sábado, agosto 04, 2012


As Espumas da Praia


Na ilha Terceira, as Festas da Cidade da Praia da Vitória tem um historial mais ou menos vasto e conhecido, apesar de reincidentes omissões e de pequenos e forjados mitos que – amiúde – rodeiam certas e (des)ajeitadas narrativas individuais e algumas protocolares e retóricas evocações institucionais (demasiadas vezes feitas conforme vai convindo aos conjunturais, variáveis e mutáveis interesses de indivíduos e grupos hegemónicos na vida política, associativa, comercial e económica dessa antiga, nobre Vila e sede do Concelho do mesmo nome).

O caso, de resto, não é exclusivo dali e bastaria aliás uma simples compaginação dos seus aproveitamentos e sucessivos programas, discursos, comissões, orçamentos, propagandas, divulgações promocionais, feiras, reportagens e imagens documentativas ou publicitárias para fazer-se uma ideia mais rigorosa e proporcionada dos seus a seus donos e donas, e das respectivas e reais aferições de custo-benefício ou contrapeso de despesa-investimento-ganho a diversos níveis de avaliação quantitativa e qualitativa

Porém seja lá como for – até porque não será esta a ocasião adequada para balanço das contas desse rosário – a verdade é que as chamadas “Festas da Praia” vem gerando uma notória e crescente expectativa, tem efectivamente granjeado uma medrante popularidade na ilha, alcançaram um significativo impacto regional e junto das nossas comunidades imigradas, e conseguiram pontuar alguma inovação e qualidade estética (especialmente nos seus Cortejos e Marchas) que é justo registar e salientar, apesar do esbatimento ou inexistência de muitas outras, desejáveis e regulares componentes que uma regrada programação festiva, sociocultural, artística e lúdica deste (digo, de outro alternativo ou, pelo menos complementar…) jaez vem reclamando desde há demasiado tempo!

Todavia, de todo e qualquer modo, estas Festas parecem mesmo conseguir avivar uma genuína e ciosa intuição de pertença memorial e de dilatada identificação espácio-temporal de e entre os Praienses, envolvendo-os a todos e àquelas num particular sentimento saudoso (embora nem sempre muito criticamente consciencializado, mas que por si só é positivo, humanamente compreensível e acaba justificado).

– E como não haveria de ser assim? – quando, para além do mais que fica para outra Crónica –, como dizia um dos seus filhos mais afectiva e intelectualmente pródigos – “bendito seja o deus do encontro, / O mar que nos criou […], Pois fica-se sabendo/ Que da espuma do mar sai gente e amor também”…
________________

Publicado em:
“Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 05.08.2012) – http://www.diariodosacores.pt/n/
Outra versão em:
“Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 04.08.2012) – http://www.diarioinsular.com/