quinta-feira, junho 13, 2013


A Continência dos Rasos


Muito usada na gíria castrense, mas igualmente vulgarizada na linguagem popular, a expressão soldado raso – ou, às vezes, em pouco mais graduada patente baixa, a quase equivalente nomeação de cabo raso –, poderia servir para sugestivas figurações de um qualquer paradigmático estatuto (voluntário ou involuntário, consciente, subconsciente ou inconsciente) de rebaixamento, despromoção ou recorrente falta de carácter...

– E sem valer a pena entrarmos aqui em cogitações de psicologia das profundidades, não deixaria de ser pertinente levantar até a hipótese de alguns sujeitos que fizeram serviço obrigatório (ou forçado) terem ficado para a vida toda com uma espécie de reflexo condicionado, trauma, complexo ou mania de bater continência, baixar cerviz, ajoelhar-se, acocorar-se, pôr-se em sentido (ou noutra pose de subserviente postura e toada…) logo que presentes a reais ou substitutivos superiores (transaccionais objectos mais ou menos totémicos, afinal), chefes de partido, caudilhos, patrões, capatazes, vozes de coligado senhorio, cabecilhas políticos, grão-mestres, veneráveis camaradas ou irmãos de seita religiosa, secretaria, loja, confraria ou lobby

De resto, idênticos mecanismos psico-comportamentais (institucionalmente situados…) poderiam ainda ser detectados em certos indivíduos fracos, eticamente invertebrados, passionalmente desviantes, problemáticos ou descompensados, tais aqueles que tiveram trajectos marcados por experiências pouco gratificantes naquelas conhecidas e já chamadas instituições sociais totais (v.g. quartéis, seminários, colégios internos, prisões e hospitais, mas também clubes e claques, quadrilhas, partidos e grupos políticos…), especialmente quando os seus percursos e currículos ficaram tingidos por dependências despersonalizantes, atitudes passivas (amiúde ainda bipolares), algumas até mesmo candidatas a foro psico-patológico!



Ora entre nós também temos ultimamente assistido, em tribunas, parlamentos e palcos mediáticos, a várias dessas marciais, lacrimejantes ou sáurias (in)continências, muitas das quais, assim, só poderão ser explicadas por mecanismos como os acima descritos…

– Ou não estivessem novamente Eleições à porta de armas, e eles, rasos, amestrados à chibata, trémulos e acobardados, já prontos para bater novamente a pala aos sicários do Poder e aos gestores e ecónomos dos seus vendidos, pobres e ensandecidos espíritos.
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Os Sinais da Escrita:
RTP-Açores:
Azores Digital:
“Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 15.06.2013),

e “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 16.06.2013).