domingo, outubro 05, 2014



Origem e Destinos do CDS-PP
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1. Está o CDS-PP comemorando o seu 40.º Aniversário com uma série de iniciativas nacionais e locais, tendo cabido há uma semana a vez aos Açores. Na altura em que escrevi uma primeira versão abreviada deste texto, cumpria-se agenda da visita do seu actual presidente nacional (Paulo Portas) à ilha Terceira (Angra do Heroísmo), durante a qual tiveram lugar visitas de trabalho e reuniões, para além de uma Sessão Solene onde foram homenageados os primeiros dirigentes eleitos em congressos regionais do partido, e bem assim os seus ex-presidentes Rui Meireles, José António Monjardino e Alvarino Pinheiro. 


2. Fundado em 19.07.1974 por um referencial grupo de personalidades situadas numa área que abrangia democratas-cristãos, conservadores e liberais (v.g. Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Basílio Horta, Sá Machado e Xavier Pintado), a instâncias de diversos membros das Forças Armadas (nomeadamente de Almeida Bruno, um heróico combatente da guerra na Guiné e chefe da casa militar de Spínola), o CDS foi tendo crescente, conquanto não linear, importância na vida político-partidária, parlamentar e governativa portuguesa, aliás marcada pela evolução (e também pela regressão...) da Democracia, pelas trajectórias e dinâmicas conjugadas dos partidos, movimentos e restantes corpos sociais, a par dos seus sucessivos percursos estratégicos, reconfigurações identitárias e estilos de liderança (Freitas do Amaral, Lucas Pires, Adriano Moreira, Manuel Monteiro, Ribeiro e Castro, e Paulo Portas).


Como podemos reler no seu próprio livro O Antigo Regime e a Revolução: Memórias Políticas (1941-1975), Freitas do Amaral – cujo pai tinha sido secretário de Salazar e deputado da União Nacional (UN) e da ANP (Acção Nacional Popular) entre 1957 e 74 – era na altura no 25 de Abril um jovem professor de Direito (tendo aliás depois sucedido a Marcello Caetano em cujo reformismo acreditara e a quem pessoalmente fora leal), após ter sido membro da Câmara Corporativa, embora tenha sempre recusado aderir àquelas organizações do Estado Novo, tal como não aceitara o cargo de ministro da Justiça em 1973.


– Porém, na criação deste partido, como é sabido, a par de Diogo Freitas do Amaral coube a Adelino Amaro da Costa desempenhar um papel nuclear na orientação ideológica e estratégica do CDS, dando-lhe, embora em diferentes medidas e tonalidades, tal como consta do seu primeiro Programa, uma original feição “centrista” e democrata-cristã, defensora de «uma sociedade mais justa onde as pessoas possam ser tratadas em pé de igualdade, sem discriminações, nem privilégios», reclamando-se mesmo de inspirações recolhidas do notável “humanismo personalista” de Mounier – identicamente também partilhadas por largas faixas do então também recém-criado PPD (06.05.1974) de Francisco Sá Carneiro – e em parte significativa decorrentes da excepcional e talentosa influência teórico-prática do próprio Amaro da Costa (membro do Opus Dei).




 3. Nos Açores, nos últimos tempos tendo de certo modo elegido a Saúde, a Educação e os Transportes como áreas preferenciais das suas atenções e das suas intervenções político-parlamentares regionais, de ilha e autárquicas, apesar de uma evidente e tendencial quebra eleitoral, com oscilações de implantação estável no todo do arquipélago (especialmente em S. Miguel, mas ainda em alguns dos seus tradicionais “bastiões” concelhios e de freguesia), o CDS-PP nos Açores continua ainda marcar pontualmente, conforme pode e sabe, certas agendas e debates importantes.

– E isto apesar de um notório decaimento da sua dinâmica de participação e reflexão conjuntas a nível interno, e do trânsito, em fuga interesseira e carreirista, ou de mero deslocamento (v.g. para as hostes “socialistas” do PS!) oportunista, de descarados trânsfugas inter-partidários (fauna infelizmente residente em quase todos, muitos, clientelismos de partido e seus aparelhos, domínios, serventias e proventos, alguns deles efémeros e desonrosos, é certo, conquanto conjunturalmente lucrativos enquanto duram, para mal de todos e descrédito ético e axiológico da Democracia e da Autonomia...


Todavia, nas ilhas açorianas e nesta Região Autónoma, é justo lembrar e assim aqui se pretende avivar acima de tudo – nesta incentivadora passagem do 40.º Aniversário da sua fundação – todos os empenhos e trabalhos regionais dos centristas e democratas-cristãos, desde aquele Memorando (30.12.1975) de contra-posição crítica ao Ante-projecto de Estatuto Político-Administrativo elaborado pela Junta Regional, e logo depois, desde as pioneiras Legislaturas (1976-80, 80-84 e 84-88), então com destaque e méritos para Rogério Contente, Fernando Monteiro, Rui Meireles e Alvarino Pinheiro (deputado este entre 1984 e 2006, e grande e incansável impulsionador do relançamento, consolidação eleitoral e credibilização político-institucional do CDS-PP no Arquipélago) –, até hoje, que este partido, agora dirigido por Artur Lima – concorde-se ou não com os seus ideários e práticas ao longo destes anos –, tem um passado balanceado de consideráveis contributos positivos para a construção e defesa da Autonomia e para o prestígio das instituições insulares, a todos os níveis da nossa vida colectiva!


 – Como se disse antes (e nunca será de mais repetir...), oxalá assim fosse sempre sobremaneira evocado e merecidamente reconhecido, talvez desse modo evitando-se algumas detectáveis descoordenações e outros menosprezos de atendimento ou deslizes de gestão política real e simbólica que, mais dia menos dia, cairão afinal (como noutros quadrantes partidários identicamente acontece!) em cima das costas (eleitorais, político-partidárias, profissionais, pessoais e familiares) de tantos dedicados dirigentes e militantes que convicta e esforçadamente permanecem no terreno, lutando, contra ventos e marés, por aquilo em que acreditam ser o melhor para a sua terra, porém bastas vezes em troca de nenhum ganho particular, quando não até penalizados por revanchismos, olhares displicentes, ouvidos moucos e históricas ingratidões, na Região e no País, entre os seus próprios camaradas, amigos e companheiros, só aparentemente fiéis aos ideais de origem e raramente solidários face aos desafios do destino...
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Em "Diário Insular" (05.10.2014):