quinta-feira, fevereiro 20, 2014



As carapuças de Capucho


O teatro político-partidário nacional foi há dias animado pela expulsão de uma leva de filiados no PSD, com destaque para o seu dirigente “histórico” António d’Orey Capucho, – facto que motivou comentários a rodos nos órgãos de Comunicação Social e nas Redes Sociais, não faltando até, em alarmado coro, inúmeras análises, protestos e/ou congratulações de grupos, comentadores e lobbies vindos à cena denunciar mais uma das degenerescências da partidária vida lusa (facto em si indiscutível!), e mais purgas anti-democráticas, benfeitorias e/ou saneamentos, zelos jurídico-penais e insólitos exageros de letra, – tudo conforme as bitolas, juízos e interesses em jogo na costumeira febre com que tais dramas sempre tangem sensíveis cordas e nervos num país que quotidianamente se esfrangalha...


– E assim foi, tanto mais quanto, no caso António Capucho, dourados são os seus lembrados brasões, emblemática figura que ele é do nosso democrático panteão ante (oposicionistas tempos da CEUD e da CDE) e pós-abrilino (fundação do PPD de Sá Carneiro)..., pelo que ainda a propósito das suas probas barbichas e/ou méritos não faltaram ditirambos abonatórios pelo tanto que ele lavrou em altos serviços dedicados à governação, à Pátria e ao mundo (detentor que aliás é da Grã-Cruz da Ordem do Infante e Comendador das Ordens de Mérito do Luxemburgo e Espanha)!

Acontece porém que este cavalheiro da velha guarda social-democrata resolveu alinhar eleitoralmente contra o seu próprio partido, em cujas listas antes desejou concorrer para vir a ser nada mais nada menos que presidente da Assembleia da República (ambição ardente e perdida a favor de Fernando Nobre, também este iluminado cidadão, ainda hoje, tal como ele, insistindo em que tem “perfil” para Presidente da República, o mais alto grau e a mais excelsa magistratura da Nação)...



Porém, fatalmente, lá acabou António d’Orey Capucho banido da impoluta falange de Passos, Relvas, Isaltino & Cia. Lda. (conforme estipulam Estatutos do partido que ele bem conhece e que ajudou a tecer), por ter andado dentro e fora, faca na liga, olho na Lapa, fisga aqui, mira acolá, lutando contra a sua própria camisola interior (encoberta por outra provisoriamente envergada, até ver), mas... enfim, ligado ao PSD, filiado a balancé (ou apenas em suspensão preventiva, sabática ou temporária, pouco adiantando aqui tão subtis véus?).


– Ao menos, por ora, quem ficou de capuz enfiado quando o PSD tentou “punir” os nossos Deputados Açorianos (de resto em coerência totalmente diferente!), não terá pio a abrir em toda esta carapuçada, já entretanto a caminho e ensaiando novos fracassos institucionais e pessoais no seu carnavalesco bailinho partidocrático...
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 21.02.2014):