50 Anos de Ultreias
nos Açores
Cumprindo-se este ano a passagem
de meio século sobre a realização dos primeiros Cursos de Cristandade nos Açores,
tal como assinalámos aqui na nossa Crónica anterior (“Reencontros com a
História”), justo e devido é realçar esta efeméride, que aliás – e bem – vai
ser comemorada, nos próximos dias 26 a 28 do corrente, na ilha Terceira, com a
realização, no dia 27 de Abril, da VII Ultreia
Nacional (subordinada ao tema “Fé: Experiência de um Amor Recebido e
Comunicado”) do MCC (Movimento dos
Cursilhos de Cristandade) de Portugal, de acordo com o Programa estabelecido
para o efeito e que integra também diversos convívios, visitas e passeios
turísticos, para além de uma Eucaristia na Sé de Angra e de outros encontros de
reflexão, estudo e meditação.
– Idealizado e dinamizado por um
grupo de leigos e responsáveis eclesiásticos católicos espanhóis muito ligados
à Acção Católica, com destaque para Eduardo Bonnin Aguiló (1917-2008) e D. Juan
Hervás y Benet (1905-1982), estes Cursilhos tiveram início na década de 40 do
século passado, num contexto muito marcado pelo tradicionalismo católico, que
procuraram ultrapassar através de novos processos evangélicos, pastorais e
espirituais, de opções existenciais, valores e métodos de auto-análise de vida
e da sociedade circundante, segundo métodos e modelos que fundiam diversas
linhas de meditação, oração, reconversão, acção e compromisso eclesial e
comunitário, alguns deles sincreticamente, mas de modo inovador, marcados ou
reconhecíveis também nos Exercícios Espirituais
inacianos, no método de Cardijn e em
certas vivências próximas dos carismas e práticas do Opus Dei (de cujo fundador, Josemaria Escrivá de Balaguer, Juan
Hervás, aliás, foi bastante próximo…).
Nos Açores, tal como no País em geral, mas também um pouco por todo o
Mundo, os Cursos de Cristandade – num quadro especial e específico de renovação do Catolicismo na acção e na espiritualidade laicais – desenvolveram, logo de início, um
trabalho que proporcionou realmente uma dilatada partilha de vida e de
experiências cruciais cristãs, naqueles anos marcados pelo Concílio
Vaticano II e pelo aggiornamento
proposto pelo Papa João XXIII, tendo os dois primeiros Cursos para Homens tido
lugar em Angra do Heroísmo, e o 3.º Regional (Homens), 1.º em S. Miguel –
documentado na Foto que ilustra este texto – ocorrido nas Furnas, em Dezembro
do mesmo ano (1963).
– Todavia, o primeiro Curso de Cristandade que teve a presença de
açorianos, a convite e por incentivo do Prelado Diocesano de então, foi o 14.º
Curso Nacional, realizado no Porto, e que contou com a ida dos Cursistas
pioneiros regionais Hernâni Mendonça e Cunha, António Braz e Dr. Henrique Braz,
nele tendo também participado militantes empenhados e de grande projecção
católica posterior no País, como o Arq. Nuno Teotónio Pereira.
No Curso referido, que teve como Director Espiritual o então Padre
Januário dos Reis Torgal (actual Bispo das Forças Armadas), estiveram também
presentes o Cónego José Garcia e o Dr. Cunha de Oliveira (que viria depois a
ser uma das suas figuras cimeiras e dinamizadoras).
– Por seu lado, o Dr. António Rosa (da Clínica do Bom Jesus) foi, na
mesma altura, um dos primeiros animadores dos mesmos Cursos em S. Miguel,
juntamente com sua esposa, D. Maria Luísa Rosa (primeira reitora dos Cursos de
Senhoras, com a terceirense D. Aurora Braz).
Assim sendo, talvez se possa mesmo dizer que, ao seu nível de
objectivos próprios, a par das Semanas de Estudo, os Cursos de Cristandade nos
Açores foram, no seu sucesso e impacto globais, desse modo e com as suas
propostas de análise e estudo do sentido
dos casos, concretizações
privilegiadas de momentos ímpares de
consciencialização privada e de elaboração do pensamento e da vida da nossa
sociedade, umas e outros preponderante e identificadamente com declaradas
(e até complementares...) referências doutrinárias, teoréticas, axiológicas e
práticas herdeiras da tradição do Humanismo Personalista, da tensão profética
do Cristianismo e da Doutrina Social da Igreja.
– Todas estas dinâmicas, com uma feição inter-ilhas, foram – esperançosa
e felizmente naquela época… – geradoras consequentes de renovadas consciências
sociais, societárias, intelectuais e espirituais, com uma liderante e notabilíssima componente
local e regional que – apesar de divergências, concorrências e divisões nos
penhascos... – ajudaram decisivamente a pensar e a preparar o nosso Arquipélago
para a formulação de novas metas a todos os níveis, nos anos subsequentes e de
um modo simultaneamente realista,
generoso e utópico, talvez nunca mais igualado até hoje…
19.04.2013
19.04.2013
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Em RTP-Açores:
Azores Digital:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 21.04.2013).
Outra versão em "Diário Insular" (20.04.2013).