sábado, janeiro 07, 2012

Os Fantasmas do Futuro

Nos últimos dias e em quase todos os OCS do País, três acontecimentos constituíram motivo noticioso de primeira página e análise e discussão política, económico-financeira e socioculturais generalizadas; a saber:

– A compra de parte decisiva da EDP pela China (cujos ricos olhos em bico não deverão ser em nada piores do que as sujas mãos em gancho de muita da agiota banditagem nacional que tem surripiado a Nação!); a transferência de ações, com a correspondente gestão do reenquadramento fiscal e reinvestimentos da Sociedade FMSantos (detentora de 56% da Jerónimo Martins) para a Holanda, e – finalmente – o caso dos conúbios entre as Secretas portuguesas e as diversas manigâncias político-partidárias, empresariais e parlamentares de alguns “irmãos” de determinadas lojas e tendências da Maçonaria.

Entretanto, a nível regional, vimos acentuarem-se os conflitos de interesses (e de desentendimentos…) à volta da constituição e dos projetos do pendente grupo de consulta e estudo do Serviço Público de informação e comunicação social (afinal e mais precisamente da RTP-RDP-A, pois é desse conjunto audiovisual que verdadeiramente se trata), enquanto se assistiu à patética e renitente dança de indigitações e impugnações de nomes e miúças entre comissões e com os partidos, o investigador e jornalista (independente) Armando Mendes, o jovem economista (social-democrata) Célio Teves e a advogada Maria Mesquita Gabriel (ex-consultora jurídica da PGR, ex-jurista do Tribunal de Contas e atual sócia da Sociedade Paz Ferreira e Associados).

Ora se quanto ao segundo tema haveremos de voltar mais tarde, agora quanto ao primeiro não deixará o mesmo de poder fazer recordar e refletir historicamente sobre as seculares relações comerciais e as pioneiras (e já então estratégicas) parcerias luso-chinesas (remontando ao século XVI, com o paradigmático acordo efetuado por Leonel de Sousa…), passando depois, nos séculos XVII e XVIII, face à decadência dos impérios ibéricos e à reconstituição das hegemonias europeias, pelas conhecidas concorrências bolsistas, mercantis e militares entre Lisboa e Amesterdão (e depois por Paris e Londres, porém aí em trânsito explosivo para Berlim e para as Revoluções e Guerras do século XX…), e atravessando, entre nós, os dias da ira republicana de 1910…

– De facto, embora a História realmente não se repita nem tenha terminado, a verdade é que muitas das sombras e medos do passado continuam a evocar e a convocar os fantasmas e os pesadelos do nosso próprio futuro.
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Publicado em "Diário Insular" (07.01.2012), "Diário dos Açores" (08.01.2012) e Azores Digital