sexta-feira, outubro 21, 2016


Protelações e Definhamento

de um Projecto Democrático
__________________


Muitas têm sido as análises feitas aos principais acontecimentos que pautaram a vida nacional e regional na semana finda, com natural destaque para as eleições açorianas e para os desaguisados relativos ao Orçamento de Estado, à política social (pensões) e às orientações e defensivas opções governamentais “socialistas” em áreas programáticas, ético-políticas, morais, técnico-profissionais e (até) político-comportamentais e argumentativas (como nos incríveis casos do turismo futebolístico à conta da Galp e nos astronómicos salários da CGD, que Costa acaba de justificar e abonar neoliberalmente com o mercado bancário...).


– Sobre as eleições regionais quase tudo o que valia a pena e o fruto comentar foi dito, evidentemente no cruzamento proveitoso e no confronto livre de vários testemunhos locais (v.g. aqueles que o DI e o DA divulgaram, com destaque merecido para uma entrevista a Aranda e Silva no diário terceirense) e com os que OCS lisboetas e as redes sociais multiplicaram (de entre os quais se poderiam citar, sem falsos pruridos, pseudo-ofensas vitimizantes ou apologias, conforme os casos, os artigos e leituras de Eduardo Cintra Torres (“A abstenção nas eleições dos Açores ronda os 60%. Quem são os vencedores e vencidos quando seis em cada dez cidadãos não votam?”); Luís Delgado (“Os Açores são de facto uma região muito complicada, muito pobre, analfabetismo, insucesso escolar, desemprego. (...) Estamos a falar de uma região que ao longo de 40 anos não conseguiu dar a volta, não conseguiu criar, inverter, alterar, mudar a situação de grande pobreza, de grande dificuldade que existe (...); com tantas dificuldades, tão pobre, tão difícil e tão espalhada como está, a abstenção é absolutamente normal”), e Vital Moreira (“É relativamente fácil explicar a continuidade política nas regiões autónomas – só interrompida nos Açores há vinte anos, com a saída de Mota Amaral – e que tem a ver sobretudo com o generoso regime financeiro das regiões, que ficam com todas as receitas fiscais aí geradas, sem terem de contribuir para as despesas gerais da República (que ficam a cargo dos contribuintes do Continente) e que ainda gozam de avultadas transferências do orçamento do Estado. Em igualdade de circunstâncias, os açorianos têm mais rendimento do que no Continente: salário mínimo mais elevado, pensões mais altas, impostos menos elevados. Nestas circunstâncias,   seria preciso governar muito mal para perder eleições, o que não tem sido o caso nos últimos vinte anos, para bem dos açorianos”!



Mas no quadro propriamente partidário – recomendando-se logo aqui o fabuloso pronunciamento crítico do PCP (“Um resultado [das eleições nos Açores] que não é separável da intensa campanha de condicionamento eleitoral que, a partir do governo regional e de todas as estruturas da administração regional, foi exercida, de uma acção de mistificação sobre a verdadeira situação económica e social resultantes de duas décadas de governação do PS”) –, nada se perderia em rever todas as declarações corporativamente conformadas e acomodatícias, congratulatórias, mistificadores ou apenas auto-justificadoras, conforme, dos vários actores e agentes deste cenário abstencionista, significativamente em idêntico coro de desresponsabilização (ou passa-culpas) pelo estado comatoso e de inegável agonia democrática a que ingloriamente chegámos, numa espécie de entropia do sistema e do regime estabelecidos e da sua correspondente alienação e definhamento societário (social, cultural, institucional, moral, profissional e ético), tanto por omissão própria como por indução alheia, nas quais e pelas quais as nossas ilhas dispersas e amorfas comunidades cívicas, desde há muito, sem excepções notórias, consistentes e consequentes, se tem vindo progressivamente a afundar.



A nível nacional nada de novo também, nessa pia incubadora de sofismas e subterfúgios em que o país continua mergulhado, mais agora com as geringonçadas viabilizações (ditas) de mal menor ou (feitas) de consentimentos envergonhados (quando não vergonhosos!) – ainda pelo que cegamente uniformizam hoje e descredibilizam para amanhã – do BE e do PCP, cada vez mais, na prática sensível, pouco diferenciáveis desse ressabiado ninheiro de arranjinhos e descaramentos de um PS pequeno-burguês, ambicioso e dúplice (novamente unanimista “à Sócrates”?), perante as oscilações tácticas e recorrentes amarras do pretendido e famigerado “arco da governação” do restante alforge político....


 – Ora é neste grave círculo vicioso de penúria mental e de total ausência de exercício de Cidadania que se aguarda uma improvável transformação de valores e hábitos pessoais e institucionais no próximo Parlamento e na escolha e entronização do próximo Governo regional, sestro aliás já latente (embora dissimulado) na corrida aos lugares de comando (e de oposição ao mando), enquanto se limpam trunfos e dívidas para a rodada que se segue nas excelências e subserviências da Democracia, da Autonomia e dos apregoados critérios (agendas e complexos...) “de esquerda” (como diz o nosso tão expressivo ministro das Finanças), temendo-se porém que (inconscientemente?) rumo a um pior, enganoso e desenganado futuro!



P. S. Já depois de escrito e enviado este texto para publicação nos jornais “Diário Insular” (versão parcial) e “Diário dos Açores” de hoje (22 de Outubro), e bem assim nas Páginas Digitais da RTP-Açores (Comentadores) e “Azores Digital”, leio um artigo de Henrique Raposo, no “Expresso” (edição on-line), intitulado “Que liberdade pode haver nos Açores?”. Nele o autor deixa pertinentes constatações e interrogações, assim salientes na citação que segue:



– “Quase 10% da população açoriana depende do Rendimento Mínimo de Inserção. Há aqui qualquer coisa de errado. E o erro está na forma como o poder político aprisiona a sociedade. (...) Se adicionarmos aos 10% de dependentes do RSI os números da juventude ‘nem nem’, dos funcionários públicos e dos reformados, das empresas dependentes dos subsídios do governo autónomo e das empresas estatais, ficamos com um retrato distópico. Que liberdade pode existir numa sociedade tão controlada pelo poder político? Ou será que o poder político dos Açores vê nesta dependência uma utopia? (...) Que sociedade civil pode existir num contexto de total dependência do Estado?”.
_________________

Em “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 22.10.2016):




























RTP-Açores:
e Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3203.


Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 22.10.2016):



segunda-feira, outubro 17, 2016


Do Nobel da Literatura
às Poéticas de Dylan


A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan terá constituído relativa mas generalizada surpresa, tanto pelo perfil do premiado como pelo carácter da obra reconhecida e anunciada como “tendo criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição da canção Americana” (“for having created new poetic expressions within the great American song tradition”).



– Cantor e poeta nascido em 1941, Robert Allen Zimmerman distinguiu-se como guitarrista em bandas liceais de rock’n’roll na sua terra natal (Tuluth, Minnesota), vindo depois a ser atraído pela poesia neo-romântica, modernista e surrealista de Dylan Thomas (1914-1953) – daí o seu nome artístico –, e pela folk e country music de estro multi-étnico, popular e social de Woody Guthrie (1912 -1967), referências que manteve ao longo da sua longa e notável carreira de compositor, escritor e intérprete.




Como seria de esperar, e apesar de ser rica a lista de romancistas, poetas e ficcionistas alternativamente nomeáveis (ou merecidamente distinguíveis em outros géneros, estilos, línguas e países), em todo o mundo não se fizeram aguardar reacções e comentários (alguns reservados ou discordantes, porém na maioria concordantes e laudatórios), não faltando músicos consagrados (Leonard Cohen, por exemplo), escritores (Joyce Carol Oates ou S. Rushdie) e credenciados académicos que complementaram as asserções de Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca, ao defender a filiação de Dylan não só em tradições anglo-saxónicas (Milton e Blake) quanto ainda e mais remotamente numa paradigmática conjugação de escritas e oralidades literárias, artísticas e musicais que remontariam a Homero e Safo (evocados ali para defesa de tese).





E apenas de passagem recordando aqui, entre outros que tem vindo a ser divulgados:

  o abalizado testemunho de Carlos Reis: “um desafio: tratemos de ler ou reler a poesia de Bob Dylan enquanto poesia e talvez tenhamos algumas surpresas”; 

o depoimento de Miguel Esteves Cardoso: “A obra de Dylan – que é caoticamente desigual, havendo coisas terríveis ao lado de obras-primas – é uma gloriosa colecção de todas as tradições literárias da humanidade, desde os trovadores aos cantores de blues, desde os contos de fada às orações”; 

o belo texto de Eduardo Cintra Torres, escrito em 2005, sobre Scorcese e Dylan: “O jovem artista como Ulisses sem Ítaca. (...) As raízes não estavam lá, estavam na viagem de regresso, na viagem para sempre, o acto da criação: (...) Eterna odisseia. À procura de si. Sem direcção definida. À procura de saber. ‘Os verdadeiros viajantes são os que partem por partir’, escreveu Baudelaire (...). O viajante nunca se encontra. Procura sempre. (...) No direction home, like a rolling stone”; 

e, enfim, aquela Crónica de Alexandre O’Neill, agora retomada de “A Capital” (1.1.1974) pelo jornal i e na qual, sobre o “fanhoso” do Minnesota, se escrevia: “As massas verbais que, sem ornatos, debita dão conta de muita coisa bela, grande, divertida ou terrível, mas a força comunicante do trovador está, principalmente, no partido que ele tira da monotonia, repetição e progressão (...) de um texto maravilhosamente aliado à música. Este é um caminho de voluntária pobreza”], 

– registando-se por fim que em Portugal também não passou inobservada a atribuição deste Nobel da Literatura, tendo sido bastante sugestivas as apreciações aos seus múltiplos significados, apesar da conhecida e constatada ausência, entre nós, de vivências directas e de abordagens aprofundadas ou mais sistemáticas sobre a plurifacetada personalidade de Bob Dylan e sobre a sua heterogénea obra, desde os anos 60 do século passado até hoje, nos múltiplos contextos sociais, ideográficos, estéticos e expressivos da génese, evolução e influência das memoráveis e inspiradoras criações desse controverso ícone (contra)cultural de The Times They Are A-Changin’, moderno trovador já laureado em 2012 com a “Medalha da Liberdade” dos USA, pelo cessante presidente Barack Obama!



De resto, com este Prémio, Bob Dylan enfileira na galeria de ilustres Escritores anteriormente premiados, ficando assim na companhia de nomes universalmente tão distintos e consagrados como o nosso José Saramago, Modiano, Vargas Llosa, Le Clézio, Doris Lessing, Pamuk, Coetzee, Günter Grass, Toni Morrison, Octávio Paz, William Golding, García Marquez, Canetti, Neruda, Beckett, Steinbeck, Camus, Hemingway, Churchill, Mauriac, Lagerkvist, Faulkner, T. S. Elliot, Gide, Hesse, Thomas Mann, Bergson, Romain Rolland, Tagore, etc., etc., e de... Jean-Paul Sartre, claro, que, em 1964, não aceitou receber o mesmo Nobel da Literatura que lhe fora então destinado, enviando depois para a Academia Sueca uma carta de justificação pela sua famosa recusa, – cujo teor valerá a pena hoje reler, aliás enquanto se aguarda a reacção de Dylan ao certamente inesperado e formal reconhecimento e nobelização formal das suas poéticas...


________________

Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 18.10.2016):






























e RTP-Açores.
Uma primeira versão deste texto foi publicada em 15.10.2016. 
Ver aqui:





sábado, outubro 15, 2016


Nobel e Poéticas de Dylan




A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan terá constituído relativa mas generalizada surpresa, tanto pelo perfil do premiado como pelo carácter da obra reconhecida e anunciada como “tendo criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição da canção Americana”. 


– Cantor e poeta nascido em 1941, Robert Allen Zimmerman distinguiu-se como guitarrista em bandas liceais de rock’n’roll na sua terra natal (Tuluth, Minnesota), vindo depois a ser atraído pela poesia neo-romântica, modernista e surrealista de Dylan Thomas (1914-1953) – daí o seu nome artístico –, e pela folk music de estro popular, multi-étnico e social de Woody Guthrie (1912 -1967), referências que manteve ao longo da sua notável carreira de compositor, escritor e intérprete.




Como seria de esperar, e apesar de ser rica a lista de romancistas, poetas e ficcionistas alternativamente nomeáveis (ou merecidamente distinguíveis em outros géneros, estilos, línguas e países), em todo o mundo não se fizeram aguardar reacções e comentários (alguns reservados ou discordantes, porém na maioria concordantes e laudatórios), não faltando músicos consagrados (Leonard Cohen, por exemplo), escritores (Joyce Carol Oates ou S. Rushdie) e credenciados académicos que complementaram as asserções de Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca, ao defender a filiação de Dylan não só em tradições anglo-saxónicas (Milton e Blake) quanto ainda e mais remotamente numa paradigmática conjugação de escritas e oralidades literárias, artísticas e musicais que remontariam a Homero e Safo (evocados para defesa de tese).





 – Em Portugal também não passou inobservado este Nobel da Literatura, tendo sido sugestivas as apreciações aos seus múltiplos significados, apesar da conhecida e constatada ausência, entre nós, de vivências directas e de abordagens aprofundadas ou mais sistemáticas sobre a plurifacetada personalidade de Bob Dylan e sua heterogénea obra, desde os anos 60 do século passado até hoje, nos múltiplos contextos sociais, ideográficos, estéticos e expressivos da génese, evolução e influência das memoráveis e inspiradoras criações desse controverso ícone (contra)cultural de The Times They Are A-Changin’, moderno trovador laureado em 2012 com a “Medalha da Liberdade” dos USA, pelo cessante presidente Obama...


______________

Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 15.10.2016):



























e Azores Digital:




domingo, outubro 09, 2016

Lições e Sombras da China
ou Kissinger, Eça e os Açores



A recente passagem do Primeiro-Ministro chinês pela ilha Terceira suscitou análises e detecções de sinais e factos correlacionáveis, para além de comentários jocosos e agridoces, curiosas observações jornalísticas, e até a divulgação de um notável vídeo sobre as Lajes que gerou embargos de respiração mediática, militar e diplomática.



– A filmagem acima referida, como é sabido e foi revelado ao jornal Expresso pelo nosso amigo e colega académico Miguel Monjardino (e por ele próprio analisada na sua habitual Coluna daquele semanário), revelou ter sido retardada a descolagem da Base das Lajes do avião da comitiva oficial chinesa devido à coincidência, ao minuto, das aterragens sequenciadas, na mesma pista da nossa BA4, de oito aeronaves ocidentais aliadas (seis EA-6B Prowler e um Boeing C17 americanos, e um CC150 canadiano).

Porém, embora seja também sabido que aquele trampolim de logística aérea norte-americana e da NATO não constituem novidade absoluta – porquanto a escala e o destino de tais aviões rumo ao Médio Oriente é quase de rotina –, a verdade é que, conforme partilhamos, a simultaneidade daquela evidentemente calculada e planeada operação com o horário de partida do Boeing 747 da Air China pode ter configurado um simbolismo nada despiciendo, tanto mais quanto tal manobra deverá ter sido do superior acompanhamento, prévia concordância e autorização tácita (se é que não do comprazimento de altas chefias militares portuguesas...).


– De resto, nos últimos anos, a passagem de individualidades chinesas pelos Açores e pela Terceira começa a revestir-se de já notória e sensível regularidade e aparato institucional e social (bem diferentes das famosas “escolas técnicas” que se verificavam na ilha de Santa Maria...), bastando pois relembrar que, com visitas e programas estudados, por aqui passaram o Presidente chinês Xi Jinping (em 2014), então acolhido por Paulo Portas, e Wen Jibao, anterior Primeiro-Ministro (em 2012), para além de Wang Hong (Ministro do Mar chinês) que este ano foi recebido por pelo chefe de Executivo regional...

E agora coube a vez a Keqiang, ao seu encontro tendo vindo prazenteiro o Ministro Santos Silva, alegadamente para “preparar” (sem nenhuma “escondida”) agendas queridas do Governo português, v.g. as conducentes, e bem, à prestigiante e feliz eleição de Guterres para Secretário-Geral da ONU, e para declaradamente compor chás e pormenores no bule da visita de António Costa, apesar de Geng Shuang, porta-voz do MNE da China, ter enxutamente afirmado que “pelo que sabemos (sic), o Primeiro-Ministro Li estará na ilha Terceira para uma escala técnica”.


Todavia, seja como for, esses factos e sinais, uns e outros, não deixam de continuar a constituir ainda peças para urgente, informada e fundamentada retoma de atenção a tudo o que em profunda dimensão e significado se articula com o actual trânsito transatlântico da China e com esta outra “escala técnica” sínica (em todos os seus contextos histórico-temporais, geopolíticos, comerciais e estratégicos), ou não estivéssemos perante agentes e actores cujos singulares cânones e biombos civilizacionais, culturais e ideográficos mergulham numa longa e ancestral cadeia de muralhas, rotas e malhas de pedra e seda (com imperadores, mandarins e muito pacientes mas obstinados timoneiros e vassalos), como Henry Kissinger lembrou no seu “tratado” Da China ao perspectivar e problematizar a nova ordem mundial e o futuro possível das relações sino-americanas (que hoje temos imperativamente de rever à luz ainda das dialécticas e contradições com que o velho Mao pavimentou os interesses permanentes e as marchas e contramarchas milenares, nacionalistas e internacionais de Pequim).

– Desengane-se pois quem incautamente alinhar em retóricas e jogos antecipadamente perdidos para peões descalços e analfabetos, alimentando ilusões de anão em pontas de pés, ou servindo de figurante pobre numa planetária dança de hegemonias onde misérias de barriga e mente se projectam só em provincianos papéis de marioneta, num cenário de sombras simultaneamente chinesas (asiáticas) e platónicas (ocidentais)!


E isto, repita-se, como escrevi anteriormente a propósito do nosso Eça, a direito ou no avesso simbólico daquele “amanuense do Ministério do Reino” vendendo a alma e a pátria ao Diabo, – dê-se o nome que se der aos recorrentes Teodoros (“mangas de lustrina à carteira” do Estado); aos milhões sonhados nos oblíquos olhos de Ti Chin-Fu (ou de Li Keqiang); às oníricas alianças de tanto “boy” com as generalas de toda a casta institucional; aos Camilloffs da neo-geoestratégia mundial, ou até à euro-luso-açórica casa de hóspedes e patacas de Madame Augusta, num clientelar e irrealista pagode de untuosas palmas e verbenas..., enquanto se atiram rústicos coices aos amigos e aliados de outrora (e de sempre), que afinal foram quem lhes/nos deu cama e mesa e farda lavada durante (saudosos?) anos a fio!


– É pois neste quadro complexo, evolutivo e multi-factorial (a nível local, regional, nacional, euro-atlântico e mundial), com maior relevo e interesse nosso, naturalmente, para tudo o que directa ou indirectamente também passa pela Base das Lajes e pelo que ela geo-estrategicamente representa para todos, que devem ser situadas e rigorosamente perspectivadas as situações que aqui afloramos, mas sem esquecer ainda que gestos como o de Devin Nunes, ao escrever agora a Ashton Carter (Secretário da Defesa dos Estados Unidos), dizendo ser “provável”, pelo constatado desinvestimento americano aqui, que as instalações da Base das Lajes “acabem na posse do governo chinês”, tem algo de muito pouco verosímil e devem ser descodificados à luz da política interna norte-americana, nomeadamente nesta quadra de eleições para a Casa Branca, onde as disputas entre Republicanos e Democratas ganham paradigmáticas vivacidades discursivas e um relativo carácter espectacular.



Mas mal assim seria dos Açores (e de Portugal!) se as nossas “políticas diplomáticas, económicas e de Defesa”, como nos dizia um interlocutor bem familiarizado com todas elas, caísse numa espécie de presumidos e manipuláveis “lobbies” vertidos em fall-riverismo inócuo, inocente e irrelevante, tão ou mais insignificantes e ridículos, no seu amadorismo risível, provocatório e insciente quanto aquelas proverbiais tiradas, chantagens e boçalidades históricas de Cordeiro ao alvitrar que as Lajes podiam vir a ser exploradas pela China, para logo mais sentenciar, movido a ventos de circunstância pesada, que “A relação diplomática que Portugal tem com a China é muito anterior à relação diplomática que tem com os Estados Unidos” (sic)...



– De facto, melhor do que tudo isso e aquilo, enquanto também se espera pelos resultados da visita de Costa a Pequim (e aí veremos, por exemplo, se é para Sines que irão os entrepostos sonhos portuários da Praia da Vitória...), melhor talvez fosse voltar a olhar para os velhos cartazes e slogans anti-americanos (agora pró-chineses e pró-Lisboa?) mandados amarrar às pontes de acesso à Base das Lajes, ou então proceder à releitura (instrutiva, quem sabe?) de um ilustrado e aguerrido Relatório (esquecido relambório?) da Câmara e Assembleia Municipal praienses, sumamente lucrativo para formulação de juízo presente e futuro sobre algumas das causas e sombras que nos cegam e cercam desde há muito! A nós e a Portugal no seu todo, infeliz e fatidicamente, como sempre.
_____________

Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 11.10.2016):



























Primeiras versões em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 08.10.2016):




























e Azores Digital: