terça-feira, setembro 25, 2012

Economia, Moral e Política



           Depois de escrito e publicado neste jornal a nossa habitual Crónica da semana passada, tiveram lugar as mais do que expressivas, impressionantes e gigantescas manifestações populares nacionais (que falaram por si!) contra a política do governo de Passos Coelho, a par da continuação das já esperadas ou previsíveis e consabidas tomadas de posição por parte dos partidos, parceiros e formações sociais, das quais é justo salientar o exercício de equilíbrio político-partidário (com algum denunciado mas notável e controlado malabarismo à mistura…) de Paulo Portas, e bem assim os reacendidos argumentos de políticos, economistas, sociólogos e analistas sociais, e de entre eles os de Manuela Ferreira Leite (no jornal i do dia 15) e de Vítor Bento (https://www.youtube.com/watch?v=QVscITlSkTY&feature=player_embedded), em entrevista à TVI.

Quanto a esta última intervenção, mesmo sem entrarmos de pleno em âmbitos fundamentais e próprios da Filosofia Política, ou logo em questões ideológicas (conquanto estas nunca possam ser escamoteadas nas respectivas funções e escalas!), deve ser dito aqui que muitas das suas reflexões, vindas aliás na linha de abordagens prévias (v.g. em http://www.youtube.com/watch?v=TaXilMs8250&feature=related), haviam já sido feitas anteriormente também por outros, embora com variantes de discurso e argumentos.

– De qualquer modo, como seria de aguardar de um economista (e Conselheiro de Estado) tão sério, ponderado e consciencioso como Vítor Bento, é sempre bom repensar, frontalmente e sem falsificações iníquas, as doenças do País, o remédio e o seu sucedâneo, como ele diz… Coisa que Passos Coelho, infeliz, irresponsável e incompetentemente, não soube, nem nunca certamente saberá fazer!

De resto, muitas das questões teóricas e práticas aqui e ali abordadas andam irrecusavelmente centradas naquilo que na obra Economia, Moral e Política (Lisboa, FFMS, 2011) vem assumido assim:

– “Como se poderá verificar […], sustento, nomeadamente, que a Economia, enquanto estudo da realidade ou, mais propriamente, do comportamento humano relacionado com a actividade económica, é uma ciência positiva e, como tal, (praticamente) autónoma de considerações morais. Mas que a economia, enquanto actividade humana, funciona sempre em contextos morais. E que toda a acção que visa influenciar o funcionamento da economia, ou mesmo os juízos formulados sobre esse funcionamento e os seus resultados, são, sempre e por natureza, moralmente orientados e dependentes da escala de valores morais de quem julga ou de quem age (ou quer agir). E que uma tal acção pertence, também por natureza, à Política.

“ […] É claro que, quanto mais diversas forem as escalas dos intervenientes, mais difícil será a eficácia da acção política, quer se trate da sua formulação, quer se trate da sua concretização. Por isso, as sociedades que melhor conseguem articular o seu funcionamento e a sua acção política são aquelas em que é possível criar consensos morais para a acção política”…

– Lúcidas e prudentes palavras estas para os perigosos e abismais dias que correm, aonde, na inversão exacta da expectável e paciente ordem das coisas, dos valores e dos sacrifícios, quiseram vender lebre por gato a todo um adiado e agora revolto País …
Por outro lado e entretanto foram-se sucedendo as mais diversas tomadas de posição sobre a muita crítica e real situação do País, para a qual, aliás, não é fácil encontrar uma solução equilibrada, justa e minimamente prestigiante, tanto interna como externamente e face ao essencial que importa salvaguardar, como todos os portugueses puderam certamente tornar a constatar hoje perante a cegueira, a surdez e o mutismo invertido (ou de substituição) que se verificaram no debate realizado na Assembleia da República!

Porém, nos Açores, o tempo tem sido de tempestade, de esgalhar árvores e apresentação de listas de candidatos, sabe-se lá qual das tormentas a mais difícil de suportar, gerir e remediar no futuro, – seja ela o dos anticiclones autonómicos, a dos ventos e assentos parlamentares, a da dança das pastas executivas próximas ou a das Autárquicas do ano que vem (para onde muitos dos ditos estariam de facto e estrategicamente tão bem posicionados como dedos numa luva à medida…), – mesmo sem levar em linha de conta as produções, talentos mediáticos, audiovisuais ou quejandos que as mais ou menos felizes ou conseguidas feituras de dobragem de voz, enredo e legendagem – nas máquinas partidárias ou em outros centros de propaganda e contra-propaganda anónima, clandestina ou apenas mafiosa e incautamente (en)coberta… –, vão vendendo à porta de cada um e nas redes sociais, à falta de melhor e mais assumido meio e assinatura, entre pequenos grandes ramos e areias atiradas aos olhos dos eleitores e contribuintes…

E para tal nem será sequer necessário abrir o YouTube, o Facebook ou os sítios partidários que muito em moda e alta estatística de acesso e recomendação de consulta vão granjeando por aí:

        – Basta abrir a portinhola da caixa do correio, a janela de casa ou a do carro, para sentir no ar um antigo cheiro a pólvora, como antigamente se dizia e fazia em Ilhéus, no tempo recorrente ou remoçado dos velhos e duros coronéis, capitães do mato, jagunços e suspirantes moças românticas e passionais, todos à espera da hora da telenovela dos outros, quando não ou afinal eles mesmos já propriamente dentro dela, como figurantes inocentes (?) mas úteis de uma tragicomédia, insularmente repetida ad nauseam, porém que tornará a ultrapassá-los irremediavelmente de novo e mais depressa do que se imagina!
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Publicado em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 23.09.2012).