As Leituras dos Cursistas
Como aqui assinalei antes, está presentemente a decorrer em Angra do
Heroísmo a comemoração do quinquagésimo aniversário dos Cursos de Cristandade
nos Açores.
Para além da sua já situada
importância social – a par das Semanas
de Estudo que, embora em campos diferentes, também foram concretizações de consciencialização e elaboração do pensamento e da acção da nossa
sociedade na segunda metade do Século XX –, sinalizarei hoje algumas das sugestões doutrinárias e recomendações bibliográficas que eram
propostas e disponibilizadas para aprofundada
reflexão e contínua formação
religiosa, teológica e moral dos Cursistas, e que moldaram assim muitas das
linhas teórico-práticas orientadoras e renovadoras do sentido e projectos cristãos do seu mundo, buscas de sentido,
reflexão e vivências do quotidiano, sendo que a tanto não fora alheio o Vaticano
II, como aliás reconheceu D. Juan
Hervás, no seu Manual de Responsáveis dos
Cursilhos de Cristandade, ao referir a conciliar “incorporação plena dos
movimentos bíblico, patrístico e litúrgico, num aprofundamento da teologia das
realidades terrestres, da doutrina sobre a liberdade religiosa e das aspirações
do movimento ecuménico”, – todos que, naturalmente, teriam significativa projecção sobre os Cursilhos (nascidos anos atrás).
Ora é neste confluente horizonte
– genuína mas sincreticamente marcado por métodos, técnicas e modelos de
auto-análise evangélica, espiritual e existencial reconhecíveis nos Exercícios Espirituais dos Jesuítas, no método de Cardijn e em vivências próximas
do Opus Dei –, que também se enquadravam
as principais, mais destacadas e exigentes leituras
e livros dos Cursistas, onde, em primeiro lugar entre os recomendados, estava
o emblemático e pessoal Guia do Peregrino
(publicado pelo Secretariado Nacional e sempre usado durante e após os Cursos),
espécie de manual litúrgico e de horas, oferecimento de obras, exame de consciência,
cânticos e orações.
– Mas depois, entre o discurso
quase poético do duplo Cristo Partido de
Ramón Cué, S.J. (Porto, Editorial Perpétuo Socorro) e a minuciosamente
esquematizada axiologia dos Valores
Humanos (4 Volumes) de A. Ortega Gaisán (Braga, Editorial Franciscana), em estante
de destaque lá vinha o Caminho de Josemaría
Escrivá de Balaguer, editado pela Aster (ligada à Prumo) e cujo excepcional
catálogo, nas colecções Éfeso e Signo, em
traduções notáveis, incluía, entre outros, autores como Romano Guardini, Paul Claudel, Daniel-Rops, Jacques
Leclerq, Michael Schmaus, Antoine Sertillanges, Journet, Pieper, Charles de Foucauld,
Garrigou-Lagrange, e Jesus Urteaga (cuja obra O Valor Divino do Humano, é ainda um texto de esperança e confiança
na audácia intelectual, metafísica e ética da Fé)!
– Sendo estas as mais conhecidas leituras e reflexões da Cristandade
dos Cursos (e não só!), oxalá as assumissem e vivessem todos hoje, tal como,
naqueles (afinal sempre recorrentes) tempos
cruciais, escrevia Michel Quoist, na mesma demanda permanente da reconversão e do diálogo intemporal
“do homem com o seu Deus”…
RTP-Açores:
“Diário dos Açores” (28.04.2013) e “Diário Insular” (27.04.2013).