sábado, junho 28, 2014



Os Modelos da Festa 

De entre os valiosos estudos de Etnografia que Luís Ribeiro (1882-1955) nos deixou, contam-se alguns textos sobre as festas e tradições populares do São João na Terceira, sendo ali traçada a compósita linhagem mítica, histórico-cultural, simbólica, profana, religiosa e festiva da sua provável e distante origem pagã (ligada a ritos de fecundidade solsticiais) e da suas sincréticas modalidades ao longo dos tempos. Porém, num desses textos, de 1947, onde se dizia que “as festas joaninas cada vez mais esquecidas” estavam “em risco de desaparecerem”, o nosso etnógrafo distinguiu logo “as festas populares das da nobreza de Angra”...


– Quanto às primeiras eram as mesmas caracterizadas pela realização de fogueiras, luminárias e queimas de fogo propiciatórias, muito embora também lhes estivessem associadas outras práticas e cerimoniais com água, plantas e flores, ritos medicinais ou de esconjuro, sortes casamenteiras e coscinomâncias.

 Porém, no que se refere às segundas, já o programa era distinto, e assim, “à semelhança da corte, os nobres terceirenses organizavam bandos, cavalhadas, encamisadas, touradas, iluminações e festas religiosas” (na ermida, edificada no século XVI, no canto da Rua de São João para a da Sé) que eram acompanhadas pela “nobreza a cavalo” e, por determinação do Bispo D. Jerónimo, em 1611, também pelo “cabido da Sé”!


De resto, veja-se lá, as festas de São João, sempre estiveram tão radicadas no espírito dos terceirenses que estes as não dispensaram nunca, nem sequer em 1641 durante o cerco ao Castelo (com festejos nas trincheiras, redutos e fossos, tiros de mosquete e peças de bala); e tudo sempre em louvor do nome do Santo e dos seus nominais herdeiros, à cabeça dos quais, naquelas eras de vera Restauração, estava o monarca D. João IV, que até no dito nome “o fez Deus grande”, segundo testemunho de um clérigo seu contemporâneo...

– Ora se tudo isto nos pode levar longe no tempo, também não deixa de nos devolver ao presente, onde estamos em quase idênticos festejos, conquanto ainda à procura de modelos alternativos, mas “cercados” agora nós e armados apenas... de pólvora seca!
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo", 28.06.2014),

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