sábado, julho 21, 2012


As Representações da Autonomia



Se todos os actos eleitorais, a todos os níveis, se revestem de grande importância – enquanto modos formalmente concretizadores do exercício da Democracia e meio mais ou menos eficiente de e para manifestação da vontade popular e individual, assim e por isso mesmo, em tal regime ou sistema de organização da vida social dita soberana e legitimada pelo voto dos cidadãos –, não menos decisivo para a autenticidade dos processos institucionais dessa particular forma de participação política e cívica é o próprio mecanismo integrante e decorrente de tais actos, nomeadamente naquilo que desde sempre e mais historico-filosoficamente a propósito da Democracia foi fundamentalmente pensado.

Na verdade, desde a problemática da natureza mesma da Democracia e da condição natural do Homem como um ser social e político, até às problemáticas das possíveis e várias configurações que na prática esse sistema do governo já se arrogou – ou pode ainda vir a assumir –, passando pela magna e essencial questão das delegações do Poder e das suas várias modalidades de contratualização ou contrato para a produção da Lei e da ordenação da Sociedade, estas questões continuam tão merecedores de análise e reflexão quanto o foram nos primórdios gregos da História do Pensamento Ocidental.

– Por outro lado e ao longo da própria evolução das sociedades, cada vez maior acuidade ganhou a percepção de que em todos os actos político-eleitorais livres, ou assim exponencialmente desejáveis, em jogo entra toda uma complexa série de factores que entroncam em outros tantos sistemas de entendimento filosófico, político-jurídico, social, moral e simbólico, cujas mútuas coordenadas nunca deveriam esquecidas nem escamoteadas!

No caso dos Açores, com a proximidade das eleições regionais do próximo Outono, de um ou de outro modo, embora à pequena escala da Autonomia democrática que em parte conquistámos e em parte nos foi outorgada, estas problemáticas também podem e devem ser pensadas, – para mais numa altura em que, nunca talvez como durante a última década, nada do que se passa e passará no País importará tanto à nossa Região, a começar pelo próximo Orçamento do Estado…

Ora, pelo que se ouviu dos principais partidos do regime e sistema que temos, a(s) data(s) proposta(s) ao Presidente da República para a marcação das Eleições Regionais são mesmo importantes para uma rigorosa avaliação, um mais transparente delineamento e uma mais esclarecida capacidade de escolha popular entre os vários modelos, agentes e programas em presença actual e implementação futura. E neste caso, francamente, toda a razão assiste à devidamente justificada proposta do Partido Socialista! E se mais não houvesse que escutar para reflectir, bastaria talvez apenas observar bem as fotografias das delegações partidárias do PS e do PSD que se deslocaram a Belém, levando as respectivas moções de calendarização para o aguardado, importante e exigente acto eleitoral que já está a bater à porta das ilhas…

– E foi assim que o PSD-A lá se apresentou ao PR com Berta Cabral, ao lado de dois organicamente tutelares dirigentes nacionais do partido de Passos Coelho, numa representação muito lacunarmente açoriana, com uma imagem um pouco gasta e até parcamente autónoma e autonómica, quando, desde Mota Amaral até Duarte Freitas, Joaquim Ponte, Costa Neves, Lídia Bulcão ou mesmo Patrão Neves, para referir apenas alguns nomes sociais-democratas, não lhe teriam faltado figuras de prestígio regional e nacional para a dita auscultação-propositura a Cavaco Silva. Mas, ao contrário do que o mais elementar senso político e intuição partidária recomendariam, a líder regional micaelense lá se ficou, subalternizada e sob um desnecessário e contraproducente protectorado simbólico do PSD nacional, apenas acompanhada por Jorge Moreira da Silva e José Matos Correia!

Porém, ao contrário do PSD, muito bem – na forma, no elenco e na fundamentação do conteúdo da mensagem transmitida – esteve a delegação açoriana, exemplarmente autónoma e autonómica do PS (Vasco Cordeiro, Maria João Carreiro, Berto Messias e Ana Luís), com uma atractiva imagem de frescura, segurança e representatividade real:

– Um óptimo sinal partidário e um capital simbólico altamente precioso, renovado e personalizado para os combates políticos que se avizinham, aqui nas nossas ilhas e em Lisboa, ao mesmo tempo e quem sabe se contra concertados e poderosos adversários na Lapa, em S. Bento, no Caldas, em Belém e até nalgumas conhecidas e velhas armadilhas de outros bairros da capital, à velha moda do pior que já passou pelo Rato e por outros largos e ruas semelhantes na nossa própria terra!
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“Diário dos Açores” Ponta Delgada, 22.07.2012)  – http://jornal.diariodosacores.pt/;
“Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 21.07.2012) – http://www.diarioinsular.com/;