Os Declínios do Ocidente
Niall Ferguson, nascido em
Glasgow (1964), é um conhecido historiador inglês, professor em Harvard e
investigador em Oxford. Colunista habitual da Newsweek, documentarista na BBC e autor de livros já famosos e
artigos de referência sobre a História da Civilização (especialmente a partir
de abordagens político-institucionais, jurídicas e geoeconómicas), a sua obra The Great Degeneration: How Institutions
Decay and Economies Die (original de 2012) foi traduzida e editada há
poucos meses em Portugal pela D. Quixote com o título – um pouco abusivamente
ajeitado e até indevidamente plagiador do clássico, monumental e homónimo
estudo de Spengler... – O Declínio do
Ocidente, sendo que, em todo o caso e para o que esta Crónica importa, o
respectivo subtítulo desse livro ajuda a clarificar o seu horizonte temático
(“Como as Instituições se degradam e a Economia morre”), tal como também o
índice dos capítulos sugestivamente aponta e desenha dos pressupostos e núcleos
ali em análise (“A colmeia humana”, “A economia darwinista”, “A paisagem
jurídica” e “Sociedade civil e sociedade sem civismo”).
– A obra, como em nota de
contracapa vem sintetizado, pretende
de facto ser “uma acusação polémica e poderosa a uma era de desleixo e
complacência” da “outrora dominante civilização ocidental”, hoje vitimada por
“crescimento económico lento, dívidas galopantes, populações envelhecidas e
comportamentos anti-sociais”, tudo sintomas que são atribuídos a uma deterioração das melhores instituições paradigmatizadas
por ele, enquanto pilares das sociedades
livres e prósperas da Europa Ocidental e da América do Norte (mas não por
“vantagens geográficas ou climáticas”...) pela existência e papel
histórico-jurídico e axiológico do Governo
Representativo, da Economia de Mercado,
do Estado de Direito e da Sociedade Civil), o que as teria
colocado, desde cerca de 1500, “na rota do domínio global” (sic) do Mundo...
Pese embora o notório e conhecido
quadro das (díspares e discutíveis...) filiações, proximidades e/ou
(contra)posições teóricas e ideológicas de Ferguson (Davis Landes, Fukuyama e Jared
Diamond, Adam Smith e Darwin, Mandeville e Locke, Burke e Tocqueville, Gibbon e
Toynbee, Hobbes e Hayek, Friedman e Keynes, etc.), a sua obra merece leitura e
reflexão, nesta era de colapsos
societários globais, caótica degradação político-institucional e reacendido
conflito de Civilizações e Culturas!
– Essa reflexão, com olhos críticos,
evidentemente, será bem proveitosa para todos, ou não estivéssemos, para além
do mais e dos cenários onde globalmente nos inserimos (e também amiúde declinamos e regredimos...), sob
aquilo a que Niall Ferguson apelida de “o primado dos advogados” (ou da
primazia antidemocrática, alienante e (coisa bem diferente do primado da Lei e da Justiça!) e sob o domínio hegemónico e neo-colonizante dos farsantes e agiotas do
Capital monopolista e explorador, da Banca usurária e da Alta Finança corrupta
e corruptiva (aparelhos estes identicamente bem diferentes de uma estruturação e finalidade outras da
Economia, do Trabalho e do Desenvolvimento)...
A preocupação de Ferguson, nesta The Great Degeneration, como ele salienta
precisamente, “não tem a ver com o desenvolvimento económico, mas antes com o
processo inverso da degeneração institucional. A minha pergunta mais abrangente
é a seguinte: o que foi exactamente que correu mal no mundo ocidental dos
nossos dias? Respondo a essa pergunta na crença de que, enquanto não
compreendermos a verdadeira natureza do nosso declínio, estaremos a perder
tempo, a aplicar remédios de charlatão ao que não passa de sintoma. Sou também
acicatado pelo medo de que, paradoxalmente, o estado económico estacionário
possa ter consequências políticas assustadoramente dinâmicas”.
– Assim sendo, neste quadro de
profunda degeneração e de explosivos cenários de caos à escala planetária, o
autor pode concluir, avisadamente, com as seguintes palavras, cuja aplicação concreta ao caso de Portugal,
nomeadamente no que concerne às relações entre Política, Economia, Sociedade,
Direito e Justiça não pode deixar de ser considerada, em toda a linha de verdade e de mentiras que caracterizam o nosso dramático presente e comprometem o incerto futuro do nosso País.
Enfim, aonde Ferguson diz
“advogados”, os seja os potenciais
defensores primeiros da Lei e do Estado de Direito – mas podendo, talvez,
ali ler-se intelectuais ou pensadores realmente livres (não
“orgânicos” nem ao mentecapto serviço carreirista, táctico e laudatório de
todos os viciados aparelhos partidários), cidadãos
atentos, responsáveis, empenhados,
participativos e limpos, e líderes
cívicos, culturais e morais –, valeria por inteiro o seguinte:
“Os países chegam ao estado estacionário (sublinhado meu)
quando, como defendeu Adam Smith, as respectivas ‘leis e instituições’
degeneram a tal ponto que as elites ávidas de rendas passam a dominar o
processo económico e político. Tentei sugerir que é esse o caso em partes
importantes do mundo ocidental contemporâneo. A dívida pública – expressa e
implícita – tornou-se uma forma de as gerações mais velhas viverem à custa das
gerações mais novas e dos nascituros. A regulação tornou-se disfuncional ao
ponto de acentuar a fragilidade do sistema. Os advogados, que podem desempenhar
um papel revolucionário em sociedades dinâmicas, tornam-se parasitas numa
sociedade estacionária. E a sociedade civil vegeta numa mera terra de ninguém
entre os interesses e o estado invasivo. Todas juntas, estas são as coisas a
que chamo O Grande Declínio”!
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Em "Diário dos Açores"
(Ponta Delgada, 11 de Setembro de 2014):