sexta-feira, fevereiro 26, 2016



A Família do Cartaz
e o Sagrado Coração de Jesus
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Independentemente de estimas intelectuais ou amizades por algumas das suas figuras e próceres – ou até da partilha pontual de leituras, causas marcantes e justificadamente mais “vanguardistas” –, foi com algum (mas não inédito) espanto – e, mais do que isso, com indeclinável desagrado e sentido de reprovação – que parte da opinião pública (ao menos aquela que já observou a dita peça em pré-vaticinada e triunfante próxima colagem e expansão mediática) terá reagido ao novo cartaz congratulatório e propagandístico do Bloco de Esquerda (BE), com o qual esta organização pretende festejar o anelado fim da “discriminação na Lei da Adoção” (por casais homossexuais), obtido, conforme o anúncio timbra, por votação de reconfirmação no Parlamento nacional a 10 do corrente mês de Fevereiro (137 votos a favor, 73 contra e 8 abstenções), e depois promulgado (19.02) pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que havia vetado o diploma em 25 de Janeiro último.


– Ora esse imaginativo reclamo do BE, para além da mensagem jurídico-política e sociocultural que proclama e espaventosamente divulgará até às pontas da sua icónica estrelinha cabeçuda, não se ficou por menos, – e não teve melhor fixação simbólica nem fraseado de juízo que juntar ao seu manifesto a não ser a frase “JESUS TAMBÉM TINHA 2 PAIS”, iconoclastamente inserida ao lado de uma reprodução estilizada da figura de Jesus Cristo (segundo a conhecida figuração do Sagrado Coração de Jesus)...



 Entretanto, para quem não percebesse nada da complexidade (apenas teológica!?) do tema exposto na dogmática fachada radical e no decorrente alcance do “fora-de-porta” bloquista, já lá veio à liça, no jornal “Público” e em outros OCS, uma abençoada deputadinha do BE, explicando à ignara massa dos crentes, teólogos e exegetas, e à (outra) sua (deles!) estrelada trupe, que os “dois pais”, a que se refere o placar, são “o pai espiritual e o pai terreno” (sic) de Jesus de Nazaré!


– Assim sendo, é só esperar para ver no que dará este caso de cartoon lisboeta (e não só...), para regalo de imitantes menores do Vilhena, ensinança a leitores politico-religiosamente (des)avisados de Álvaro Cunhal (sobre uns tais “pequeno-burgueses” de classe e mente...), e a certos “compagnons de route” da cada vez mais dessacralizada geringonça que oxalá, mais dia menos dia, não dê com todos os pais e deserdados filhos e afilhados do Rato na água turva do Tejo...

P.S. - Em próxima Crónica, voltarei a este assunto, à família política do Cartaz, à sua trupe cultural e às suas insensatas, abusivas e errantes tropelias simbólicas...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 27.02.2012):






Devoção Mariana congrega
paradigmáticas significações
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Entrevista ao Jornal “Diário Insular”
(Angra do Heroísmo, 26.02.2016)

 “Diário Insular” (DI) – A VISITA DA IMAGEM DE FÁTIMA AOS AÇORES ENVOLVE NOVAMENTE MÚLTIPLAS MANIFESTAÇÕES E SIGNIFICADOS. COMO INTERPRETA ESTE COMPLEXO FENÓMENO?

                                          Foto: António Araújo

Eduardo Ferraz da Rosa (EFR) – Trata-se sem dúvida de um notável e complexo fenómeno socio-religioso, agora intencional e simbolicamente reactivado no âmbito do Ano Santo da Misericórdia e da preparação das comemorações do Centenário das Aparições, envolvendo e integrando importantes e decisivas dimensões espirituais, antropológico-culturais e teológico-pastorais.



DI – ESTA É A TERCEIRA VINDA DE UMA IMAGEM PEREGRINA. EM QUE CONTEXTO DEVE SER SITUADA?  

EFR – Enquanto manifestação conjunta de uma estratégia evangelizadora da Igreja, de acolhimento valorizante da piedade popular e da profunda componente mariana do Catolicismo em Portugal (marcado por devoções cristãs ancestrais, às quais Fátima e a sua Mensagem vieram trazer específico conteúdo e alcance ímpares), estas visitas das “imagens peregrinas” devem ser compreendidas tendo em atenção todas essas dimensões.

– A primeira, em 1948 (nas dramáticas sequências do pós-guerra) e a segunda (em 1991) traziam, cada uma a seu tempo e modo, finalidades e configurações próprias, cuja apreciação detalhada fornecerá apaixonantes motivos para análise...

                                          Foto: Humberta Lima

DI – A COMPONENTE MARIANA DO CATOLICISMO PORTUGUÊS, COMO DIZ, É RELEVANTE. COMO TEM SIDO ESTUDADA?

EFR – Tal configuração pode ser detectada e relevada tanto na produção histórico-doutrinal, pastoral, artística, festiva, votiva e iconográfica católica (Encíclicas e suas recepções nacionais, Oratória Sacra, Cartas Pastorais, Devocionários, Arte Religiosa, assumpções e reproduções dogmáticas, categorias do discurso catequético, dedicações, peregrinações e consagrações, etc.), como na Literatura (Poesia especialmente), no Pensamento, na Música e nas Ciências Sociais.

                                                                 Foto: Margarida Quinteiro

– No caso de Fátima, toda a complexa fenomenologia situada, sistemática e crítica das Aparições continua a ser motivo para estudos multi-disciplinares cuja importância para a Teologia, a Mariologia e a Cristologia (releia-se a Lumen Gentium...) deve ser realçada, e para a qual a Filosofia, a Antropologia Cultural e a Sociologia devem ser logo chamadas a reflectir em conjunto, para aquilo que é afinal, quando não a partilha das vivências e esperanças de tantas gerações (e orações...) cristãs, ao menos a inteligência ou a hermenêutica da Fé!

                                          Foto: Humberta Lima

DI – NOS AÇORES ESTAS DEVOÇÕES TÊM HISTÓRIA?

EFR – Sim, sem dúvida! História, tradição, brilho e vigência de alma quase intemporais. Desde os historiadores até aos poetas – por exemplo, Antero, com a sua saudade trágica do rosto materno de Deus, ou o Nemésio das laudes à Virgem do Lenço –, sempre um imaginário feminino-mariano está presente...


E para nós, sem ser necessário invocar aqui grandes filósofos lidos ou teólogos conhecidos, ainda revejo e relembro hoje o nosso Padre Coelho de Sousa, lá na minha Praia, fazendo o Sermão da Procissão das Velas, na festa de Fátima, que era de lenços medianeiros e de lágrimas fundas e quentes derramadas ao vento, no adro da Matriz de Santa Cruz, na esperança do perdão, na saudade da infância, do embalo maternal e do socorro da Graça de Maria, – símbolos e metáforas sempre recorrentes na parenética do seu verbo passional e no seu pranto, para dizer, chamar, pedir ou ficcionar o Céu, o Sonho, o Lume, o Divino, o Rosto de Deus na ternura da Mulher, o Silêncio, a Verdade, o Amor, a vitória sobre a rastejante Serpente do Mal e o único e derradeiro alívio de todas as Dores e gemidos da Criação, pela mão e pelos olhos doces da Mãe, unidos ambos nos passos cansados daqueles que vieram (e vão) a pé de muito longe, ao cântico do Avé, Avé, Maria!

                                          Foto: António Araújo
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 26.02.2016):