sábado, janeiro 09, 2010

BALANÇAS DO TEMPO


Especialmente ao terminar cada ano civil – mas às vezes também com incidência sobre outros períodos convencionais variáveis ou padronizados (como décadas, séculos, legislaturas, mandatos, regimes, ciclos de festança, etc.) e cuja percepção de duração se afigura significativa… –, é costume já estabelecido, mormente nos OCS, fazer-se uma espécie de inventário mais ou menos crítico dos doze meses passados, assim a modos de um exercício de reavaliação retrospectiva e global dos principais acontecimentos, factores, agentes e actores que marcaram a vida, a história e os discursos do mundo, dos cidadãos ou de uma determinada sociedade durante aquele mesmo período de tempo.


– Ora, como é evidente, as leituras daquele dito inventário – às vezes também denunciadamente feito segundo parâmetros mais próprios de certos balanços político-comerciais, de balancetes de créditos e de existências malparadas, ou para ajuste de velhas contas pessoais em véspera de saldos… –, que nem por nunca poderem ser totalmente neutros nem incondicionalmente objectivos – e até exactamente por isso… – não deixam lá por isso de traduzir mesmo, ou de insinuar em parte, muitas das linhas de inércia ou de força que, recebidas do passado, vão já regendo o quotidiano e perspectivando os futuros próximos.


Contudo – e tal como se costuma dizer que “a cada cabeça sua sentença”, também aqui, à paralela medida em que vão sendo seleccionados, pesados e medidos os dados do aludido inventário de 2009, sempre conforme os pesos e as medidas que tiverem sido usados na balança das análises e nas contas e pautas dos diferentes observadores e contextos em presença – muitas vezes, mais interessante do que desfiar o rol das escolhas seria analisar a relação entre elas e os seus analistas jurados (júris de selecção ou juízes de opinião…).

No caso provincial da vida portuguesa e das suas periferias, semi-periferias e ultra-periferias – que a tal graduação se chegará facilmente nestes inícios da segunda década do Século XXI e nos alvores comemorativos da primeira centúria daquela indistintamente encomiástica ética republicana que até ao nosso encabulado PR fez subir o tom de um discurso inocuamente moralista e destituído da mínima dimensão historicamente crítica…, – que mais se há-de acrescentar ao que já foi escrito?

– Nada, porventura, que as balanças do tempo não dão para mais e falarão por si à consciência espiritual profunda de cada um, pontual e institucionalmente talvez apenas a par e passo com algumas das vozes mais lúcidas da Igreja, face aos desafios inauditos e aos ventos perigosos que aí estão a fustigar a sociedade portuguesa e a parasitar a deformada alma de um País abúlico, condenado de novo aos expedientes de um medíocre marasmo fatalista e rasteiro, que só tem servido afinal a quem o domina, despreza e explora, com impiedade cruel e proveito garantido…

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In "Diário Insular" e Azores Digital (09.01.2009