sábado, julho 26, 2014



Identidade e Diásporas



1. Tal como foi comentada e muito apreciada, especialmente nas redes sociais, a notícia publicada pelo jornal “Diário Insular” na sua edição do passado dia 17, elaborou um bom e fiel resumo de todas as três Conferências e Debates do Painel realizado no dia anterior e subordinado ao tema “A diáspora e identidade açorianas: o caminho para realçar o potencial dos Açores?”, conforme constava no Programa da 1.ª Universidade de Verão promovida pelo Instituto Açoriano de Estudos Europeus e Relações Internacionais (IAEERI).


Ali, nas minhas intervenções, fiz uma análise do conceito de “diáspora”, que retomo nesta Crónica, a partir do seu principal paradigma bíblico, religioso e histórico (isto é, a Diáspora do povo judeu), articulando-o filosófica e sociologicamente com as novas diásporas da Modernidade e do Pós-Modernismo, com a chamada "diáspora açoriana" e com a tão debatida problemática da “identidade açoriana”.

– E assim foi exposta a origem e evolução do vocábulo e do conceito diáspora, derivado do grego e significando dispersão, migração ou colonização, e também como termo adoptado pela versão dos Setenta para traduzir diversas expressões de pessimismo existencial ou destinal usadas no hebraico (nomeadamente pelas comunidades judaicas radicadas fora da Palestina após o exílio e cativeiro da Babilónia).


Todavia, depois, esta expressão foi transitando gradualmente para o âmbito das ciências sociais, filosóficas, teológicas e literárias, generalizando-se ainda mais recentemente nos estudos sobre a globalização, a des-territorialização de minorias migrantes ou de grupos étnico-culturais, a reconfiguração das pertenças transnacionais e trans-regionais, os novos cosmopolitismos e nomadismos, os neo-tribalismos (centrífugos e centrípetos...), etc., com a constituição de múltiplas inter-redes reais e ficcionais de comunicação e informação, partilha ou sobreposição de vivências e mundos, todos eles afinal implicados em dinâmicas societárias, políticas, discursivas e psíquicas de identidades outras e de narrativas transferenciais alternativas...

– Ora é precisamente aqui que o problema teórico-prático das diásporas deve ser acoplado dialecticamente ao problema da identidade e das suas metamorfoses, sendo que esta questão tem vindo a ganhar ressurgimentos críticos desde os alvores da Modernidade até ao Pós-Modernismo, tanto na perspectiva da reflexão filosófica (sem a qual o essencial deste tema, enquanto ainda questionamento da subjectividade, da alteridade e da intersubjectividade, permanece impensado!), quanto nos âmbitos (inter)disciplinares da sociologia, da antropologia e dos estudos históricos e culturais, nomeadamente sobre a consciência, a identidade e a memória colectivas (estas, tal como as dimensões axiológicas e simbólicas da Tradição, sempre potencialmente evolutivas ou regressivas...), sem esquecer o que aí existe de consciente e de inconsciente, de reminiscências sedimentadas, vivas e criativas ou mortas e apenas procriadoras e societariamente reprodutoras ao modo primário ou recalcado dos mecanismos sonambulescos, dos comportamentos infantilizados ou dos actos programadamente manipuladores das consciências, num tempo e num espaço potencialmente retrógrados, alienados e sem grandeza humanizadora...


Neste contexto, portanto, é que foram formuladas as nossas perguntas sobre as mutações geracionais e as (im)permanências modelares de uma “identidade açoriana” activa, tanto no Arquipélago como nas nossas Comunidades diaspóricas, fazendo-se então radicar precisamente nessa reflexão objectiva a única via sólida e legítima para a (re)descoberta dos verdadeiros factores de “potencial dos Açores”, na Região e fora dela!

– Finalmente e segundo reafirmei, porém “potencial” dos Açores é que não serão certamente aquelas peregrinas e ilusórias acções de incensamento meramente retórico, cuja latência de engano e desilusão recorrente é tantas vezes despudoradamente agendado apenas para preencher rotinas ou granjear prebendas cuja suposta radicação na “açorianidade” (ou melhor, em interesses mais ou menos obscuros dela alegadamente derivados...), não contêm, na verdade, nem virtualidades nem virtudes dignas de qualquer esperança ou credibilidade...

2. No referido Painel abordei ainda várias das questões mais críticas relacionadas com a ligação das nossas Comunidades imigradas aos Açores e vice-versa (do ponto de vista comunicacional e informativo, cultural, económico, comercial, turístico, religioso, associativo e político).

– Por outro lado, mais reservadamente do que Reis Leite (que em boa verdade perspectivou o assunto com evidente prudência), não defendi tout court  nem sem mais o Voto dos imigrantes e dos não-residentes nas Eleições Regionais, antes ali implicitamente anuímos na complexidade democrática e técnica da questão (conforme de resto tem sido reflectido diversa ou confluentemente por Álvaro Monjardino), especialmente do ponto de vista da representação popular proporcionada e do seu consequente enquadramento político-constitucional e estatutário, apesar de, por minha parte, concordar com eles no que se refere à existência e valorização do Povo Açoriano, parte integrante, embora diferenciada, do Povo Português.


3. A questão da “vergonhosa” política de transportes – a que os açorianos em geral (residentes, emigrantes e imigrantes), e todo e qualquer visitante também, tem estado historicamente sujeitos – foi de facto referida por mim com bastante veemência (como não podia deixar de ser no contexto da abordagem efectuada), conforme aliás, para além da leitura académica, pude testemunhar pessoalmente ao referir casos exemplares, tanto nos Açores como nos Estados Unidos da América e no Canadá, não só relativos à dita política propriamente dita, quanto também ao modo como os nossos imigrantes açorianos são tantas vezes (mal) tratados por serviços aeroportuários, diplomáticos e consulares, e por várias companhias de aviação (incluindo a “nossa” SATA!), o mesmo, ou semelhante, infelizmente, acontecendo em vários países europeus com outros cidadãos e migrantes portugueses!


Contudo, nesta denominação de política de transportes deverão ser incluídos múltiplos dossiers, alguns historicamente ignorados, pendentes, esquecidos ou deliberadamente esbanjados em custos e aplicações, incluídos aí não somente as momentas ligações e transportes aéreos (tarifas; tabelas promocionais; rotas; destinos; horários; frota; placas giratórias do exterior e no interior; parcerias empresariais; esquemas e critérios de nomeação, selecção e escolhas de administração, gestão e de pessoal; contratos de trabalho, seus conteúdos, regalias e constrangimentos; modelos de serviço e atendimento em terra e no ar, articulação com a promoção turística dos Açores, etc., etc.), quanto também toda a estrutura logística e técnico-funcional dos transportes marítimos (passageiros e carga de/para o Arquipélago e inter-ilhas), e bem assim os transportes terrestres (desde as controversas scuts às redes viárias, com as conhecidas necessidades orçamentais, de segurança e de manutenção...).

– Foi pois neste espírito e com estes conteúdos pensados que proferi a citada intervenção, na sequência de muitas outras que tenho feito no mesmo sentido e para defesa dos interesses (direitos e deveres) dos Açores e dos Açorianos (onde quer que vivam, trabalhem e lutem por uma vida mais digna e feliz do que aquela que lhes foi negada na sua Pátria, no seu próprio País e nas nossas ilhas)!
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 26.07.2014):



























e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 27.07.2014):





Os Leiloeiros da Pátria


As últimas semanas – tão recheadas de episódios cujo significado real só terá paralelo na sua confluente significação simbólica –, se vistas pelos olhos de um ficcional viajante planetário que resolvesse seguir sincrónica e diacronicamente o trânsito secular e os momentos pontuais dos calendários solares ou lunares das diferentes civilizações e povos da Terra – desde as sólidas mas misteriosas e enleantes muralhas da China até às decadentes matrizes da tardo-imperial Razão europeia, ou logo um pouco abaixo e para diante até aos frágeis e minúsculos ilhéus vulcânicos que emergem das cicatrizes da grande dorsal do Atlântico... –, não deixariam por certo de pô-lo de olhos em bico (irados ou lacrimejantes, conforme o teor das suas pupilas histórico-culturais, ético-espirituais e geopolíticas)!




 – Todavia, deixado entre parênteses tudo aquilo que nestes dias ter-se-lhe-ia mostrado como mais digno de registo e reflexão universais (desde os horrores bélicos nos trovejantes e mortíferos céus euro-asiáticos da Ucrânia até às reacendidas fogueiras dos para-bíblicos, sangrentos e sanguinários massacres e contra-terrores no Médio Oriente), talvez não escapassem a tal observador (quem sabe se por natural afinidade histórica ou reminiscência de leitura de algum clássico da literatura dos ancestrais filhos de Luso...) algumas das mais edificativas cenas e peripécias tragicómicas que se vem desenrolando nas marés e areais pantanosos de um quotidiano Alcácer-Quibir interno onde jazem destroços e pastam os gusanos da agiotagem, impune corrupção político-financeira, imperante garotice e baixeza de carácter das castas e aparelhos sociais ali e aqui promovidos à custa da exploração do Povo e das despudoradas fragilidades de uma “democracia” apenas nominal, disfuncional e acéfala, enquanto tudo e (quase) todos são compráveis ou vendidos neste babélico mercado de interesses, onde, desde a mercenária cacofonia político-partidária nacional e regional até ao internacional tilintar argentário das línguas na CPLP, cabem todos os leiloeiros das nações e da Pátria, de cara ao léu ou travestidos de “governantes”...

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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 26.07.2014):






sexta-feira, julho 18, 2014



UNIVERSIDADE DE VERÃO 2014 DO INSTITUTO AÇORIANO 

DE ESTUDOS EUROPEUS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS 







NOTA CONTEXTUAL A PROPÓSITO
DE UM DEBATE NO IAEERI 

1. A notícia publicada pelo jornal “Diário Insular” na sua edição de 17 do corrente elaborou um bom e fiel resumo de todas as três apreciadas Intervenções no último Painel do dia anterior (subordinado ao tema “A diáspora e identidade açorianas: o caminho para realçar o potencial dos Açores?”), integrado no Programa da 1.ª Universidade de Verão promovida pelo Instituto Açoriano de Estudos Europeus e Relações Internacionais (IAEERI).

– No caso da minha Conferência, que não estava previamente escrita na totalidade, fiz uma análise detalhada do conceito de “diáspora” a partir do seu principal paradigma bíblico e histórico (a Diáspora do povo judeu), articulando-o filosófica e sociologicamente com as novas diásporas da Modernidade e do Pós-Modernismo, com chamada "diáspora açoriana" e com a tão debatida problemática da “identidade açoriana”.

2. Depois abordei algumas das questões mais críticas relacionadas com a ligação das nossas comunidades imigradas aos Açores e vice-versa (do ponto de vista comunicacional e informativo, cultural, económico, comercial, turístico, religioso, associativo e político).

– Por outro lado, mais reservadamente do que Reis Leite (que em boa verdade também perspectivou o assunto com prudência...), não defendi tout court  nem sem mais o Voto dos imigrantes e dos não-residentes (o que não é a mais coisa!) nas Eleições Regionais, antes ali implicitamente anuímos e apontámos bem para a complexidade democrática e técnica da questão (conforme de resto tem sido reflectido diversa ou confluentemente, entre outros, também por Álvaro Monjardino), especialmente do ponto de vista da representação e do seu enquadramento político-constitucional, apesar de, por minha parte, concordar porém com ele no que se refere, genérica e especificamente, à existência e valorização de um chamado Povo Açoriano, parte integrante, embora diferenciada, do Povo Português.

3. A questão da "vergonhosa" política de transportes – a que os açorianos em geral (residentes, emigrantes e imigrantes em geral), mas todo e qualquer visitante também, tem estado historicamente sujeitos – foi de facto referida por mim, com bastante veemência (como não podia deixar de ser e no contexto da abordagem efectuada), conforme aliás, para além da leitura académica, pude testemunhar pessoalmente ao referir casos exemplares, pessoalmente presenciados, tanto nos Açores como nos Estados Unidos da América (onde vivi e estudei) e no Canadá (onde já estive por três vezes), e não só relativos à dita política propriamente dita, quanto também ao modo como os nossos imigrantes açorianos são tantas vezes (mal) tratados por serviços aeroportuários, diplomáticos e consulares, e por várias companhias de aviação (incluindo a “nossa” SATA!), o mesmo, ou semelhante, infelizmente, acontecendo também em vários países europeus, com os migrantes portugueses...

– Foi pois neste espírito e com este conteúdo que proferi a referida e aqui citada intervenção, na sequência de muitas outras que tenho feito no mesmo sentido e para defesa dos interesses (direitos e deveres) dos Açores e dos Açorianos onde quer que vivam, trabalhem e lutem por uma vida mais digna e feliz do que aquela que lhes foi negada no seu próprio País e na nossa terra!






sábado, julho 12, 2014



A Ilha nos Sinais do Verbo


1. O livro tem título sugestivo (A Ilha e o Verbo), subtítulo impressivamente mediático (“Dos Vulcões da Atlântida à Galáxia Digital”) e apelativo Prefácio (D. Manuel Clemente), constando de uma grande Entrevista conduzida por Paulo Rocha (jornalista da área da Religião e secretário da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais) e feita ao Padre António Rego.

– Harmoniosa personalidade (onde “tudo dá bem com tudo, da terra ao mar, da família à sociedade, da escrita à fala”, na “consonância geral do tom [...], nas palavras que usa, [e] como as distribui com igual generosidade por pessoas e temas”), desta autobiográfica narrativa dialogada (Paulinas, 2014) – para além de um curioso acervo fotográfico (com rostos e situações familiares) e de uma selecção de textos reflexivos, poéticos e teológicos (desde o “Mar”, “Liberdade” e “Concílio Vaticano II” até às belas evocações e sentidas preces ao Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo) –, um simples olhar pelo seu índice temático dá bem conta da riqueza do conteúdo e da pertinência dos depoimentos concedidos!

E é assim que – desde a reiterada e assumida condição existencial do autor (“Incuravelmente um ilhéu” até às suas abordagens e percursos pela “Pastoral das Comunicações”, passando por uma notável rememoração socio-eclesial e histórico-cultural, onde os Açores em geral e a Terceira e Angra do Heroísmo em particular (a vida no Seminário, as paróquias da Sé e da Conceição, os programas no RCA (Rádio Clube de Angra), o saudoso jornal “A União”, os Cursos de Cristandade, etc., etc.) – todas as palavras e as vivências de António Rego ganham nestas páginas e naquilo tudo que elas documentam uma admirável dimensão e novas potencialidades de sentido, tanto como repositório de memórias como sinais de construção do futuro...

– De resto isso acontece, para além do seu intrínseco interesse como testemunhos de várias épocas históricas e de outros tantos conjugados acontecimentos sociais, políticos, religiosos, institucionais e comunicacionais, talvez porque o agora cónego António Rego tenha, como bem viu o actual Patriarca de Lisboa, “aquela maneira açoriana de ser português, homem do mar em qualquer praia a que chegue”, expressa “naquele jeito de comunicar sempre, usando os meios mais sofisticados do modo mais natural; por isso tem e terá sempre os auditórios que quiser ter, porque todos queremos ser tratados como pessoas entre pessoas, [...] multidão dos que o temos como amigo”, modelo de Padre e Jornalista para uma Igreja aberta à Humanidade, mas fiel ao Verbo do seu Senhor.


2. Natural de S. Miguel (Capelas) e hoje com 73 anos (nasceu a 16 de Maio de 1941), o Padre António Rego viu recentemente (7 de Maio) este seu livro apresentado em Lisboa pelo seu amigo e conterrâneo Mário Mesquita – ver Reportagem e Entrevista aqui: http://video.pt.msn.com/watch/video/antonio-rego-lanca-a-ilha-e-o-verbo/295rnnhqt –, numa coincidente, feliz e associada comemoração dos seus 50 anos de Ordenação Sacerdotal (recebida em Ponta Delgada a 21 de Junho e cuja primeira cerimónia comemorativa decorreu já no passado dia 15 na igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa, onde costuma celebrar missa, mas que será agora assinalada também na sua terra natal, numa festa marcando igualmente os mesmos anos de vida consagrada de sua irmã Alda Rego, freira dominicana).

– Por ocasião da presente efeméride sacerdotal do Padre António Rego e a propósito do lançamento de A Ilha e o Verbo (que agora, em boa ocasião, também ocorre em S. Miguel), muitas tem sido as referências à sua vida, actividades e múltiplas funções e responsabilidades que deteve, nomeadamente como coordenador e realizador de programas religiosos na TVI, director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, professor de Comunicação Televisiva na Universidade Católica Portuguesa e consultor do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.

Entretanto, num depoimento prestado há poucas semanas ao “Voz da Verdade” – ler o respectivo texto na íntegra aqui: http://www.vozdaverdade.org/mobile/link1.php?id=4049 –, o Padre Rego salientou novamente a forte ligação às suas raízes açorianas, contando assim:

– “Todos nós temos a nossa infância ligada à terra, à família, à educação, à escola, à brincadeira. Eu não sou extraordinário em nada, mas sinto que respirei de uma forma um pouco original a vida nascendo nos Açores, numa família com oito irmãos, próximo do mar, com a escola paroquial defronte da minha casa, a igreja 15 metros acima, um jardim admirável onde fazia as minhas brincadeiras com a bicicleta. Tudo isto vulgaridades… mas, esse todo, quer familiar, quer religioso, tocou muito a minha vida”. De resto, a infância, segundo reafirmou àquele jornal, fez o pequeno António, o “Antonino” como era carinhosamente tratado entre nós, sonhar com o mundo:

“Tudo isto – a terra, a família, a escola – se passou com uma grande naturalidade, mas com uma sensibilidade muito açoriana, que nos dá outra forma de olhar, de sentir, de comunicar – por vezes imperceptivelmente, como é a pronúncia local! –, e que me fez sonhar com outros universos”. E mais confessou que não viu no facto de ser insular “um obstáculo, mas uma oportunidade” (...). “Ao contrário do que algumas pessoas me diziam, e até ainda dizem, o mar não era um muro, o mar era uma grande porta aberta, à ‘nossa altura’; assim plano, não era como as montanhas. O convívio com o mar foi muito bom”!

3. Inseparáveis neste açoriano – a quem a Diocese de Angra, infelizmente, ao longo destes anos todos, muito pouco, quase nada, soube colher e potenciar dos seus firmados talentos, préstimos e comprovadas qualidades...–  as harmonizadas condições e a profunda vocação de Sacerdote e de homem da Comunicação Social –, António Rego nunca deixou de manter uma forte ligação entre o Jornalismo e a acção pastoral da Palavra e do Espírito em todos os recantos da Terra e nas mais diversas comunidades nacionais e mundiais por onde passou, ou às quais se foi sucessivamente ligando, tal como acaba de testemunhar a um portal diocesano de Leiria-Fátima, com cujas palavras concluímos por hoje, dando-lhe o devido, reconhecido e merecido lugar, em discurso propriamente directo e pessoal:


– “Desde o ano em que me ordenei, e sem o haver pensado antes, fui enviado a trabalhar na rádio, numa rádio pequena, no jornal diocesano como chefe de redacção, em seguida na televisão e no cinema como crítico do Secretariado do Cinema e da Rádio. Quase de início, fui compreendendo, não que tinha segunda missão como jornalista, mas como padre implicado na missão das comunicações sociais. E vi entrelaçadas as duas actividades numa só, a que chamaria pastoral. Sempre estive ligado a uma paróquia e a uma comunidade sacerdotal. O Concílio tinha sido uma grande luz no caminho da Igreja e no meu caminho. E senti com naturalidade que era um padre, com carteira de jornalista, que desempenhava com naturalidade a missão para que fora enviado e que estaria na continuidade de alguns trabalhos feitos ainda no tempo de formação.

“ (...) Claro que dou muitas graças a Deus pelo que os meus olhos  viram e as câmaras e microfones captaram. Foram  experiências riquíssimas que trouxe para os media, depois de toda a operação de ser tocado pelas comunidades onde passei e revê-las exaustivamente nos programas gravados, editados, comentados e transmitidos. As coisas não me aconteceram uma vez apenas em cada recanto, mas entravam-me na alma. Entranhava, mesmo que no início estranhasse. Passei por Monte Athos, Mosteiros contemplativos, comunidades vivíssimas na África, Ásia e Brasil. Mas guardo no  coração a passagem pelas comunidades de todo o nosso país que, duma forma mais simples ou elaborada, vivem e celebram intensamente os valores das primeiras comunidades. Este é o meu jornalismo, de procura intensa de sinais de Deus para colocar sobre os telhados”...

– “ (...) Sei o muito que se fez e os desafios que temos pela frente. Creio que só continuaremos no caminho da fidelidade à missão, se estivermos atentos aos sinais que se vão abrindo e dispondo-nos de coração aberto à surpresa. Estamos em mudança de época, com novas propostas, valores e meios. Precisamos de perder o medo, pois o nosso Deus, condutor da história, continuará a revelar-nos o que já disse ao mundo pelo seu Filho e pela Igreja”.
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.07.2014):






Um Harakiri Universitário


A propósito da precária situação da Universidade dos Açores (UAç) na ilha Terceira, João Maria Mendes publicou na sua página pessoal do Facebook um vigoroso e pertinente testemunho cujo conteúdo, no essencial, foi depois reforçado em Entrevista concedida ao DI (Cf. Anexo 1) na passada sexta-feira (dia 11).

– Todavia, logo naquele primeiro depoimento lia-se o seguinte:

“É lamentável o que estão a fazer ao Pólo de Angra do Heroísmo da Universidade dita dos Açores. Será que a destruição do Curso de Gestão que funciona em Angra tem mesmo de acabar?

“Ou serão os mesquinhos interesses corporativos de certos luso-micaelenses que apenas têm como objectivo ganhar a vidinha aqui por estas ilhas e satisfazer um bairrismo serôdio de tudo concentrar e provocar o vazio à sua volta?

“Só há uma solução para este ataque feroz (...), que passa pela fundação de uma Universidade totalmente independente aqui na Terceira.  

“As ilhas Canárias têm duas Universidades. Porque não replicar a iniciativa aqui nos Açores?

“É claro que surgirá a velha, decrépita e sempre decantada ‘unidade açoriana’ dos ‘Velhos do Restelo’ que por aí ainda subsistem para negar este direito que a ilha Terceira tem de usufruir de uma verdadeira Universidade e não de um apêndice raquítico gerido com as migalhas que sobram do banquete...

“Já chega de atropelos, menosprezo e achincalhamento por um Reitor que foi eleito por uma ‘unha negra’ e, quem sabe, sob a alta protecção da dama dos três pontinhos.

“Libertemo-nos deste jugo pesadíssimo de uma Reitoria centralista, que tudo destrói à sua volta”.


– O assunto merece atenção crítica e deveria motivar acrescidas reflexões, tanto mais quanto outros (v.g. Álamo Meneses e Alfredo Borba) também defendem uma similar (?) “autonomização” (sic) da UAç, apesar da complexidade de tal projecto e das diferentes, díspares ou até contraditórias linhas e interesses que aí se cruzam hoje (como se cruzaram sempre, desde os tempos de Machado Pires, Vasco Garcia e Avelino Meneses até às últimas erupções na academia), embora tão magnífica sequência reitoral possa não corresponder exactamente ao declínio do lema original da casa (sicut aurora scientia lucet), de permeio com secessões, sucessões e remodelações vespertinas ou apenas proteladoras de um haraquiri político-académico prenunciado desde há muito tempo...
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  Anexo 1:

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Em "Azores Digital":























RTP-Açores:



























"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 12.07.2014):




























e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 13.07.2014):














sábado, julho 05, 2014



A Fidelidade do Verbo



O livro tem título sugestivo (A Ilha e o Verbo); subtítulo impressivamente mediático (“Dos Vulcões da Atlântida à Galáxia Digital”); apelativo Prefácio (D. Manuel Clemente), constando de uma grande Entrevista feita ao Padre António Rego e conduzida por Paulo Rocha (jornalista da área da Religião e secretário da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais).

– Harmoniosa personalidade (onde “tudo dá bem com tudo, da terra ao mar, da família à sociedade, da escrita à fala”, na “consonância geral do tom [...], nas palavras que usa, [e] como as distribui com igual generosidade por pessoas e temas”), desta autobiográfica narrativa dialogada (Paulinas, 2014) – para além de um curioso acervo fotográfico (com rostos e situações familiares) e de uma selecção de textos reflexivos, poéticos e teológicos (desde o “Mar”, “Liberdade” e “Concílio Vaticano II” até às belas evocações e sentidas preces ao Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo) –, um simples olhar pelo seu índice temático dá bem conta da riqueza do conteúdo e da pertinência dos depoimentos concedidos!


E é assim que – desde a reiterada e assumida condição existencial do autor (“Incuravelmente um ilhéu” até às suas abordagens e percursos pela “Pastoral das Comunicações”, passando por uma notável rememoração socio-eclesial e histórico-cultural, onde os Açores em geral e a Terceira e Angra do Heroísmo em particular (a vida no Seminário, as paróquias da Sé e da Conceição, os programas no RCA (Rádio Clube de Angra), o saudoso jornal “A União”, os Cursos de Cristandade, etc., etc.) – todas as palavras e as vivências de António Rego ganham nestas páginas e naquilo tudo que elas documentam uma admirável dimensão e novas potencialidades de sentido, tanto como repositório de memórias como sinais de construção do futuro...

– De resto isso acontece, para além do seu intrínseco interesse como testemunhos de várias épocas históricas e de outros tantos conjugados acontecimentos sociais, políticos, religiosos, institucionais e comunicacionais, talvez porque o agora cónego António Rego tenha, como bem viu o actual Patriarca de Lisboa, “aquela maneira açoriana de ser português, homem do mar em qualquer praia a que chegue”, expressa “naquele jeito de comunicar sempre, usando os meios mais sofisticados do modo mais natural; por isso tem e terá sempre os auditórios que quiser ter, porque todos queremos ser tratados como pessoas entre pessoas, [...] multidão dos que o temos como amigo”, modelo de Padre e Jornalista para uma Igreja aberta à Humanidade, mas fiel ao Verbo do seu Senhor.
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Em RTP-Açores:



























"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 05.07.2014):


























e Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2676