quinta-feira, abril 22, 2010

Entrevista ao Jornal "Correio dos Açores"

1.ª - Nome, naturalidade, cidade e país onde reside?
– Eduardo [Manuel] Ferraz da Rosa.
Nasci na Ilha Terceira (Praia da Vitória), no dia 2 de Outubro de 1954.
A minha Mãe era terceirense e o meu Pai do Faial.
Moro agora em S. Mateus (Angra do Heroísmo).

2ª - O primeiro livro que leu?
– Não me recordo de qual terá sido essa primeira obra, para além daquelas publicações, muitas, que integraram as minhas leituras escolares, infantis e juvenis, porquanto nasci e cresci sempre rodeado de centenas de livros (especialmente de Literatura, Contos, Filosofia, Ciência, Arte e Religião).
Mas sei bem que comecei a ver e a ouvir ler, contar e recitar pela mão e pela voz de minha Mãe, desde muito pequeno...

3ª - Quando sentiu o chamamento para a escrita?
– Talvez tudo tenha começado familiarmente a partir daquelas primeiras lições de iniciação poética, expressiva, comunicacional e profética da Palavra…, logo seguidas de irreverentes intervenções socio-políticas e jornalísticas, de experimentações poéticas e teatrais, e depois progressivamente com a aprofundada percepção comovida e a assumpção voluntariosa das virtudes, das limitações e dos recursos da Linguagem, do Discurso da Razão e do Pensamento Crítico face às coisas, aos rostos e ao Mundo que me rodeavam e que se me afiguravam como precisando de ser olhados com o coração e reflectidos com ternura, amados com Alegria, transformados pelo Perdão e unicamente salvos pela Justiça e pela Graça…

4ª - Qual é o seu género literário?
– Tenho produzido Estudos, Ensaios e Trabalhos Académicos nas minhas áreas de especialidade e de docência na Universidade, de trabalho institucional e de investigação histórica, sociológica e científica, a par de Crónicas, intervenção sociopolítica e jornalística, Crítica Literária e Poesia.

5ª - Na Escola Primária era habitual ter boas classificações nas redacções?
– Sim, e na oratória, na leitura poética e na expressão verbal, expositiva e argumentativa também…

6.ª – Há algum livro dos seus que gostaria de reescrever?
– Obra propriamente já escrita, não! Porém, a poesia de O Mar este Silêncio deverá ser retomada lá mesmo onde ficou guardada ou suspensa…

7.ª – Quais os livros que publicou e o mais recente?
– Sem contar com as obras em conjunto, ou por mim editorialmente organizadas, os títulos, em edição autónoma ou publicados em separata, são principalmente os seguintes:
E o Mar este Silêncio (Poesia), com Carta-Prefácio de Vitorino Nemésio, 1980; Vitorino Nemésio: As Metamorfoses do Homem Interior, 1988; Vitorino Nemésio, Uma Poética da Memória, Prefácio de José Enes, 1989; Açorianidade e Autonomia, 1989; Esboço do Percurso do Método da Análise Expectante - Linguagem e Ser em José Enes, 1990; Uma Hermenêutica Trágica da Experiência do Mistério: Finitude e Esperança em Antero de Quental, 1991/93; Luís Bernardo Leite de Athaíde: Uma Estética da Açorianidade, 1991; Maria e a Ternura de Deus em Antero de Quental, 1992; Almeida Garrett, os Açores e a Praia da Vitória: Duas Memórias Garrettianas da Praia no Bicentenário do seu Nascimento, 1999; Memória Biobibliográfica Vieiriana, 2000; Heranças da Terra, 2000; De Vitorino Nemésio a António Cordeiro: A Restauração de Portugal como Ideal Histórico Açoriano, 2001; Memorial da Praia da Vitória, 2002; Nemésio, o Brasil e os Descobrimentos, 2002; Poder, Tradição e Utopia: Nemésio e a Autonomia dos Açores, 2004; O Risco das Vozes, Prefácio de Carlos Reis, 2006, e Sombras – Fotomemória e Antologia Musical, 2008.

8.ª – Indique-me um livro de um escritor açoriano de que gostaria de ter sido o autor.
As Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso; mas também O Pão e a Culpa, de Vitorino Nemésio…

9ª - Como se relaciona com outros escritores?
– Regularmente bem, com sentido crítico, solidariedade partilhada, estima mútua e amizade.
Procurei sempre dialogar com todos, da minha e de outras gerações, lê-los e estudá-los, na medida em que isso me foi possível em tempo, temáticas, estilo e gramáticas de compreensão de ideias, práticas, símbolos e valores…

10.ª – Pensa enriquecer como escritor?
– Esta é uma pergunta para sorrir… Não, claro que não!
De resto, sempre vivi do meu trabalho, embora tenha tido a sorte de nascer numa Família que pôde dispensar-me os meios para estudar, comprar livros e música, viajar, conhecer o Mundo, frequentar excelentes Escolas e Universidades, sem nunca ter sentido muitas das carências e das dificuldades a que outros, infelizmente, estiveram (e estão!) sujeitos.
Mas comecei a trabalhar, dando aulas, ainda com 20 anos…

11ª – Que livro nunca recomendaria a um amigo?
– Nunca recomendaria um livro tosco, pontuado com banalidades e mal escrito, ou que semeasse apenas o obscurantismo, a degradação das vozes e da linguagem humanas, a alienação afectiva, a cobardia e o rebaixamento intelectual, o vazio ou a subjugação espiritual!
Mas, em todo o caso, recomendaria sempre, como Nietzsche, qualquer obra aprumada e altiva, que constituísse um aberto desafio à inteligência e um firme apelo à coragem da procura do sentido, de modo criativo, livre e nobre, como quem oferece não a rédea mas o estribo, ou o selim, para o corcel da viagem…

12ª - Que livro gostaria de deixar e que ainda não escreveu?
– Um livro que revelasse as dimensões humanas, profundas e densas da memória, do imaginário e da esperança, a partir dos tempos, dos lugares e dos seres que incarnaram na minha vida, a partir da Praia da Vitória, e onde tudo o que aprendi existencialmente e estudei se fundisse com os signos universais e as permanentes cifras do Mistério do Futuro…

(Entrevista conduzida por Afonso Quental, para o Jornal "Correio dos Açores. 
Ponta Delgada, 22 de Abril de 2010)