sábado, janeiro 23, 2016


A Roleta dos Boletins
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No livro de Costa Alves sobre o Adagiário Meteorológico português aqui recordado antes, os Açores também estiveram presentes, como quando foi analisado o provérbio “Com baleias no canal, terás temporal”, ditado não alheio ao universo simbólico que Nemésio exprimiu no título de Mau Tempo no Canal, conquanto usado em Mudam os Ventos, mudam os Tempos para relembrar a paradigmática quarentena e o recorrente impedimento de qualquer tentativa de apoio ou socorro de urgência a que estiveram sujeitas as Flores e o Corvo em 1991 – ou como há pouco, e desta vez mortalmente, tornou a ocorrer! –, repetindo-se então a oeste que Quando o mar zurra, atrás vem quem no empurra!


– De resto, em consonância e de idêntico modo, Costa Alves ainda seleccionou uma série de outros aforismos profundamente ligados às condições existenciais e ambientais, geobiofísicas e psíquicas insulares...


Ora conhecendo-se que nomes de tempestades ciclónicas e de violentos e ameaçadores fenómenos naturais, ao fechar e abrir os anos, e de prioridade em sequência baptismal, vão de Arlene a Wilma, Alberto a William, Andrea a Wendy, Arthur a Wilfred, Ana a Wanda, e de Alex, talvez em 2016 (quem o pressagiará?), a Walter – saltando-se alternadamente de belos mas impiedosos nomes femininos para outros de menos malvados senhores que nominalmente regulam desgraças e eleições do ambiente, conforme em O Anticiclone dos Açores sinalizou Anthimio de Azevedo (aliás ultimamente, e como bem avisado geofísico açoriano, queixando-se das mudanças climáticas e da vadiagem do nosso anticiclone...) –, como não estarmos hoje atentos e acautelados para aquilo que nos pode sair amanhã na prospectiva roleta do boletim meteorológico e nas histriónicas urnas da provável presidência dos nossos destinos... –, como se não bastassem todos os demais desterros, derrocadas, ventos e esquecimentos do tempo e da sorte a que fomos condenados e estamos geo-historicamente votados, para bem e para mal dos pecados e virtudes de tantas gerações, neste frágil país e no precário arquipélago de almas incarnadas em nove pequenas ilhas, no meio de um imenso Oceano.
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 23.01.2016):




























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