sábado, abril 06, 2013


Os Lugares Naturais



Pese embora a expressão que dá título a esta Crónica ser – talvez por arreigado hábito disciplinar – realmente inspirada no complexo e plurifacetado discurso aristotélico, a verdade é que aqui vamos hoje tomá-la como uma espécie de mote ou motivo para a problematização – conquanto intencional e parcialmente análoga… – de outros lugares (e também de alguns não-lugares), conceitos tanto filosoficamente apelativos quanto sociologicamente pertinentes (como, entre outros, Marc Augé os abordou nos quadros não só cingidamente físicos mas também simbólicos, comunicacionais, socio-institucionais e éticos das formas da existência moderna, especialmente da vida urbana ou cosmopolita, ou nas chamadas Modernidade e Pós-Modernidade.

Todavia, na linguagem popular, ou mais prosaica, das falas do quotidiano, a tematização da profunda diferença entre lugar e não-lugar aparece-nos também intuída em enunciações e provérbios, seja – por exemplo – para estabelecer relações críticas entre saber real e lugar convencional; lugares comprados e posições do carácter vendido; mediocridades de habilitação, talento ou competência; serventia e subidas de posto ou na chefia ou mando das respectivas tribos; neutralidade ética e futilidades discursivas; anonimato massificado e solidão espiritual, etc., por aí fora, como se vê e é impossível a tanto e tais desaforos ou patologias não reagir!

– E não se reflicta só no que se passa por essa nação que fez de um ressabiado símile nominal do sábio ateniense um PM (com quase todo um partido rendido, ou nele re-enroscado em peso ou vacuidade!) e que o leva agora (sob aplausos de envergonhar!) à pantalha dos embustes como redentor e redimido sofista em causa e interesse exclusivamente próprios (dos quais o PS, a prazo seguro aliás, e dessa táctica desforra extemporânea, será a primeira vítima entontecida e penalizada…);

   - ou naquele PSD (o do saudoso Sá Carneiro!?) que, adiado, arrasta um tosco Coelho governamentado pelas orelhas, com um paradigmático Relvas já em descabelada cauda, porém também ele (para não atirar pedras aos ecrãs do vizinho!) com idêntica trupe circense de falaciosos comentadores mediatizados…;

     - ou, enfim, num híbrido CDS-PP (a desbaratar os trunfos que a outros tanto custou a credibilizar) …

– Não! No que estou também a pensar é nos não-lugares (ou não desempenhos competentes…) que putativos candidatos e falhados executivos ocupam já hoje nas nossas periclitantes empresazinhas e servicinhos autonómicos (quais espécimes criados segundo um perfeito Princípio de Peter!); e assim por diante…

O resto, tudo o resto, faz parte natural e efectivamente remanescente dos tais (não) lugares – quais espaços análogos aos denunciados naquelas alegóricas cavernas que a verdadeira Filosofia Política e a sua coerente e decorrente Prática para o Bem Comum (e não apenas as retóricas e narrativas tácticas da tal dita “Teoria” ou “Ciência Política” que um conhecido propagandista trouxe em parisiense porta-bagagens…) sempre sinalizaram às mais legítimas e nobres precauções democráticas historicamente alternativas … –, para onde o Povo, qualquer dia, há-de remeter à força tantos dos nossos carreiristas políticos agrilhoados às suas alienantes análises, néscias dívidas, malfeitorias e aberrantes e viciosas heranças, tão injusta e impunemente deixadas à dignidade da vida, à honra e à soberania perdidas desta e das futuras gerações do pobre País que tais empalhados caudilhos, políticos e comentadores alberga e sustenta!

05.04.2013
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Publicado em RTP-Açores:
e Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 07.04.2013).
Outra versão: Jornal "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 06.04.2013).