sábado, julho 13, 2013


A Consciência da Filosofia


Publicado pela Objectiva Editora, o livro Olá, Consciência! (da autoria de Mendo Castro Henriques e Nazaré Barros) acaba de marcar presença em mais um dos assinaláveis Encontros do Conhecimento promovidos pelo fórum Sociedade Aberta e que decorrem semanalmente no edifício do “Diário de Notícias”, em Lisboa.

Esta notável, muito singular e sugestiva obra filosófica – lançada em Março (com apresentação por José Tolentino de Mendonça) e que será também editada no Brasil em Agosto –, tem vindo entretanto a ser analisada e apreciada em diversas sessões, tertúlias e programas culturais (nomeadamente na Rádio, conforme aqui anteriormente tive oportunidade de registar, devendo porém ainda tornar a ser debatida por relação às problemáticas da Ética, nos próximos dias 16 e 23 de Julho, na continuação dos programados âmbitos temáticos dos referidos Encontros).

– Mendo Henriques é professor universitário, licenciado e mestre em Filosofia pela Universidade de Lisboa e doutorado em Filosofia Política pela Universidade Católica Portuguesa (UCP). Tem 12 títulos publicados em Portugal, Brasil e França sobre Pessoa, Voegelin, Lonergan, Filosofia da Consciência e obras em conjunto sobre temas de Cidadania e História.

Nazaré Barros, professora do ensino secundário, licenciada em Filosofia na UCP e mestre em Administração e Organização Escolar pela Faculdade de Ciências de Lisboa, é autora de manuais escolares e obras de iniciação a Antero de Quental, Kant, Locke, Descartes, Platão, S. Anselmo e S. Agostinho, tendo-se dedicado ainda a temas de violência e vida escolar.

Olá, Consciência! – cuja atractiva actualização mediática está articuladamente assegurada em www.olaconsciencia.com e na respectiva Página do Facebook – é uma espécie de passeio reflexivo, exercício de atenção e viagem iniciática pela Filosofia – como dizem os seus autores, “lembrando os caminhos viáveis e os impasses, as cooperações e os conflitos” seus e nossos –, através de uma bem estruturada e excepcional narrativa propedêutica, sob a forma de uma sucinta mas muito sugestiva e comunicativa exposição em sequenciada abordagem histórico-crítica dos núcleos, áreas (Epistemologia, Lógica, Política, Antropologia, Ontologia, Ética e Gnoseologia), configurações linguagens, imaginários, analogias e hermenêuticas das principais filosofias específicas da nossa Tradição Ocidental e dos seus referenciais momentos, pensadores, respectivos discursos e categorias.

– Desde a precisiva caracterização da mais originante atitude, gesto ou olhar do assomo interrogativo humano que move o apetite inquiridor e o querer compreender, até ao seu universal, natural e possível regresso reflexivo “em todos os que se interrogam sobre as grandes e as pequenas questões da existência” […], “por entre as crises que abalam […] até aos alicerces, ao ponto de darmos por incerto o que antes se nos afigurava como dogma” – explicam Mendo Henriques e Nazaré Barros –, “há urgência em levantar as grandes questões sem as quais a filosofia não valeria a pena. E, porque somos capazes de interrogar, dizemos Olá, Consciência!”.

De resto, professores de Filosofia – com larga e rica experiência de docência, investigação, tradução, ensaio, comentário escolar, mas também de genuína assimilação e criação de pensamento pessoal –, os autores desta bela e a todos os títulos absolutamente recomendável obra (para todos os públicos e cidadãos da Cidade aonde ou todos crescemos, ou todos definhamos…) expressam clara e distintamente o método, o fim e os meios aqui seguidos de modo generoso, existencialmente apelativo e eticamente exigente, como não poderia deixar de ser, assim:

– “A fim de que a filosofia não seja um exclusivo de prateleiras de bibliotecas, seguimos um caminho diferente das habituais introduções à filosofia. Em vez de apenas explicarmos conceitos filosóficos ou apresentarmos uma galeria de autores, procurámos partir das nossas experiências quotidianas e mostrar como elas fazem mais sentido com os conceitos filosóficos. No início de cada capítulo, o leitor encontrará narrativas muito variadas, como variada é a nossa existência. Através de episódios quotidianos, tais como uma festa, um encontro no aeroporto, a leitura de um livro, uma ida ao cinema, a audição de um concerto, uma urgência hospitalar, ou outros casos, o leitor é iniciado nos caminhos filosóficos trilhados pelos grandes autores”...

Olá, Consciência! é – enfim – um livro profundamente original, ímpar em Língua Portuguesa e em trabalho de linguagem reflexiva e rigor conceptual, sendo único no seu género, mesmo tendo em vista muita da produção filosófica, científica e didáctica conhecida ou intencionalmente mais ou menos afim, – como aquelas de Bochenski, Caratini, Martin Gardner, Jaspers, Brendan Purcell, Rickmann ou Bertrand Russell (que os autores declaradamente, e bem, consideraram), ou as, conquanto diferentes, de Jostein Gaarder ou Fynn, mas também outras ainda, que, em moldes e horizontes diferenciados, fizeram, ou fazem, lista estreita ou grossa nas bibliografias, cânones, leituras e literaturas de fraca qualidade e precário, duvidoso ou nulo rigor, indigesta doutrinação, (des)motivação e alcances futuros, porém sendo amiúde aquelas preferente e programaticamente seleccionadas, antologizadas e, por demasiadas vezes, até as mais oficialmente recomendadas, quando não até curricular ou – por demasiadas vezes – ideologicamente dadas por obrigatórias e impostas, em tantas das preconceituosas, unidimensionais ou banais escolas nacionais e regionais do Continente e Ilhas adjacentes…

– E isto, como escrevem Mendo Henriques e Nazaré Barros, porque a Filosofia “é de todos os que ousam pensar por si próprios”, e porque “quem entra na filosofia corre o risco de se tornar um dissidente. Dissidente na sua própria terra, dissidente do poder instituído, da opinião comumente aceite, dos êxitos mundanos, do mundo dos negócios, do prestígio social. Dissidente da vida vulgar, do senso comum, da moda, das banalidades e das brutalidades da vida quotidiana. Dissidente do pensamento único, de tudo o que é aceite passivamente, da norma, do politicamente correto, do instituído, do consensual, do tradicional. Dissidente do poder e do snobismo das criaturas de sucesso que procuram as luzes da ribalta para expor as suas vaidades. Dissidente da passividade dos media, do comodismo fácil das opiniões aceites, da normalidade superficial dos dias, das vozes cómodas, pacíficas e conformistas”…

Todavia, esta obra – apesar de alguns (in)compreensíveis silêncios que à sua volta, esquivos ou preguiçosos, ainda persistem …–, há-de certamente vir a conquistar merecido reconhecimento e grato lugar para Pensamento cônscio e Acção libertadora, junto de quem quiser e souber pensar, e daí mais e melhor puder agir, nestes tempos de indigência e obnubilação de tantas consciências espirituais, históricas, sociais e políticas!
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Em Azores Digital:
RTP-Açores:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 14.07.2013).
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 13.07.2013).