sábado, janeiro 28, 2012

Causas Públicas e Manipulação de Massas


Há muitas formas de manipulação, alienação e exploração, mas uma delas, que se torna cada vez mais usual, é a de, em nome de uma alegada discussão, diálogo, apresentação e debate isentos, assumidos e transparentes de causas – amiúde efetivamente opostas –, logo à partida cair-se na tentação de proceder a uma mais ou menos velada manipulação das razões mesmas que a tais móbeis e seus agentes ou atores assistem…

– Porém, entre todos os campos sociais públicos aonde tal manipulação de causas é mais escandalosa e gravosa para a formação de uma opinião livre (também pública, mas esclarecidamente culta…) releva o dos OCS, nomeadamente daqueles que se inserem na tão exigente função de Serviço Público, e tanto mais
assim quanto ele e os seus essenciais conteúdos são exercidos e veiculados através de instrumentos mediáticos e mediadores tão poderosos como a Rádio e a Televisão!

Por outro lado, nem todos os Jornalistas – tantas vezes indevidamente sujeitos a múltiplos condicionamentos de ordem técnica, deontológica, profissional e de carreira – conseguem resistir à proverbial serventia dos interesses dos poderes hegemónicos que nesses órgãos e aparelhos do Estado conjuntural e diacronicamente se instalam e entrecruzam, sendo até muito comum, lá na gíria do meio, toda uma jogatina, sempre pouco limpa, daquilo a que vulgarmente se designa “de fretes”, frequentemente a troco, como é sabido, de prebendas várias e até, por vezes, à descarada cata de miríficos (en)cargos confluentes, mesmo que provisórios e promovidos “à Peter”…

– E isto, como é evidente, a par de outras modalidades de pequenos (e grandes!) “préstimos”, jeitos e trejeitos, assentes em diversas, sub-reptícias e subliminares estratégias de manipulação de informação, mensagem, ideias e sentidos do real e dos valores (desde os ideológicos ou político-partidários aos tacitamente promocionais de nomes, lobbies, confrarias, tertúlias e figuras institucionais ou particulares…).

Neste contexto, sem dúvida, é que podem e talvez devam também ser lidas as múltiplas, complexas e controversas questões que tem girado, de novo nos últimos dias, nos arraiais e redondéis locais, desde as primárias, castiças ou patéticas arremetidas, faenas e capotazos de arribação às mais ética e epistemologicamente confusas, híbridas e abstrusas teorizações de algumas (para mais, imponderadas e contraproducentes!) etnografias e biopolíticas de chocalho, vara e estoque, histórica, filosófica e tipicamente retrógradas, quando não mesmo reacionárias!
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 28.01.2012), "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 29.01.2012),