Os Balões do Regime
ou Pistões e Servo-freios
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Continuam os palpites sobre as
Lajes a trepar por crípticos ares, dando sopros de falso entendedor ou sabido
ignorante pelos hertzianos ou reais tipos atmosféricos deles (quem sabe se já a
par de interpolados ventos estratosféricos...) –, como se vê por aí a par de flatos
de voz, discurso ou entrevista que parecem provir apenas de camaradagens,
compadrios ou lengalengas caseiras, conquanto outros levianamente garantam que
são propícios e “mais que muitos” os seus próprios projectos (apesar de irrealistas
ou lunáticos, receia-se, conforme a “esquerda” de certa canhota os sonha em
bloco, por entre neblinas que nestes dias só empapam mentes e corpos).
– Entretanto na alta-roda das
hostes norte-americanas fazem-se duelos pré-presidenciais (onde tudo vale,
mesmo a nossa rebaixada ou despromovida Base, face aos trunfos britânicos na rede
planetária da western intelligence)!
Porém, cá mais pela baixa Europa
(muito na onda cavalgante de compreensíveis patriotismos futebolísticos
verde-rubros, conquanto amiúde passageiros, de mera compensação ou esporádicos),
continuam tais tiradas a atravessar canais e oceanos, descendo colateralmente à
terra os reports das guerras de Bush,
Blair, Aznar e Durão Barroso (esse luso-artista do mais abjecto carreirismo da
política, agora em nicho conselheiral e topo de firma e carreira na Golden
Sachs!), sem acusações formais formuladas ainda pelos seus delitos de
conivência, à revelia de transparência e num lodaçal de retóricas e
subterfúgios de oportunidade!
Por outro lado, jornalistas, comentadores e analistas críticos bem que alertam para o rodopio de balões de ensaio (como bem escrevia o “Diário Insular”) nos nublados céus açóricos, perante intencionais recusas institucionais e político-partidárias em assentar cabeça e pés num chão (segundo a incisiva imagem usada aqui no “Diário dos Açores”) que era preciso ter medido há muito, despindo-o de alçapões históricos e retóricas enganadoras para consumo indígena (como se fôssemos, mais do que às vezes toscamente parecemos, uma qualquer Guiana ultraperiférica)...
– Mas não tem sido fácil tal
esforço, porquanto, no engate para o arranque das geringonças e carriolas do
regime e do sistema “democrático e autonómico” estabelecidos, já se vão ligando
motores de rotação costumeira nas máquinas eleitorais hegemónicas, onde encaixotar-se-ão
servo-freios para pistão de assentimento dócil no denunciado cilindro das
manigâncias partidárias, com a agravante de vermos novas subserviências serem
oferecidas aos neo-intocáveis de Lisboa, a troco de um carreirismo de
oportunidade e de alienadas consciências, já sem lembrança daquelas promessas,
ilusões e recepções pacóvias aos BENS deste mundo e do outro, sem recordação
dos comícios de rua, das arrogantes ameaças de quarentenas água (e de luz e de
circulação...), e sem promoção de faixas de afrontamento indiscriminado a tudo
e todos nas pontes e canadas de acesso à pista aeronáutica (não aeroespacial!)
que temos no quintal das nossas casas!
Realmente, para quem tanto
esbracejou às portas da velha e sabidona toca dos paços de Passos Coelho, é um
tal fiar-se agora bem fininho e de mansinho junto aos santos camaradas dos terreiros
de lá e de cá, dependendo todos esses e essas (com seus boys & girls) dos temíveis e cesarianos domínios e
guarda-costas de Costa...
– Voltarei a este tema, que aliás
bem mereceria um por enquanto sempre adiado e amplo debate público regional e nacional,
por outro exemplo na sequência daquilo que na Terceira o IHIT tentou, porém sem
consequência e talvez de modo espartilhado e pouco trabalhado. Porém, perante a
passividade quase geral das instituições e dos partidos (veja-se até o silêncio
atroz ou a cumplicidade de quase todos eles, da direita à “esquerda”!),
esperemos que o IHIT não desista e que seja a maior câmara da ilha, perante as
actuais cedências ou incapacidades dos próceres praienses, a fomentar um
processo de discussão fundamentada e
de desmistificante debate público
aprofundados sobre um problema que diz respeito a Terceira, aos Açores e ao
País!
E por falar em casas (as nossas e a honra real,
histórica e simbólica delas!), relembro o que aqui escrevi em Dezembro de 2013
a propósito do levantamento geo-cadastral e da destruição habitacional e
patrimonial a que os ingleses aqui procederam após o seu desembarque com armas
e bagagens (em 1943), processo depois diversamente continuado pelos
norte-americanos no pós-guerra e, com conhecidas e comprovadas variantes
geo-ambientais e humanas mais radicais ainda, durante a guerra fria e até há
bem pouco tempo...
– E foi isso mesmo que então
aconteceu com muitos prédios, terrenos e moradias, que se situam
identificadamente em zonas, ruas e canadas da freguesia das Lajes, Serra das
Lajes, Santa Luzia, Juncal, Santa Rita e Serra da Praia, sendo – enfim… – que
os respectivos donos ou moradores (pelo menos os daquelas propriedades que
acabaram demolidas e das quais os donos foram forçosamente desalojados ou se
viram desapossados) – acabaram depois por ser realojados em novos bairros
circunvizinhos criados em redor da gigantesca pista de asfalto aeronáutico, em
implacável e imperioso crescimento administrativo-militar (e
político-diplomático...), num beligerante takeover
da “moda da gasolina” que, como versejou Vitorino Nemésio, “Secou o trigo do
chão”, e do “avião da carreira/ Carregadinho de bombas”, “Dando nicões de aço
fino, / Traques de fogo de guerra!”…
Voltarei certamente – como o fiz
noutras abordagens académicas e várias vezes antes – a falar destes temas e do
seu valor histórico-político, antropológico-cultural e sociológico, cujas
virtualidades temáticas e de leitura científica multidisciplinar são imensas, e
devem ser reactivadas hoje perante o sub-reptício, emaranhado e interesseiro foguetório
de delírios aeroespaciais que vão
povoando os nossos espectrais espaços!
– Mas, para já, o que aqui torno a deixar é somente um convite para que o leitor observe, sinta e reflicta bem e a fundo na verdade dramática e inspiradora da importância memorial e projectiva da existência e destruição real e simbólica daquelas casas, e das almas e corpos que as rondaram em vida, e que povoam ainda o nosso imaginário, na certeza do vasto e responsabilizante significado histórico-político, social, cultural e moral que ainda hoje tem para os Açores, para a Terceira, para a Praia da Vitória e – inegavelmente – para a trémula soberania de Portugal, com as suas tantas vezes estranhas, vendidas ou compradas honras e proveitos nacionais e regionais...
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.07.2016):