A História da Rádio nos Açores
nunca foi feita de modo minimamente alargado, articulado e sistemático, pese
embora a existência de alguns projectos idealizados e de específicos trabalhos
monográficos (como o de Pedro de Merelim sobre o RCA) e a concretização de diversos
outros apontamentos dispersos e registos pontuais (conferências institucionais evocativas,
crónicas, exposições, mostras e reportagens de tipo jornalístico).
– Mas tal lacuna não assentará
certamente na falta de significativos historiais
deste importante meio de Comunicação Social no Arquipélago, nomeadamente em
S. Miguel, Santa Maria e Terceira, cujos pioneirismos remontam a 1941 e 1947
(com as instalações do Emissor Regional
dos Açores da EN, depois RDP, Asas do
Atlântico e Rádio Clube de Angra),
coincidindo assim temporalmente com os meados da chamada época de ouro radiofónica em Portugal.
Todavia – e apesar de muitos elementos
materiais, documentais e técnicos, preciosos para a realização de tal levantamento
e consequente estudo, se terem perdido, gastos pelo tempo, incúria ou
inconsciência das respectivas agremiações e ausência de políticas culturais,
patrimoniais e museológicas mais amplas e multidisciplinarmente fomentadas… –,
talvez fosse hoje ainda possível fazer uma proveitosa investigação temática e
uma metódica abordagem socio-histórica, sociológica e política sobre tão
importante sector, sendo que tal trabalho, a chegar aos nossos dias (com a relativamente
mais recente implantação das novas estações e modelos institucionais,
comerciais, associativos ou apenas locais de Rádio), não deixaria de fornecer abundante
matéria para análise crítica deste
relevante campo mediático, histórico-cultural, informativo, formativo e lúdico,
nas suas diversas etapas, qualificações e instrumentos, e tanto naquilo que aí
também se manifesta e representa de universal como de particular.
– Oxalá esta problemática, que é assim
e afinal da ordem da Cultura e da Cidadania – e que se articula com a tão mal
debatida e ainda menos bem encaminhada questão do serviço público de Radiodifusão (e da participação, ou ingerência,
do Estado, do Governo e de muitas, desreguladas e obscuras redes de interesse e teias de Poder nos OCS…) –, fosse mesmo levada a sério por toda a sociedade civil
e pela própria “classe jornalística” (tão amiúde permeável ao mais abjecto
tráfico de favores e contra-favores que as lógicas
partidárias e as propagandas
administrativas sempre tem a tentação de gerar, reclamar e impunemente
perpetuar)!
Por outro lado, é de notar que
uma observação atenta às grelhas de programação e aos conteúdos individuais de
muitos Programas de algumas Estações de Rádio nos Açores (melhor sendo nem
falar, por agora, da Televisão que nos foi impingida para desencanto,
desmobilização, des-edificação e des-identificação colectivas e individuais…),
em comparação com produções e realizações bastante anteriores e muito mais
parcas em meios técnicos e humanos, não poderá deixar de fazer constatar uma
acentuada quebra na qualidade, na capacidade criativa, na pertinência sociocultural,
na relevância artística, na correspondência às dinâmicas comunitárias regionais,
na objectividade factual e na aceitação das audiências…
– Porém, depois e no meio do
deserto nacional ou da vacuidade gerais, lá nos aparecem pequenos espaços encantadores
e muito bem conseguidos na sua simplicidade, contenção e singeleza, revestindo-se,
por isso, de uma feição bem atractiva e de verdadeira promoção cultural,
cívica, crítica, estética e intelectual. E é neste quadro que quero até referir
e salientar pela positiva o Programa “À Volta dos Livros” de Ana Daniela
Soares, transmitido na Antena 1!
Trata-se de uma conversa serena, de
um sugestivo diálogo diário com Autores portugueses e suas Obras mais recentes,
nuns breves mas ricos minutos radiofónicos por onde já passaram, entre outros e
variadamente, Eduardo Lourenço, Miguel Real, Alice Vieira, José Eduardo Franco,
Bagão Félix, Helena Matos, Pacheco Pereira, Nazaré Barros e Mendo Henriques…
– Certamente um pequeno exemplo a
seguir, para além do mais e ao seu nível próprio, por tantas estações e
frequências de afugentar os olhos e queimar os ouvidos, deste e do outro lado
do mar das ilhas…
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 11.05.2013):
RTP-Açores:
http://sinaisdaescrita.blogspot.pt/,
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2358&tipo=col,
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.05.2013):
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 11.05.2013):
RTP-Açores:
http://sinaisdaescrita.blogspot.pt/,
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2358&tipo=col,
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.05.2013):