Nobel e Poéticas de Dylan
A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan
terá constituído relativa mas generalizada surpresa, tanto pelo perfil do
premiado como pelo carácter da obra reconhecida e anunciada como “tendo criado
novas expressões poéticas dentro da grande tradição da canção Americana”.
– Cantor e poeta nascido em 1941,
Robert Allen Zimmerman distinguiu-se como guitarrista em bandas liceais de rock’n’roll na sua terra natal (Tuluth,
Minnesota), vindo depois a ser atraído pela poesia neo-romântica, modernista e
surrealista de Dylan Thomas (1914-1953) – daí
o seu nome artístico –, e pela folk music
de estro popular, multi-étnico e social de Woody Guthrie (1912 -1967), referências que manteve ao
longo da sua notável carreira de compositor, escritor e intérprete.
Como seria de esperar, e apesar
de ser rica a lista de romancistas, poetas e ficcionistas alternativamente nomeáveis (ou merecidamente
distinguíveis em outros géneros, estilos, línguas e países), em todo o
mundo não se fizeram aguardar reacções e
comentários (alguns reservados ou
discordantes, porém na maioria concordantes
e laudatórios), não faltando músicos
consagrados (Leonard Cohen, por exemplo), escritores (Joyce Carol Oates ou
S. Rushdie) e credenciados académicos que complementaram as asserções de Sara
Danius, secretária permanente da Academia Sueca, ao defender a filiação de
Dylan não só em tradições anglo-saxónicas (Milton e Blake) quanto ainda e mais
remotamente numa paradigmática conjugação de escritas e oralidades
literárias, artísticas e musicais que remontariam a Homero e Safo (evocados para
defesa de tese).