As Cinzas do Carnaval
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Segundo
a tradição do Calendário católico (ou do que dele resta), idos os dias de
Entrudo e entrando-se na Quaresma, propício é o tempo para balanços e possíveis
reconversões pessoais e sociais,
conforme decorre da real simbologia dos ritos, cultos, celebrações e leituras
litúrgicas deste ciclo que começou na quarta-feira passada.
– Assim
decorre há séculos com profundas meditações e gestos exercendo-se nesse “círculo
que fazemos de pó a pó”, enquanto duramos na “roda que anda e desanda [e]
juntamente sempre nos vai moendo”, porque, como dizia o Padre António Vieira na igreja de S. António dos Portugueses, nessa Roma de 1672
– fazendo uns “círculo maior, outros menor, outros mais pequeno, outros mínimo”
– seja o caminho “largo, ou breve, ou brevíssimo”, “sempre e em qualquer parte
da vida somos pó”. Memento homo,
portanto!
Todavia,
para além dessas reflexões de carácter espiritual, moral e existencial, outras
análises mais seculares e sociológicas podem e devem ser feitas sobre o cíclico
voltear de festas e paródias que pautam certas “Coisas do Carnaval”
terceirense, especialmente essas demonstrações típicas e representações habituais que
são as Danças e Bailinhos.
– Foi
o que o jornal “Diário Insular” fez no seu Editorial (*) da última terça-feira (dia 9) com um
texto pertinente, objectivo e certeiro cuja releitura nunca será de mais
recomendar a todos quantos se interessam, acompanham, realizam, estudam e promovem essa grande manifestação da chamada “cultura popular”...
De
facto foi detectada e apontada ali uma série de “sinais negativos” que se vem
acumulando (com nomeáveis e conhecidas excepções!) sobre “o evoluir do
fenómeno”, desde a degradação das linguagens, narrativas e poéticas (amiúde de
estilo duvidoso, roçando o dichote burgesso, sórdido ou de caserna), até à banalização
e facilitismo expressivos, passando pelo quase desaparecimento (imposto ou nem
sequer concebido?) de uma desejável e informada “crítica social” livre e atenta,
com o resultado de “tudo isto mina[r] a credibilidade desta forma de teatro
popular”, apesar dos seus constatados progressos estéticos, instrumentais,
corais e coreográficos!
– Mas
se, ainda por cima, as transmissões televisivas (cartaz de grande potencial!) são mal geridas, só resta
mesmo pó de propaganda e folclore decadente...
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(*) Editorial do DI:
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(*) Editorial do DI:
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