sexta-feira, agosto 26, 2016


Uma Justa Homenagem

ao Dr. Duarte Soares


Mal sabia eu, por aqueles anos 70 do século passado – e não é sem sobressaltada percepção do tempo na própria escrita – que comporia estas palavras nesta data, quando os dias começam a fechar-se nestes finais de Agosto e já se aproxima um esquivo calendário outonal, por entre expectativas de partidas e regressos...



Todavia, o motivo das lembranças é hoje a honrosa e significativa Homenagem que na sua terra natal foi prestada a Duarte Soares, Médico-Cirurgião que distintos caminhos de clínica e humanidade tem percorrido, desde aquelas épocas de estudante arribado a Angra – quase adolescente no seu buço retraído, como quando lhe destinei praxe académica, integrativamente pacífica e escolarmente fraternal, em iniciáticas voltas à praça que leva o nome do liberal (desiludido depois?) das Viagens na minha terra, do Portugal na Balança da Europa, da Lírica de João Mínimo e das Folhas Caídas... –, até agora, digo, à contemporânea nova Praça, na Urzelina, ilha de S. Jorge, que acaba de ser baptizada com o nome do Dr. Duarte Soares, e cuja Reportagem pode ser vista aqui:


 Mas é mesmo por tudo isto que evoco hoje este Amigo e colega, e lhe dedico este texto (que mais podia aliás envolver muitos episódios de indefectível camaradagem, anos de convívio, trabalho, percursos e recursos da existência; alegrias e angústias do quotidiano, famílias, parentes; o Hospital, consultas, colegas e doentes duvidosos ou sós, ou que, fragilizados antes, partiram depois com renascido alento e esperança; sucessos e alguns desaires, porém, sempre, a vontade firme na persistência e na resiliência perante adversidades (antagonismos e ingratidões também):


 – Tudo, enfim, do que temporalmente moldou a sua, as nossas e todas as vidas, feitas ou refeitas face às circunstâncias, ao destino, à sorte, ao mérito, à procura da felicidade, do lenitivo ou da cura possível para o(s) mal(es) do corpo-alma, nessa interminável busca de regeneração e de esforçada reconstrução humana, ética e espiritual de pessoas e valores, tal como o Médico confessaria ao filósofo, e vice-versa...


... E ainda tal como tantos jorgenses, e todos quantos confiaram em Duarte Soares, em horas de carência ou aflição, o poderiam testemunhar, com gratidão, justo reconhecimento e partilhada alegria!
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Em Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3186:





























"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 27.08.2016):





























RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/uma-justa-homenagem-ao-dr-duarte-soares-_51227,


e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 28.08.2016):






sexta-feira, agosto 12, 2016


AUTONOMIA REGIONAL
E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
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ESPLENDORES E ILUSÕES
DA AUTONOMIA AÇORIANA


Em boa hora e com devida percepção das coisas e valores que lhe cabem reassumir contemporaneamente – por vocação, tradição interventiva, horizonte de reflexão, estudo e divulgação editorial e académica –, daquele que foi, desde a sua criação, um projecto de formação da consciência histórico-cultural, cívica e social desta ilha (dos Açores e do País, que de muitos e variados modos de tudo isso sempre careceram...) – nos contextos societários e geracionais da respectiva génese e acção ao longo de décadas –, decidiu o Instituto Histórico da Ilha Terceira (IHIT), agora presidido pelo nosso amigo e confrade João Maria Mendes, proceder a frutuosa parceria de colaboração regular com a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (CMAH), a qual tem louvavelmente correspondido, com vantagens mútuas, a tão abonado propósito, como aliás havia sido sempre defendido no nosso Instituto (e analogamente também o fiz, com outras agremiações regionais e nacionais, pelo que não posso deixar de congratular-me com essa resolução prática).


 – De resto, tal produtiva cooperação decorre felizmente de uma renovada e positiva coabitação institucional, ao contrário do que anteriormente se verificou em vários casos (porventura com culpas ou equívocos de entidades públicas e governamentais para com o IHIT, e vice-versa).


 Ora acaba o nosso Instituto de levar a efeito mais uma Jornada Histórica com o apoio da CMAH, desta vez sobre os 250 Anos da Capitania Geral dos Açores e durante a qual conferencistas e credenciados estudiosos da época em análise – Avelino Meneses, Madruga da Costa, Alberto Vieira, João Madruga, Alfredo Borba, Manuel Faria, Margarida Vaz do Rego, José Damião Rodrigues e Álvaro Monjardino –, procuraram recolocar criticamente e problematizar de novo aquele marco da vida político-institucional açoriana e portuguesa que trouxe, como sinalizara Reis Leite, “a mais radical alteração político-administrativa que alguma vez se operara nestas ilhas, [...] numa visão administrativa típica do século XVII e do despotismo iluminado”.



– Naturalmente que nem todas as perspectivas de abordagem possível a esta vasta e complexa problemática histórico-política, institucional, social e cultural foram ali aportadas, ficando talvez ausente, a meu ver, como principal lacuna das apresentações e dos poucos debates, uma mais detalhada e aprofundada atenção ao modo como a Capitania Geral foi recebida, entendida, sentida e particularmente contrariada em S. Miguel, e cujos modos ficaram plasmados não só nos acontecimentos da época, quanto também numa historiografia mais marcadamente construída a partir de outras leituras e propostas socio-geográficas, político-económicas, classistas e ideologicamente alternativas ou contrapostas, nos Açores, no País e no Estrangeiro, àquela que acabou por ser, de algum modo, a mais consagrada ou essencialmente mais consensual ao longos dos tempos e até hoje...


E isto mesmo pode aliás ser detectado nos conhecidos trabalhos e obras clássicas sobre este tema (nomeadamente nos sempre obrigatoriamente referenciáveis livros de Francisco Machado de Faria e Maia sobre os Capitães-Generais e na Corographia Açórica de João Soares de Albergaria e Sousa...) e, evidentemente, nas sugestivas teses académicas e demais ensaios elucidativos que tem vindo a ser produzidos e publicados entre nós (v. g., entre outros, por Avelino Meneses, Reis Leite, Madruga da Costa, Damião Rodrigues e Carlos Riley), tanto mais quanto também nesses diferentes e diferenciados horizontes críticos e doutrinários vai entroncar – ainda por variável  relação (assumida ou refractária...) a inspiradores contextos continentais europeus, britânicos e americanos (Brasil e Estados Unidos) – muita da subsequente produção teórica (e impulsos práticos...) sobre a Autonomia Regional, os chamados primeiros e segundos Movimentos Autonómicos e Separatistas, e as sucessivas tentativas de governação dos Açores, nessa roda do Tempo que percorremos (e sofremos...), como lhes chamou Álvaro Monjardino:



 – “ (...) Algumas com êxito institucional mas sempre comprometidas por penúria financeira, (...) até 1940 e ao Estatuto dos Distritos Autónomas das Ilhas Adjacentes, outorgado pelo Estado Novo e sujeito à rigorosa disciplina financeira que o caracterizou; este 3º período durou até 1976, em que terminou com a extinção dos distritos e a criação constitucional das Regiões Autónomas dos Açores (e da Madeira), precedida por alguns meses (1975/76) de Juntas Regionais, ainda dependentes do governo central. Só então as tendências autonomistas frutificaram, pode dizer-se que em pleno, no nosso arquipélago atlântico, algumas delas até exageradas na sua medida, nos seus meios de realização e até em ilusões de importância, quiçá de esplendor, que alguns julgaram poder-se atingir”... E outros sonham, por entre honras e proveitos, diga-se, estarem ambos, atingidos ou definitivamente perdidos...



– Valeu assim bastante esta rica Jornada, apesar do apertado Programa e do intenso ritmo das suas Conferências e Comunicações, pelas retomadas reflexões sobre o passado, todavia com os olhos bem postos, ou possivelmente mais podendo vir a ser crítica e comparativamente dirigidos ao presente e ao futuro dos Açores!
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Em “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 13.08.2016),
e RTP-Açores:

Azores Digital:
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 13.08.2016).


domingo, agosto 07, 2016


Autonomia e Consciência Histórica
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Em boa hora e com devida percepção das coisas e valores que lhe cabem reassumir contemporaneamente – por vocação, tradição interventiva, horizonte de reflexão, estudo e divulgação editorial e académica –, daquele que foi, desde a sua criação, um projecto de formação da consciência histórico-cultural, cívica e social desta ilha (dos Açores e do País, que de muitos e variados modos de tudo isso sempre careceram...) – nos contextos societários e geracionais da respectiva génese e acção ao longo de décadas –, decidiu o Instituto Histórico da Ilha Terceira (IHIT), agora presidido pelo nosso amigo e confrade João Maria Mendes, proceder a frutuosa parceria de colaboração regular com a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (CMAH), a qual tem louvavelmente correspondido, com vantagens mútuas, a tão abonado propósito, como aliás havia sido sempre defendido no nosso Instituto (e analogamente também o fiz, com outras agremiações regionais e nacionais, pelo que não posso deixar de congratular-me com essa resolução prática).


 


– De resto, tal produtiva cooperação decorre felizmente de uma renovada e positiva coabitação institucional, ao contrário do que anteriormente se verificou em vários casos (porventura com culpas ou equívocos de entidades públicas e governamentais para com o IHIT, e vice-versa).


 Ora acaba o nosso Instituto de levar a efeito mais uma Jornada Histórica com o apoio da CMAH, desta vez sobre os 250 Anos da Capitania Geral dos Açores e durante a qual conferencistas e credenciados estudiosos da época em análise – Avelino Meneses, Madruga da Costa, Alberto Vieira, João Madruga, Alfredo Borba, Manuel Faria, Margarida Vaz do Rego, José Damião Rodrigues e Álvaro Monjardino –, procuraram recolocar criticamente e problematizar de novo aquele marco da vida político-institucional açoriana e portuguesa que trouxe, como sinalizara Reis Leite, “a mais radical alteração político-administrativa que alguma vez se operara nestas ilhas, [...] numa visão administrativa típica do século XVII e do despotismo iluminado”. 

– Valeu bastante esta Jornada, à qual voltarei, pelas reflexões sobre o passado, mas com os olhos bem postos no presente e no futuro dos Açores...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 06.08.2016),
e Azores Digital:








quinta-feira, agosto 04, 2016

De Alexandria à Conceição,
ou Destinos de Biblioteca
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Os nossos amigos José Elmiro Rocha e Cláudia Alexandra Cardoso são os dois únicos concorrentes ao lugar de director(a) da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo (BPARAH), lugar vacante desde a morte do nosso saudoso camarada Marcolino Candeias. 

Ora tal concurso público, cujo desfecho não é conhecido até hoje – mas que, após decisão do seu júri, será apenas formalmente promulgado pelo Secretário da Educação, Avelino Meneses –, pelo facto de estar a verificar-se sensível demora, ou assim entendida, na divulgação do seu respectivo apuramento, está gerando expectativas em vários sectores da vida político-cultural, laboral, jurídica e partidária açoriana (mormente terceirense e angrense)...


– E não é de admirar, atendendo às valências daquele cargo, se bem que, na generalizada opinião popular ou na consciência vulgar, tal atenção decorra menos de autênticas paixões pelo mundo civilizacional (histórico-patrimonial, literário, artístico e cultural) dos livros e tombos, do cômputo dos currículos técnico-profissionais (específicos dos opositores admitidos) ou até da releitura do Edital do concurso, do que devido a fixações nos perfis sociais, quiçá políticos, ou mesmo partidários, ali presentes...

José Elmiro Rocha tem vasta carreira de direcção e gestão efectivas em Arquivo, Biblioteca e Ciências Documentais (desempenhadas na Horta e em Angra do Heroísmo); Cláudia Alexandra Cardoso exerceu proficiências em dois executivos do PS (nomeadamente na Educação e Cultura, usual tutela das áreas departamenatis em causa), e foi deputada regional socialista (aliás agora sintomaticamente removida das listas de Vasco Cordeiro, Sérgio Ávila, Roberto Monteiro e Fátima Albino)!




 – Mas seja como for ou vier a ser o desenlace desta disputa concursal, certo é que a/o preferida/o assumirá certamente um lindo rol de desafios numa instituição que, sendo Depósito Legal e tendo notável historial e provecto prestígio (ver os seus ex-directores aqui: http://www.bparah.azores.gov.pt/html/bparah-historia+diretores.html), vem sendo sujeita a inadmissíveis e copiosos constrangimentos, rotinas, arrastamentos, impasses estruturais e técnico-laborais (também por entre as mal-vendidas ruínas da rua do Marquês e os imbróglios provisoriamente soterrados nos alicerces e muros baços das suas futuras instalações!):



Tudo exigentes dossiers e processos resvaladiços, minados ou ainda potencialmente problemáticos e comprometedores (programática, político-institucional, orçamental e financeiramente) que irão povoar gabinetes, corredores, planos e projectos, ou não fosse a Biblioteca sempre símbolo/paradigma de ficcionais mistérios, espectrais segredos, belas lições e revelações concretas, desde a fabulosa e mítica Alexandria da antiguidade (passando pelas narrativas ao inspirador modo de Borges, Manguel e Eco...), até às paroquiais cercanias da colina angrense com a Direcção Regional da Cultura e o Santuário da nossa contemporânea Conceição, para onde vão ser carregados, transportados e reinstalados, durante meses e anos por aí baixo e acima, as ricas existências da BPARAH, oficialmente agora rebaptizada de Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro:



 – A mesma que o (actual) Governo Regional dos Açores já anunciou querer “inaugurar” (certamente para a fotografia de balancete do seu frutuoso mandato a caminho do termo, mesmo que apressadamente e a título precário ou improvisado – e não era sem tempo, diga-se, para limpar fachadas! –, provavelmente já com o novo director – ou a nova directora... – a empossar, ver-se-á quando, e como, assistindo à cerimónia do seu solene corte de fita, com mais ou menos água benta (para remissão de pecados originais...), e com outras fitas, efeitos e desfeitas à margem da emblemática placa da festa de abertura para a nossa posteridade histórico-cultural (e política, naturalmente, como em todo o caso sempre identicamente o seria, com mais ou menos capacete partidário em tanta cabeça insegura e conformada estante...).
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 04.08.2016):




























"Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 04.08.2016):



























Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3176,
e RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/de-alexandria-a-conceicao-ou-destinos-de-biblioteca_51064.