sexta-feira, fevereiro 05, 2016


Temporadas Teatrais
__________________________________________________


No previsível quadro da configuração e desfecho das últimas Eleições Presidenciais, a bem reflectida caminhada do candidato Marcelo Rebelo de Sousa tinha de fazer-se com segurança, naturalidade vencedora e indesmentível mérito, apesar das incertezas e oscilações da sua personalidade e das afinidades e hipotecas que conseguiu alijar ou obscurecer, mas também com notável empatia (mediaticamente catalisada anos a fio), e (enfim) com um tipo de carisma ou aura popular (sociologicamente indicativa e sintomática) que lhe advêm, conjugadamente, por berço, família, escola, estatuto académico, docência, cultura, percurso partidário, catolicismo (algo beato, mas não clericalista), talento jornalístico, inteligência, auto-confiança, e até com um à-vontade mágico que, em simultâneo, lhe consentiram aparecer engraçadinho no teatro de massas, fazer micro-retórica neutra, ser ajeitadamente populista, comunicativo e consensualista, e depois fechar em apoteose encenando entradas triunfais e assumindo solenes poses de Estado, como naquela messiânica representação, em sacralidade emblemática, na Faculdade de Direito de Lisboa, onde nem É a Hora pessoana faltou!


 – Tão populista, de facto, e engraçado este nosso novo Presidente que, conseguindo ir à tarde à Festa do Àvante, poderá, se quiser, à noite, reavivar (renovando na continuidade...) antigas lições e conversas mediático-familiares do seu homólogo padrinho, apesar das óbvias e profundas diferenças entre os tempos e modos de ambos e do País, porém sem esquecer as potenciais semelhanças e impasses históricos da profunda crise em que a vida portuguesa, europeia e internacional estão mergulhadas, com a recorrente mediocridade e cobardia das classes políticas e das instituições vigentes condicionando a vizinha década para o bem e para o mal, e com as promessas e limites revertíveis das nossas específicas (des)graças, mutáveis semânticas e (des)afeições de patriotismo e soberania, justiça social e equilíbrio financeiro, austeridade consequente e desenvolvimento económico, reactivados já hoje e a conjugarem-se para dramáticas cenas talvez logo a seguir às mascaradas, folias e danças desta época carnavalesca...


_______________

Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 06.02.2016):




























RTP-Açores:

http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/temporadas-teatrais-_49458:




























e "Azores Digital":
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3112: