terça-feira, dezembro 16, 2014


ENTREVISTA AO “DIÁRIO INSULAR”
Angra do Heroísmo, 17 de Dezembro de 2014
____________________________________________


NINGUÉM MERECIA 
ESSE MEDÍOCRE PROGRAMA!


 “DIÁRIO INSULAR” (DI) – Como viu e com que ideia ficou do “Prós e Contras” de Segunda-Feira passada?

EDUARDO FERRAZ DA ROSA (EFR) – Vi esse medíocre e ridículo programa com um misto de surpresa (embora a expectativa não fosse grande) e forte desagrado, para não dizer com incontida indignação!
  
Na verdade, desde o cenário e correspondentes figurinos montados para aquele espectáculo de corte e cortesãos – veja-se, por exemplo, o lugar de poder simbólico e institucional, apartada primazia espacial e hegemonia de referências, em jeito de pedestal de Poder tutelar em cadeirinha de sala de trono, onde colocaram o vice-líder e presidente do executivo do PS-A, ao contrário dos habituais painéis de discussão para contraditório – até à calculada escolha das personalidades em palco e plateia a quem foi dada palavra, tudo foi planeado num guião pobre e exibido de modo totalmente condicionante, manipulador e estrategicamente alinhado para a produção ou desconstrução dos efeitos sequencial e denunciadamente debitados, desde o princípio ao seu abrupto e folclórico fim...

– E ainda tivemos de suportar aquela lamechice de laudes, mais ou menos líricas e bucólicas, com alguma mal disfarçada chocarrice paternalista e quase ofensiva sobre vacas, turistas, a carninha preferida do talho da Fátima e alguns outros caquécticos lugares comuns sobre cultura!


 Ninguém merecia, no meio de tão encarneirado oceano mediático, uma tragicomédia apologética daquele calibre e àquele preço; nem sequer quem talvez a terá fomentado, cá e na capital, sabe-se lá com que objectivos centralistas...

DI – Com excepção do PS, os partidos políticos manifestaram-se contra os critérios usados nesse Debate. Como entende tais tomadas de posição?

EFR – Trata-se de uma reacção compreensível, plenamente justificada e que como tal foi concretizada numa queixa apresentada contra a RTP à Entidade Reguladora da Comunicação Social por todos esses partidos com representação parlamentar regional (PSD, CDS/PP, PCP, BE e PPM), com base na evidente parcialidade, não equitativa e discricionária, com que foi ali feita a selecção dos intervenientes...

– A própria presidente do órgão máximo da Autonomia acabaria por ficar (ou ser) insolitamente afastada!

E depois, relembro, até a FLA deu sinal de si, queixando-se de não ter sido chamada a pronunciar-se sobre a nossa “aventura” autonómica, acabando aliás por ter razão a posteriori na medida em que a apresentadora não se coibiu de evocar o seu líder histórico, embora apenas de modo nominal e quase tão superficialmente como em tudo o resto.

DI – Como avalia a presença e a participação da Terceira nessa transmissão televisiva nacional?

EFR – Não há palavras para classificar tamanho desplante!


Sem querer ofender ninguém, mas convidar e conseguir juntar apenas meia dúzia de adolescentes para enquadramento daquela escassa assistência (que me escuso de qualificar), não lembrava a ninguém...

Não há memória de tão surrealista e inferiorizante prestação da Terceira e da sua delegação da RTP!

– Valeu, talvez, o equilibrismo de Álamo Meneses, e – apesar do menosprezo em que todos, leviana ou cobardemente, deixaram cair o problema da Base das Lajes – a tentada irreverência fugaz de Roberto Monteiro.

Todavia, infelizmente e por muito que nos custe assumir, a imagem que foi dada da nossa ilha, e do que já (não) valemos em certos domínios, corresponde de facto mesmo àquilo que ali deixámos mostrar, e aonde chegámos por culpa própria, cumplicidade silenciosa, ignorância, preguiça e serventias de todo o género, numa escalada de menoridades das quais dificilmente agora, sem líderes, elites, credibilidade e efectivo poder algum, dificilmente sairemos amanhã...

– Como se viu anteontem!
_________

Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 17.12.2014):



















e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 18.12.2014):