sábado, abril 12, 2014


As formas da Tortura

Com lançamento anunciado para o próximo dia 16, a 2.ª edição do livro de José Sócrates A Confiança no Mundo inclui um posfácio novo de Eduardo Lourenço, texto este que o “Público” divulgou no passado dia 6 sob o título de “O desejo amoroso do mal”.


– A obra, como é sabido, aborda o problema teórico e a consumação prática da Tortura em regimes democráticos, defendendo o autor que esse fenómeno constitui, claro, não só um atentado à intrínseca e inerente dignidade dos seres humanos, quanto é um índice da profunda degenerescência e falsificação a que todos os regimes políticos – mesmo os liberais ou jurídico-formalmente estruturados como Estados de Direito – podem estar sujeitos, no que assim se instituem em aparelhos destituídos de legitimidade ético-política e de autoridade moral!

A tese – cuja perspectiva crítica de abordagem, embora não sendo propriamente inédita, traz alguns sugestivos contributos sintéticos para uma mais articulada questionação do fenómeno da Tortura no pensamento tradicional e na história política, securitária, colonial e militar-imperial recente das democracias europeias e norte-americana (aqui, nomeadamente após aos atentados terroristas do 11 de Setembro, com as contra-posições tácticas e estratégicas assumidas pelos EUA a nível jurisdicional, penitenciário e torcionário...).

– Este livro de Sócrates, sendo agora mais filosoficamente lido (e legível...) de modo generoso, como o faz Eduardo Lourenço, poderia porém não só trazer à reflexão uma mais ampla e referencial evocação ética e quase metafísica do problema (e do Mistério?) do Mal – tanto no que ele absolutamente opõe, ou tenta derivadamente sub-trair, ao Bem...–, quanto deveria ainda estender a sua mesma visão criteriosa a tudo o que, por entre a barbárie radical da violência universal sádica e niilista da Tortura e seus (suposta ou alegadamente) banais (e menores?) actos maléficos quotidianos (a mentira, a injustiça, a opressão e a simulação ocultante da verdade...) ainda permanece, quase inocentemente, fruto da tal invocada (desculpabilizante?) inumanidade de que (todos?) somos, ou parecemos ser, parte integrante...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 12.04.2014):






















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