sexta-feira, maio 10, 2013


As Culturas da Rádio
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A História da Rádio nos Açores nunca foi feita de modo minimamente alargado, articulado e sistemático, pese embora a existência de alguns projectos idealizados e de específicos trabalhos monográficos (como o de Pedro de Merelim sobre o RCA) e a concretização de diversos outros apontamentos dispersos e registos pontuais (conferências institucionais evocativas, crónicas, exposições, mostras e reportagens de tipo jornalístico).

– Mas tal lacuna não assentará certamente na falta de significativos historiais deste importante meio de Comunicação Social no Arquipélago, nomeadamente em S. Miguel, Santa Maria e Terceira, cujos pioneirismos remontam a 1941 e 1947 (com as instalações do Emissor Regional dos Açores da EN, depois RDP, Asas do Atlântico e Rádio Clube de Angra), coincidindo assim temporalmente com os meados da chamada época de ouro radiofónica em Portugal.

Todavia – e apesar de muitos elementos materiais, documentais e técnicos, preciosos para a realização de tal levantamento e consequente estudo, se terem perdido, gastos pelo tempo, incúria ou inconsciência das respectivas agremiações e ausência de políticas culturais, patrimoniais e museológicas mais amplas e multidisciplinarmente fomentadas… –, talvez fosse hoje ainda possível fazer uma proveitosa investigação temática e uma metódica abordagem socio-histórica, sociológica e política sobre tão importante sector, sendo que tal trabalho, a chegar aos nossos dias (com a relativamente mais recente implantação das novas estações e modelos institucionais, comerciais, associativos ou apenas locais de Rádio), não deixaria de fornecer abundante matéria para análise crítica deste relevante campo mediático, histórico-cultural, informativo, formativo e lúdico, nas suas diversas etapas, qualificações e instrumentos, e tanto naquilo que aí também se manifesta e representa de universal como de particular.

– Oxalá esta problemática, que é assim e afinal da ordem da Cultura e da Cidadania – e que se articula com a tão mal debatida e ainda menos bem encaminhada questão do serviço público de Radiodifusão (e da participação, ou ingerência, do Estado, do Governo e de muitas, desreguladas e obscuras redes de interesse e teias de Poder nos OCS…) –, fosse mesmo levada a sério por toda a sociedade civil e pela própria “classe jornalística” (tão amiúde permeável ao mais abjecto tráfico de favores e contra-favores que as lógicas partidárias e as propagandas administrativas sempre tem a tentação de gerar, reclamar e impunemente perpetuar)!

Por outro lado, é de notar que uma observação atenta às grelhas de programação e aos conteúdos individuais de muitos Programas de algumas Estações de Rádio nos Açores (melhor sendo nem falar, por agora, da Televisão que nos foi impingida para desencanto, desmobilização, des-edificação e des-identificação colectivas e individuais…), em comparação com produções e realizações bastante anteriores e muito mais parcas em meios técnicos e humanos, não poderá deixar de fazer constatar uma acentuada quebra na qualidade, na capacidade criativa, na pertinência sociocultural, na relevância artística, na correspondência às dinâmicas comunitárias regionais, na objectividade factual e na aceitação das audiências…

– Porém, depois e no meio do deserto nacional ou da vacuidade gerais, lá nos aparecem pequenos espaços encantadores e muito bem conseguidos na sua simplicidade, contenção e singeleza, revestindo-se, por isso, de uma feição bem atractiva e de verdadeira promoção cultural, cívica, crítica, estética e intelectual. E é neste quadro que quero até referir e salientar pela positiva o Programa “À Volta dos Livros” de Ana Daniela Soares, transmitido na Antena 1!


Trata-se de uma conversa serena, de um sugestivo diálogo diário com Autores portugueses e suas Obras mais recentes, nuns breves mas ricos minutos radiofónicos por onde já passaram, entre outros e variadamente, Eduardo Lourenço, Miguel Real, Alice Vieira, José Eduardo Franco, Bagão Félix, Helena Matos, Pacheco Pereira, Nazaré Barros e Mendo Henriques…

– Certamente um pequeno exemplo a seguir, para além do mais e ao seu nível próprio, por tantas estações e frequências de afugentar os olhos e queimar os ouvidos, deste e do outro lado do mar das ilhas…
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 11.05.2013):



























RTP-Açores:
http://sinaisdaescrita.blogspot.pt/,
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2358&tipo=col,
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.05.2013):