sábado, setembro 01, 2012

O Poder das Teias


Em finais de Novembro do ano passado, tive oportunidade de publicar nestas páginas um texto intitulado “As Colunas do Poder”, onde registava a grande notoriedade – especialmente em importantes OCS nacionais – que haviam então merecido conjugadamente a Maçonaria e a Política lusas, numa “significativa, ampla e desusada abordagem, à qual não faltaram muitos dos atraentes motivos e ingredientes que sempre estiveram, e ainda estão, associados àquela aureolada instituição”, não deixando de reparar ainda que causava alguma estranheza o facto de ser precisamente em época de crises generalizadas que entre nós esses temas tivessem sido trazidos ao espaço e ao conhecimento da generalidade da opinião pública da forma como o foram, sendo porém que o que mais terá motivado muita da oferta de tal produto mediático fora certamente o rol de nomes dos “irmãos” por ali e na ocasião elencados como pertencentes à dita associação secreta, – para além, naturalmente, do facto de tal tema ser mesmo apaixonante, revestindo-se de inusitados alcances, directos e indirectos, para o estudo da História e das Mentalidades.

Ora agora, conquanto nada disto sendo novidade de maior, cá vemos outra vez o assunto nas manchetes dos OCS e nas redes sociais, só que desta feita com a divulgação confluente, no Blogue “Casa das Aranhas” (http://casadasaranhas.wordpress.com/), de uma vasta lista (cerca de 1.400 membros da Maçonaria), onde figuram, embora pela ordem alfabética divulgada apenas até à inicial “M”, nomes, provavelmente reportáveis a 2004/5, de figuras públicas nacionais e de alguns reconhecidos indivíduos dos Açores e da Terceira (v.g. na Loja “Vitorino Nemésio) …

– Todavia a relevância do caso advirá talvez, para alguns, ou da comprovação daquilo que já era de há muito mais ou menos sabido, ou então, por outro lado, conforme já afirmaram António Reis e António Arnault (antigos Grão-Mestres do GOL), devido a esta divulgação ser “muito preocupante” por assinalar uma “intrusão” no sistema informático da sociedade secreta a que pertencem, ter sido obra de um “infiltrado” ou fruto de uma “imprudência”!

Seja lá como for, do elenco dos tão ilustres maçons vindos presentemente à luz do dia creio poder tornar a concluir-se que na Maçonaria, como em todas as instituições, haverá gente de bem, de mérito e de genuína valia, a par de outros – como hoje é mais do que evidente continuar a poder ser constatado! –, cuja errática e oportunista carreira, mediocridade humana, intolerantes práticas e pérfidas jogatinas de poder, influências e fortuna serão mesmo o contra-testemunho contínuo e recorrente de quaisquer tipos de nobres ideais fraternos e humanistas (ou assim pretensamente assumidos como tal nas cabeças trianguladas e nas pedreiras brutas daquelas lojas e lojecas) …

– E depois ainda, como escrevi antes, se este é um assunto também profunda e propriamente filosófico, político-institucionalmente muito crítico e cujos contornos sistemáticos, teóricos e práticos devem ser sempre relembrados com frontalidade –, não menos importantes, fundamentais e decisivos são os problemas do secretismo institucional, do conflito de interesses e até da hipocrisia pessoal e do cinismo ético e convivencial que estão aqui profundamente co-implicados, – passando até e amiúde (ou imaginando passar…) os ditos “irmãos” a toda a restante sociedade civil e à livre comunidade cívica comum um repugnante e inadmissível atestado de menoridade mental, cultural e espiritual, quando não até a reivindicação de um estatuto de excepção, intolerável à luz da transparência social e democrática do Direito, da Justiça e da Verdade!
____________________

Publicado em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 01.09.2012):  
Azores Digital:  
RTP-Açores:  
e Networked Blogs:  
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 01.09.2012):