de uma assustadora e repugnante subserviência moral e cultural, sem hombridade, nem gratidão, nem apreço, nem respeito de espécie alguma pela pessoa visada e pela sua inteira e longa vida de trabalho e serviço nas nossas comunidades, famílias, escolas, Igreja, e a muitas outras pessoas e instituições até bem próximas desses partidos…
Finalmente, entristecedor foi também ver alguns atores do PS terem perdido mais uma oportunidade para estarem liderante e consensualmente à discernida altura das suas exigíveis e imparciais responsabilidades, e dos seus mais nobres e autênticos ideais, separando as águas da lama, sem aquela incauta miopia suicidária, seguidista ou revanchista que primeiro ensandece a justa e equilibrada visão das coisas e depois obscurece leituras compreensivas dos factos políticos e dos sinais humanos, deixando de seguida arrastar e puxar pobres cegos e guias néscios para o mesmo escuro precipício dos seus adversários externos e dos seus próprios e não superados demónios interiores, ambos porventura psiquicamente recalcados e partidariamente reprimidos!

– E que pena tudo isto ter terminado real e simbolicamente assim e sem glória, porquanto ninguém merecia semelhantes ultrajes, tamanhas desonras e afrontas infames! E logo para o mais solene, comemorativo e irmanante Dia da Autonomia das nossas ilhas dos Açores, sob a exigente égide (ou retórica etno-política somente?) da partilha limpa e generosa dos únicos e legítimos Dons do Espírito Santo…

P.S. - Já depois de escrito e publicado este meu texto, pude ler na Revista de hoje (Domingo, 03 de Junho de 2012) do jornal angrense "Diário Insular" uma Crónica de Luiz Fagundes Duarte intitulada "A cabeça do Pai Tomás" (Folhetim 577), sendo que a mesma também já foi introduzida e divulgada por esse meu amigo na rede social do Facebook. Atendendo ao carácter muito controverso do conteúdo desse artigo - do qual discordo totalmente -, não deixarei de o comentar em posterior ocasião.
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Publicado em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 3 de Junho de 2012),
RTP-Açores:  http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=27244&visual=9&layout=17&tm=41,
Azores Digital: http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2231&tipo=col.
e "A União" (Angra do Heroísmo, 05.06.2012): http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=28235
Versão reduzida em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 2 de Junho de 2012).