sexta-feira, março 04, 2016


Os Cerrados da Crise (*)
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A anunciada descida do preço do leite pago aos produtores tem vindo a gerar justificadas apreensões em todas as ilhas (mormente na Terceira, como é sabido e era expectável!) e a todos os níveis da vida no arquipélago, por tudo quanto integradamente envolve e implica do ponto de vista político-económico-financeiro e empresarial, técnico-laboral, socio-familiar e cultural.




– Esta preocupante situação, a somar a outras de uma crise global que tem tanto de estrutural quanto de conjuntural, embora não seja historicamente inédita, tem na sua configuração específica e no actual quadro da complexa e movediça realidade regional, nacional e internacional, uma série de contornos e parâmetros que devem ser pensados em conjunto para a urgente e exigível procura de soluções minimamente consistentes, consensuais e mobilizadoras, que assegurem, tanto quanto possível, uma saída clara para este perigoso estado de coisas.


                                                                                                                                 Foto: João Montes Palma (2016)

Desde sempre os Açores viveram sob o signo de modelos produtivos caracterizados pela vigência de ciclos “mineiros” (monocultura predominante ou hegemónica) – trigo, pastel, laranja, pastagem e carne (“monocultura da vaca”), com todas as consequências resultantes de imposições dos poderes estabelecidos (e do acatamento e subordinação aos mesmos!), para mais condicionadas as ilhas por decisivos factores geo-humanos (demografia, emigração, qualificações, mentalidades e hábitos, rotinas ancestrais, socioeducativas e cívicas); sucessivos condicionamentos histórico-políticos, comerciais, industriais, aduaneiros e logísticos; dependências típicas de economias de escala muito restritivas, e (enfim...) sujeições administrativas e territoriais a divisionismos e desequilíbrios internos, abandonos a mercancias nacionais e trocas de favorecimentos diplomáticos, militares e financeiros, numa constitucional adjacência amiúde quase ou para-colonial... –, apesar das mais-valias e valências naturais e antropológico-culturais e dos progressos conseguidos, permanecendo a Região numa plataforma ainda assente em fragilidades grandes, sustentabilidades e narrativas dúbias!



 – O presente cerrado (que oxalá não atinja o sistema bancário local) é mais um dos pastos em que continuaremos caídos e peados...


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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 05.03.2016):





























Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3122:


























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(*) N.A.  - Uma segunda versão, revista e aumentada deste texto será publicada em "Diário dos Açores".