sábado, agosto 09, 2014


A Imagem e o Espelho



O Editorial do “Diário Insular” (DI) de anteontem (07.08.2014) é um excepcional texto de análise e fundamentada problematização dos modelos hegemónicos da programação televisiva que enxameia e mentalmente conspurca o nosso espaço público.

– Trata-se de um artigo que honra este jornal, tanto quanto constitui ensaio de reflexão e registo crítico sobre o modo, dimensão e alcance daquela tão massiva exposição mediática “nas tomadas de decisão quotidianas, quer na vida pessoal [...], quer na vida em comunidade”.


Assim, começando pela questão da influência efectiva que nas percepções e acções do povo terá tão sistemática e panóptica programação (“mesmo pimba e mesmo pró reles”), o DI alveja de seguida os agiotas e oportunistas esquemas de negociata de catálogo e pérfido figurino que, sobrepondo-se aliás à já de si amiúde indigente, subserviente e pindérica produção local, “uma vez por outra aterram [...] aí pelos Açores, certamente onde são dadas condições (...) para que tais desatinos ocorram. Incautos, como em muitas outras circunstâncias, os açorianos lá criam as condições, certamente na esperança de o seu concelho, a sua terra, ganharem notoriedade, serem vistos ou coisa parecida”...

– E verdade é que o que está “em causa não é apenas o retorno para os Açores. É também o aleijão ético e moral de participar num processo que provavelmente estará a transformar este país numa espécie de ‘freak show’ dos pobrezinhos”!


Ora para quem presenciou o último “Verão Total” (tele-subproduto, provinciano e rafeiro, vendido à RTP pela “Coral”, numa tosca e aviltante parceria, neste caso, com a Câmara da Praia e com a serventia habitual – desde há tempos ainda mais medíocre e subserviente – da sua Delegação na Terceira), em nada o cenário denunciado pelo DI seria menos adequado!

– E depois, entre as potencialidades imensas de um (ausente e desperdiçado!) retrato fiel e honroso da Cidade e do Concelho, das suas gentes, valores e patrimónios, e aquela arrivista e humilhante pimbalhada toda (político-institucionalmente cozinhada e irresponsavelmente consentida aqui!), a distância é tão grande como a que separa as imagens reais dos aleijões engendrados à exacta e burlesca medida dos espelhos que cegamente a reflectem e pagam...

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e “Diário Insular” (Angra do Heroísmo (09.08.2014):