Indiferenças Históricas
e Demissões Actuais
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“A indiferença cresce. (...) É esta mesma apatia que encontramos também na área política (...).
“Não se trata, para falar com
propriedade, de ‘despolitização’; os partidos, as eleições, continuam a
‘interessar os cidadãos, mas do mesmo modo (e em menor medida, aliás) que as
apostas nas corridas, a meteorologia do fim-de-semana ou os resultados
desportivos. A política entrou na era do espectacular, liquidando a consciência
rigorista e ideológica em benefício de uma curiosidade dispersa, captada por
nada e por tudo.
“(...) A res publica encontra-se desvitalizada, as grandes questões
‘filosóficas’, económicas, políticas ou militares suscitam mais ou menos a
mesma curiosidade desenvolta de um qualquer fait
divers; todos os cumes se abatem pouco a pouco, arrastados pela vasta
operação de neutralização e banalização sociais”:
– Foi assim que um pensador
francês actual (nascido em 1944, professor de Filosofia na Universidade de
Grenoble e Doutor Honoris Causa pela
Universidade de Aveiro em 2013) –, numa análise às sociedades ocidentais e à
emergente civilização “pós-moderna” ou “hiper-moderna” – elencou algumas
características da era do vazio, título
onde compendiou tipificações das contemporâneas formações socio-históricas.
O tema é vigente e merece ser revisto a partir de tudo o
que nos cerca e bate à porta, para mais face à constatável deriva diária das nossas comunidades profundamente
marcadas não só por bloqueios viscerais face à possibilidade da sua
própria auto-consciencialização crítica
– a única que poderia levar à procura de modelos
e valores alternativos daqueles que ora as condicionam, regem e determinam
de modo hegemónico, e que as conduzem a estados de sujeição, vassalagem e
não-reconhecimento (isto é, de total alienação
subjectiva e objectiva) –, de tal modo que até as percepções antropológico-críticas do antigo niilismo trágico (clássico interrogador da condição humana e de
todas as discrepantes e contingentes formas de saber e existência (fossem como radical protesto libertador ou evolutivas superações de Consciência possível, Razão e Moral), se revelam elanguescidas e metamorfoseadas em insignificantes figuras de apatia
frívola, sonambulismo larvar, anomia face aos riscos, negação das alteridades e
fugas ao pensamento e à acção, “a
despeito das realidades catastróficas largamente exibidas e comentadas”!
– Formas, afinal, de
incompetências sistemáticas, preguiças de zelo patriótico, ausência de elites e
de lideranças esclarecidas, ignorâncias e menoridades em série, com recorrentes
indiferenças seculares e históricas demissões cívicas, culturais e político-institucionais, agora “democraticamente” próximas dos provinciais arranjos
pré-eleitorais que se seguem e das sub-repticiamente tentadas “diplomacias de
pé de orelha”...
E tudo aquilo, repita-se, poderia
ser dito e aplicado igualmente a propósito das presentes teses in abstracto, com foguetes políticos e
foguetões de ciência à mistura (à maneira da Guiana, ou de alguns dos seus
congéneres e co-implicados consórcios, aparelhos e complexos técnicos,
tecnológicos, industriais e militares?), com outros, alternativos e novos
interesses geoestratégicos sobre o ar e os mares dos Açores e da Base das
Lajes, ao aparente serviço (inocente ou intencionalmente neutralizante por
telecomando?) de agências e agendas
muito pouco claras, pouco debatidas e nada legitimadas, a nível regional e
nacional também!
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 17.07.2016):
RTP-Açores:
e Azores Digital: