sábado, março 22, 2014



As Penúrias da Fome


A Semana da Cáritas foi este ano motivada pelo tema “Unidos no Amor, Juntos contra a Fome”. Trata-se, sem dúvida, de um problema duplamente perspectivável, com o qual se pretendeu focar o crescente e dramático fenómeno da Fome!


– Manifestação de um profundo e escandaloso desequilíbrio, quando não de absoluta negação ou desfalque dos mais elementares Direitos do Homem, a Fome, tal como a Pobreza (mas ultrapassando-a no grau de desumanidade e desumanização que revela e concretiza), não é todavia já um acontecimento afastado de nós, visível ou audível como lancinante grito ou eco à distância de continentes, paragens inóspitas, áridas zonas vagamente tribais, ou em metrópoles empestadas, longínquos redutos e periferias de si mesmas nos subúrbios da Terra...


De facto, não é esta a sofrida realidade, nem a feição daquilo que nos atinge de perto, qual calvário de amarguras e carências à porta, nas ilhas, redondezas das nossas habitações e habituações...


– Ora na passagem destes dias muitas foram as campanhas, debates, programas e justas denúncias a que assistimos, sendo que tais acções de sensibilização foram oportunidade para novos alertas e revelações, dados estatísticos e degradantes e vergonhosos impasses corajosamente trazidos a maior visibilidade, conquanto por entre ignorâncias políticas intencionais, cumplicidades sistemáticas e escamoteamentos socio-estruturais, alguns até aceites com complacência, apaziguamento, alienação ética, cegueira histórica e desculpabilização religiosamente acomodada!


Este flagelo, atingindo agora também largas camadas da classe média caída ou retornada a uma vida pobre e faminta de tudo, foi profeticamente abordado em macro-dimensão objectiva por Josué de Castro na sua memorável Geografia da Fome (1946), reforçando-se aí a ideia de que a Fome não se resolve apenas, nem sequer principalmente, com “esmolas de caridade” nem com lenitivas “assistências sociais”, apesar destas serem tão necessárias e urgentes hoje como o foram em violentos tempos de guerra, ou durante séculos de opressivo subdesenvolvimento, vil exploração e opressiva penúria...
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Em "Azores Digital":


















RTP-Açores:


















e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 22.03.2014):