sexta-feira, novembro 30, 2012

Portugal a Entristecer



Escrevo esta Crónica na data em que, em 1935, morria Fernando Pessoa (Lisboa, 13.06.1888 - Lisboa, 30.11.1935), cuja família materna era de Angra e morou ali mesmo junto ao edifício do já saudoso vespertino “A União”, que hoje também desaparece dos trabalhos e dos dias desta misérrima terra!

– E como se não bastassem esses tristes faustos e efemérides, lembro-me do Vasco (da nossa velha irmandade do Pio XII; do carinho e competência com que tratou o meu filho Tiago na sua adoptiva Graciosa; da sua vinda a Angra para o lançamento da minha Poética da Memória, e do seu tão trágico e derradeiro desencanto) …

E releio a Carta dos 78 (Soares, Bruto da Costa, Siza Vieira, Arnaut, Pires Veloso, Boaventura Sousa Santos, Eduardo Lourenço, Bento Domingues, Barata-Moura, Medeiros Ferreira, Júlio Pomar, Reis Torgal, Carvalho da Silva e Maria Belo, entre muitos outros que a subscrevem), dolorosa e revoltadamente sob os signos medonhos e alegados da perda de “toda e qualquer esperança”…

E enquanto nisto penso, ouço notícias de Santa Maria, com a reconfirmação da bem real, dura e emblemática existência de crianças famintas no Hospital; das galopantes patologias físicas e mentais da população; da pobreza, dos traumas e do desemprego; do garrote dos impostos e do OE; das denunciadas tontices retóricas, prosápias e contraditórias afirmações maquiavélicas da governança lisboeta sobre a Escola, o Trabalho, a Saúde e o Pão…

– E revejo ainda a patética, obcecada e nevrótica figura do PM, enquanto torno a presenciar, com indesmentível espanto e indignação, a ronha enrolante e mole de Portas e Branco, o discurso do atónito oficial aviador do EMFA, como que planando sobre a pista, sem radar e sem trem de aterragem aberto, esvoaçando por entre as negras nuvens que se adensam nas Lajes, nas vésperas de borrascas na Terceira e de mais naufrágios na Pátria, por entre cínicas brumas e neblinas, imprevidência, manigância, interesses inconfessados, ostracismos e ignorâncias de décadas que cegaram o Mundo, o País e as nossas Ilhas, desde o Terreiro do Paço aos Paços da Câmara da Praia, e desde Washington a Lisboa e Ponta Delgada, com tretas e petas para calar o indígena açórico, encher os paióis do Império e vender bugigangas bélicas e inócuas lentilhas de cooperação, ciência e desenvolvimento, nem sequer à moda terceiro-mundista, mas ainda então em gesto benfeitor, do Programa People to People

Finalmente em tudo isto reflicto, nesta Vigília de 1 de Dezembro de 2012, conquanto conjunturalmente banido também esse Dia do calendário comemorativo de Portugal, assim como se sem nenhum Brasão, sem Armas e sem as águas lustrais do melhor que de si histórica e honrosamente já houve para uma permanente Restauração…

– E todavia aqui permaneceremos atentos, resistentes e vigilantes, sempre contra Este fulgor baço da terra/ Que é Portugal a entristecer/ – Brilho sem luz e sem arder, / Como o que o fogo-fátuo encerra… 
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Publicado em Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/;
RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/index.php?article=29924&visual=9&layout=17&tm=41;
Networked Blogs:
http://www.networkedblogs.com/blog/os-sinais-da-escrita?parent_page_name=source,
e Jornal "Diário dos Açores" ( (Ponta Delgada, 2 de Dezembro de 2012).
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 1.12. 2012).