sábado, maio 23, 2015

As Tribos da Capital

____________________________________________________




Os recentes acontecimentos de violência e destruição que ocorreram em Lisboa e Guimarães por ocasião das comemorações da conquista do campeonato português de futebol constituíram novamente manifestações de toda uma complexa situação social que ciclicamente aflora e explode um pouco por toda a parte (e entre nós também, como se verificou agora), com as consequências e os custos que todos conhecemos e que constituíram motivo de informação, transmissão ou cobertura mediáticas para grandes audiências, às quais não faltaram amplas perorações do habitual e interessado nacional-comentarismo mais ou menos passional e epidérmico que temos, num quadro quase idêntico àqueles que vem galvanizando a nação e preenchendo manchetes, paixões míticas e arroubos de patriotismos, regionalismos ou clubismos mais ou menos de substituição ou transferência, numa série de mecânicas do imaginário em consonância com euforias de alienadas massas, de modo totémico…





– Ora apesar de continuarmos a não exercer sobre tal fenómeno uma urgente e aprofundada reflexão, e de persistirmos em não procurar implementar as medidas que, mesmo que em parte ou pontualmente apenas, o prevenissem ou minorassem, o certo é que as tribos do futebol (como Desmond Morris lhes chamou num livro famoso, bem a par das temáticas por ele confluentemente abordadas no Zoo Humano e no Macaco Nu e louco...), o que vemos é instalar-se somente uma polémica política e securitária entre hostes partidárias, forças policiais e poderes autárquicos, qual deles procurando maiores dividendos ou passa-culpas que os desresponsabilizem desta barbárie real, simbólica, cívica e desportiva a que especialmente na capital a populaça ensandecida se entregou, instigada!



Porém o mal tem raízes profundas e vem de longe, pelo que deste neo-tribalismo sistémico aonde nos atolámos dificilmente nos livraremos dentro do sistema e dos valores que estão na sua própria génese, e na lógica inerente ao hibridismo decadentista que aliás o perpetuará sempre em cadeia, em todas as práticas do nosso quotidiano cultural e civilizacional, e nos espaços e discursos públicos e privados que nos cercam.   
__________

Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 23.05.2015):



















RTP-Açores:
"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 23.05.2015):



























e Azores Digital
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2900: