A Devoção e os Cânticos
de Manuel Emílio Porto
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A oferta trazia dedicatória
fraterna e assinalava, para além de indefectível amizade, uma gentil e pessoal recordação mariana ao lembrar-se da
minha conferência (“Maria e a Ternura de Deus em Antero de Quental”) que o
nosso mutuamente querido Padre Júlio da Rosa (Horta, 24.05.1924-03.11.2015) me
pedira que fizesse, como de facto a proferi no “Amor da Pátria” (a 28.05.19929),
e depois foi arquivada na Estrela da
Manhã (N.º 2, Ano II, 1993), revista da Academia Mariana dos Açores que ele
fundara em 1990, com o olhar naquela Senhora das Angústias a quem tantos laços
de vida e reminiscência familiar faialense me ligam.
– A dádiva, bela publicação ilustrada do IAC (Angra do Heroísmo, 2015), foi Maria na Música na constante da História Açoriana, de Manuel Emílio Porto, esmerada obra competentemente organizada e coordenada por Maria de Jesus Maciel, com o contributo e créditos de solidárias partilhas documentais e iconográficas de vários amigos devidamente identificados por ela.
Este livro, adiantara-me já com razão o meu atencioso e atento amigo, há-de juntar-se doravante, com todo o merecimento e justificado interesse, às “outras obras aplicadas ao apaixonante estudo antropológico-cultural, religioso e filosófico-teológico dos temas marianos que marcam a História dos Açores e o Catolicismo em Portugal”, tal como aliás voltei a salientar aqui, há poucos dias, a propósito da Mariologia e da recente visita ao nosso arquipélago da Imagem Peregrina de Fátima (1).
– E como haveria de não ser assim,
atendendo agora ao rico conteúdo desta primorosa edição que ao simples folhear
das suas cerca de centro e trinta páginas – por entre sugestivas imagens,
significativas peças de escrita, notas de biografia, pesquisa e inventário de
acontecimentos, sucintos ensaios histórico-musicais, musicológicos e
religioso-cultuais, e curiosos apontamentos da epistolografia trocada precisamente entre Emílio Porto
e Júlio da Rosa –, ainda inclui um minucioso registo de Invocações de Nossa
Senhora nos Açores e uma Antologia de Composições/Pautas Marianas daquele picoense
que foi um incansável e criativo Músico e Cidadão (compositor, mestre, regente
coral e director artístico, professor, animador cívico-cultural e associativo,
escritor, jornalista, teólogo e político da sua ilha-montanha), conhecido e
considerado em todas as nossas ilhas e no País, ou aonde quer que cheguem as
nossas vozes?
Manuel Emílio Porto nasceu na
ilha do Pico, lugar da Ribeirinha, freguesia da Piedade, a 20 de Dezembro de
1935. Estudou no Seminário de Angra, formou-se em teologia e foi ordenado
sacerdote. Dispensado das Ordens Sacras em 1976, serviria mais tarde em Angola,
como capelão militar, até ao seu regresso aos Açores um ano antes. Desempenhou funções
políticas (Vereador da Câmara Municipal das Lajes e Deputado regional independente,
eleito pelo PS, durante as duas primeiras legislaturas autonómicas, tendo sido
secretário da Mesa e da Comissão de Assuntos Políticos e Administrativos do
Parlamento açoriano). Docente de Língua Portuguesa e de Educação Musical no
Externato Lacerda Machado e na Escola Preparatória e Secundária das Lajes, na
sua ilha natal desenvolveu intenso magistério e labor, constituindo e ensaiando
Grupos Corais infantis e juvenis, Ranchos de Natal e de Reis. Premiado em
vários Festivais de Música na Região e no Continente, recebeu o Prémio de Melhor
Música na Gala Internacional dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz.
Tendo parte do seu vasto repertório
e de múltiplas actuações, interpretações e colaborações ficado entretanto gravada
em sucessivos registos e Discos Compactos – como minuciosamente ficou elencado no
capítulo sobre a sua vida e obra, e na respectiva introdução justificativa e
elucidativa das suas origens, vocação, percursos e relevos biográficos e de
trabalho –, Emílio Porto, a par “da composição de textos sacros para liturgia,
harmoniza e compõe um significativo número de temas, quer da música tradicional
quer da nova música açoriana, quer do fado”, referência merecendo sempre a
célebre harmonização das Ilhas de Bruma,
bem como os arranjos corais do Hino Nacional, do Hino dos Açores e do Hino do
Espírito Santo, entre outros.
– Condecorado em 2001 com o Grau
de Comendador da Ordem de Mérito pelo Presidente da República Jorge Sampaio, e
com a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico, dele mais realça Maria de Jesus
Maciel: “Herdeiro de um sorriso franco e divertido, de gargalhadas sonoras que
escarneciam e esconjuravam as situações mais ridículas, é a educação nos
valores do trabalho e do estudo que lhe foram incutidos na infância, que pautam
o caminho que lhe coube percorrer (...). Deixa a vida em pleno ensaio, regendo
o seu Grupo Coral e cantando com ele: ‘Lá no cimo da Montanha’, na Filarmónica
Liberdade lajense, às 22 horas, de 11 de Abril de 2012”.
Por seu lado, evidenciando “o
contributo deveras apreciável de Manuel Emílio Porto”, Artur Goulart – coordenador
do Inventário do Património Artístico da Arquidiocese de Évora –, traça-nos um indicativo
quadro sinóptico da Devoção Mariana (com especial referência para o fenómeno
das Aparições, desde Lourdes, em 1856, a Fátima, em 1917) e para a história da
Música Sacra em louvor da Virgem Maria, enquanto “reflexo de uma profunda
devoção (...) que acompanhou desde sempre os açorianos, tal como foi sempre
marcante em todo o país, desde a fundação da nacionalidade”, e assim assinalada,
por exemplo, nos repositórios histórico-documentais, religiosos e testemunhais complementarmente
presentes, entre muitos outros referenciáveis, em Alberto Sampaio (1899),
Gaspar Frutuoso, António Cordeiro, Frei Agostinho de Santa Maria (1707/1723) e
Carreiro da Costa, citados.
– “A história do culto a Maria, conclui
com inteira justeza Artur Goulart, nas diversas invocações, merece um trabalho
profundo e cuidado de investigação (...) A música está desde sempre incrustada
na alma açoriana; natural seria, portanto, que na devoção à Virgem ela se
manifestasse prodigamente”.
Ora é por receber este legado e o seu sentido – vividos e entoados ao longo de gerações e por isso mesmo,
como mais deve ser realçado desta Maria
na Música, na História, na Devoção e nos Cânticos do nosso Povo, que se nos
retornam mais eminentes hoje, tal
como assumidos pelo seu autor, o silêncio
profundo, as afeições do coração, o louvor e a gratidão não só pela terna inspiração e simbologia marianas aqui exemplarmente preservadas e assumidas
enquanto “linguagem da alma, do íntimo, daquilo que nos vai por dentro” –, quanto
também pelas excepcionais expressões
musicais e poéticas com que o nosso tão estimado Emílio Porto os acolheu,
recriou e concelebrou, com alegria e esperança.
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(1) Cf. Eduardo Ferraz da Rosa, "Devoção mariana congrega paradigmáticas significações",
em http://sinaisdaescrita.blogspot.pt/2016/02/devocao-mariana-congrega-paradigmaticas.html
em http://sinaisdaescrita.blogspot.pt/2016/02/devocao-mariana-congrega-paradigmaticas.html
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 15.03.2016):
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3126
e RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/a-devocao-e-os-canticos-de-manuel-emilio-porto_49799.
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3126
e RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/a-devocao-e-os-canticos-de-manuel-emilio-porto_49799.