quinta-feira, fevereiro 07, 2013


Açores mais desprotegidos
no caso da Base das Lajes




“Diário Insular” (DI) – Não tem sido fácil perceber a postura de Portugal nas supostas negociações que estarão em curso para uma redução da presença norte-americanas nas Lajes. Como interpreta a posição portuguesa?

Eduardo Ferraz da Rosa (EFR) – Como a pergunta deixa entrever – tanto a partir de elementos explícitos, divulgados ou conhecidos, como a partir de indícios ou sinais implícitos em toda uma série de correlacionáveis dados da vida político-diplomática, de estratégia militar e de defesa seguidos por Portugal e pelos Estados Unidos na última década e mais ainda nos últimos anos… –, ao contrário do que às vezes parece, reais negociações tem vindo a acontecer sobre a presença e os modos de permanência (diga-se, continuação da presença…) desses aliados na Base das Lajes.

Naturalmente que tudo decorre com o normal (muitas vez rápido e oscilante) andamento de conjunturas nacionais e internacionais variáveis e evolutivas. Depois, a própria filosofia e o discurso políticos, a metodologia diplomática, a ética negocial e os interesses estratégicos da “real policy” vivem muito de uma espécie de prudência táctica e de uma reserva dissimuladora que são a alma das negociações

Recordo assim o que aqui  já escrevi em 24.03.2012 -- Cf. neste Blogue, a 23.03.2012 (1) --, quando foi anunciado que iriam prosseguir contactos trilaterais, contratos militares e negociações diplomáticos entre Portugal, os EUA e a NATO com vista à redefinição efectiva, logística e tecnológico-militar das Lajes.

E relembro que, nessa altura, fizera um ano que o ministro da Defesa (Augusto Santos Silva) se tinha deslocado aos EUA para “discussões” sobre o comando NATO em Oeiras, a Base das Lajes e a participação de firmas lusas em concursos militares norte-americanos, estando igualmente então em agenda a forma de “alargamento e reparação da pista da Base das Lajes” e a tentativa de empresas portuguesas “do sector de Segurança e Defesa” (?) conseguirem “mais informação para participar em concursos” nos Estados Unidos!

– Ora é neste contexto, e nas respectivas e subsequentes alterações nacionais e internacionais, que deve ser compreendida a fase em que nos encontramos!


DI – Há quem compare as posturas diplomáticas, no caso das Lajes, de agora e no âmbito do primeiro Acordo. Os negociadores actuais ficam a perder ou a ganhar?

EFR – Ficam a perder, embora tudo deva ser situado num tempo histórico-político, geoestratégico, diplomático e institucional diverso, e em quadros de regime diferentes! Todavia, a firmeza, consistência e talento dos “negociadores” portugueses de Salazar talvez se tenham revelado, em contraposição formal e substancial aos de hoje, bem mais sólidos, coerentes e respeitáveis! Para não dizer patrióticos, informados e competentes…


DI – A recente presença dos BENS entre nós está a levantar grandes dúvidas... Qual a sua leitura?

EFR – A que decorre precisamente da diferença entre os políticos e os militares de outrora e os de hoje… E também do estatuto de Estado e de País tutelado (parcialmente “falhado”, se bem que ainda não “pária”…) em que decaímos!

– Por isso também a posição dos Açores está mais desprotegida, desenquadrada e iludida!
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(1) - http://sinaisdaescrita.blogspot.pt/2012/03/diplomacia-dos-interesses_23.html
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(*) Texto da Entrevista publicada no Jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 07.02.2013).
Idem em Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2331&tipo=col;
RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10.