sexta-feira, fevereiro 12, 2016



As Cinzas do Carnaval
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Segundo a tradição do Calendário católico (ou do que dele resta), idos os dias de Entrudo e entrando-se na Quaresma, propício é o tempo para balanços e possíveis reconversões pessoais e sociais, conforme decorre da real simbologia dos ritos, cultos, celebrações e leituras litúrgicas deste ciclo que começou na quarta-feira passada.


 – Assim decorre há séculos com profundas meditações e gestos exercendo-se nesse “círculo que fazemos de pó a pó”, enquanto duramos na “roda que anda e desanda [e] juntamente sempre nos vai moendo”, porque, como dizia o Padre António Vieira na igreja de S. António dos Portugueses, nessa Roma de 1672 – fazendo uns “círculo maior, outros menor, outros mais pequeno, outros mínimo” – seja o caminho “largo, ou breve, ou brevíssimo”, “sempre e em qualquer parte da vida somos pó”. Memento homo, portanto!

Todavia, para além dessas reflexões de carácter espiritual, moral e existencial, outras análises mais seculares e sociológicas podem e devem ser feitas sobre o cíclico voltear de festas e paródias que pautam certas “Coisas do Carnaval” terceirense, especialmente essas demonstrações típicas e representações habituais que são as Danças e Bailinhos.


– Foi o que o jornal “Diário Insular” fez no seu Editorial (*) da última terça-feira (dia 9) com um texto pertinente, objectivo e certeiro cuja releitura nunca será de mais recomendar a todos quantos se interessam, acompanham, realizam, estudam e promovem essa grande manifestação da chamada “cultura popular”...



De facto foi detectada e apontada ali uma série de “sinais negativos” que se vem acumulando (com nomeáveis e conhecidas excepções!) sobre “o evoluir do fenómeno”, desde a degradação das linguagens, narrativas e poéticas (amiúde de estilo duvidoso, roçando o dichote burgesso, sórdido ou de caserna), até à banalização e facilitismo expressivos, passando pelo quase desaparecimento (imposto ou nem sequer concebido?) de uma desejável e informada “crítica social” livre e atenta, com o resultado de “tudo isto mina[r] a credibilidade desta forma de teatro popular”, apesar dos seus constatados progressos estéticos, instrumentais, corais e coreográficos!



– Mas se, ainda por cima, as transmissões televisivas (cartaz de grande potencial!) são mal geridas, só resta mesmo pó de propaganda e folclore decadente...
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(*) Editorial do DI:




















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Em Azores Digital:






















"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 13.02.2016):