sábado, agosto 31, 2013

Os Idiomas e as Labaredas

Denominada “silly season”, esta época é assim chamada para adjectivar o Verão e os seus ritmos calmosos, como se existências activas e consciências despertas ficassem tolhidas por sonolências lentas ou abúlicas, com perda de noção das realidades e alienação de problemas quotidianos.


– Porém, nesta altura em que muitos procuram usufruir de retemperante e merecido descanso, aquela denominação é sobretudo usada na gíria social e jornalística para designar uma quadra em que nada de importante e decisivo supostamente se mostraria, ou aparenta (não) acontecer, enquanto a classe política (capital actora da dita silliness, idiotia ou folly, quando não crónica loucura…) vai a banhos ou vem de vilegiaturas desopilantes, até ao inescapável regresso àquela prudente queda na real (que dá pelo teatral nome de “rentrée”).



Ora neste final de Agosto, com o País ardendo e queimando vidas e bens, por cá (onde fica, accionável a todo o momento, a Base das Lajes…) – para não falarmos já das frenéticas ideias, peregrinas mensagens e belas declarações de intenção autárquica (das quais os discursos e cartazes vão ficando já recheados e as labaredas do inferno estão sempre cheias…) –, aquilo a que de mais dramático vamos assistindo – não tanto de palanque (como nas nossas remansosas touradas) quanto possivelmente a caminho de mundialmente tornarmos o orbitar aquele olho do furacão muito bem analisado no Editorial do jornal terceirense “Diário Insular” de 30 de Agosto – é o que sobre a Síria cresce a todo o segundo, por entre desencontradas e contraditórias versões diplomáticas e estratégicas, enquanto se aguarda o resultado das investigações da ONU e crescem contestações e reservas relativamente às inclinações, ditas “punitivas” do regime totalitário de Assad, pelos teleguiados drones, mísseis e aviões dos EUA e da França, conquanto ambos vacilantes (ou retardatários…) e em impasse (isolamento…) acelerado face ao recuo britânico, às demarcações árabes, russas e iranianas, às cautelas israelitas e às incertezas e riscos globais de tal campanha militar!


– Por tudo isso é que convém permanecermos atentos e críticos, por entre todos os idiomas alheios e as labaredas próprias deste final de Verão que não augura nada de bom…
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Em Azores Digital:
Jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 31.08.2013);
RTP-Açores:
http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 03.09.2013).