Desgraças da Semântica
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Na primeira apreciação ao
resultado das Presidenciais, o secretário-geral do PCP fez afirmações que
tiveram o condão de provocar comentários repetidos em cadeia e juízos interpretativos por uma enfiada de pressurosos “analistas”, jornalistas em
praça, historiadores com tarimba e preceptores do espaço público, a par de articulistas
e políticos de quadrantes menores.
O pomo da indignação de tão
zelosos cavalheiros-guardiães e feminis-guardiãs da “honra” feminina – em coro
de proverbial e simétrico “anti-machismo” – foram as palavras que transcrevo e
sublinho, até porque foram amiúde truncadas,
quando não arbitrariamente sinonimizadas,
para intencionais apertões de
sentido, conforme calhou ao argumentário de tão desobrigados actores (certamente
tenazes defensores de todos os direitos e
deveres de todas as mulheres)!
– Disse Jerónimo: “Nós podíamos
apresentar um candidato ou uma candidata assim mais engraçadinha
(...). Em que fosse fácil, com um discurso
ajeitadamente populista (...), aumentar o número de votos. São opções e eu
não quero criticá-las. Mas (...) nós partimos sempre para estes combates, onde
se travam combates de ideias, combates
com ideias políticas, com princípios”.
Ora onde de facto se referiu “candidato”
ou “candidata” (embora com a
adjectivação caindo apenas no singular feminino) muitos quiseram ouvir as finezas e os trejeitos criticados (bem notórios no identificável pendor populista, ilusionista e até circense de
certas actuações histriónicas mas sem substância...) como se visando o BE,
apesar do franco sorriso, entre surpreendido
e embaraçado, de Edgar (talvez a sonhar, em indubitável esperança, com aqueles horizontes sérios – quem disse que “impossíveis”? – de vida e sociedade novas, que ele, sincero mas visionário, até recolheu e
citou de Ernst Bloch, sem que ninguém o tivesse sequer retido e relevado nos púlpitos
do PCP...).
– Ao menos Catarina, Marisa e Mariana,
inteligentes e graciosas, mostraram enxergar os (reais) alvos, sem que tivesse
sido necessário a um calejado e sofrido Jerónimo vir desculpar-se, humilde no
recuo e na elucidação semântica daquele seu inusitado sentido de humor...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 30.01.2016):
Azores Digital:
e RTP-Açores: