sábado, janeiro 30, 2016


Desgraças da Semântica
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Na primeira apreciação ao resultado das Presidenciais, o secretário-geral do PCP fez afirmações que tiveram o condão de provocar comentários repetidos em cadeia e juízos interpretativos por uma enfiada de pressurosos “analistas”, jornalistas em praça, historiadores com tarimba e preceptores do espaço público, a par de articulistas e políticos de quadrantes menores.

O pomo da indignação de tão zelosos cavalheiros-guardiães e feminis-guardiãs da “honra” feminina – em coro de proverbial e simétrico “anti-machismo” – foram as palavras que transcrevo e sublinho, até porque foram amiúde truncadas, quando não arbitrariamente sinonimizadas, para intencionais apertões de sentido, conforme calhou ao argumentário de tão desobrigados actores (certamente tenazes defensores de todos os direitos e deveres de todas as mulheres)!

– Disse Jerónimo: “Nós podíamos apresentar um candidato ou uma candidata assim mais engraçadinha (...). Em que fosse fácil, com um discurso ajeitadamente populista (...), aumentar o número de votos. São opções e eu não quero criticá-las. Mas (...) nós partimos sempre para estes combates, onde se travam combates de ideias, combates com ideias políticas, com princípios”.


 Ora onde de facto se referiu “candidato” ou “candidata” (embora com a adjectivação caindo apenas no singular feminino) muitos quiseram ouvir as finezas e os trejeitos criticados (bem notórios no identificável pendor populista, ilusionista e até circense de certas actuações histriónicas mas sem substância...) como se visando o BE, apesar do franco sorriso, entre surpreendido e embaraçado, de Edgar (talvez a sonhar, em indubitável esperança, com aqueles horizontes sérios – quem disse que “impossíveis”? – de vida e sociedade novas, que ele, sincero mas visionário, até recolheu e citou de Ernst Bloch, sem que ninguém o tivesse sequer retido e relevado nos púlpitos do PCP...).


 – Ao menos Catarina, Marisa e Mariana, inteligentes e graciosas, mostraram enxergar os (reais) alvos, sem que tivesse sido necessário a um calejado e sofrido Jerónimo vir desculpar-se, humilde no recuo e na elucidação semântica daquele seu inusitado sentido de humor...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 30.01.2016):



























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e RTP-Açores:



sábado, janeiro 23, 2016



Os Ditados do Tempo
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Não sei se devido a remota herança de corpo, alma e vida vivida, talvez não se passe nenhum Inverno em que não recorde a alta figura de António Silveira Pacheco, meu bisavô faialense, ali à varanda da antiga casa das Angústias, emprestados que eram por ele à minha curiosa investigação infantil os seus belos binóculos de Faroleiro-Chefe com os quais nas férias do Verão pesquisava as mansas águas do Porto Pim, a Fábrica da Baleia e o Monte da Guia, enquanto ouvia os seus relatos sobre os fantásticos Faróis das ilhas onde ele tinha estado tantos anos a vigiar a travessia dos barcos e a manter acesas e limpas as luzes da terra sobre a noite do mar e a passagem do Tempo... 


Até aí nunca tinha ouvido a misteriosa evocação do nosso protector anticiclone insular e do vasto adagiário popular da Meteorologia, que só depois vi científica e minuciosamente explicados pelos nossos distintos meteorologistas José Agostinho (terceirense: 1888-1978) e Anthimio de Azevedo (micaelense: 1926-2014) – e mais tarde ainda, a relembrar também o sentido interpretativo de alguns daqueles Provérbios que meu bisavô do Capelo me recitava – na sugestiva antologia Mudam os Ventos, mudam os Tempos de Manuel Costa Alves (especialista do Instituto de Meteorologia de Portugal e apresentador de informação meteorológica), da qual o académico Pinto Peixoto salientara que recolhia manifestações “de aculturamento e de observação do mundo real e do comportamento, (...) sínteses de acumulação e de sedimentação da inteligência que soube reflectir sobre a fenomenologia do real”!

E depois de salientar que esse repertório prestava um grande serviço à Cultura (ou às “duas culturas, como diria Sir Charles P. Snow, [porque estas] se fundem num conceito universal e abrangente”), o antigo presidente da Academia das Ciências de Lisboa, professor do MIT e das universidades de Yale e Princeton, mais referia:



– “É que, com a emigração em massa e os ventos de uniformidade e de descaracterização soprados por alguns meios de comunicação, tende a destruir-se este património, este bem colectivo, que tem, em grande parte, permanecido como uma relíquia nos nossos povos e aldeias. (...)

"Com o advento do positivismo científico, a meteorologia desenvolveu-se muito como ciência. As observações de empiriologia do real transformaram-se em medições que utilizam, hoje, equipamentos evoluidíssimos que estão na fronteira das tecnologias. E esses avanços observacionais, iniciados por Galileu, Torricelli e outros, isto é, estas medidas, levaram à aplicação das leis da física e da química”.


Neste livro de Costa Alves os Açores também estão presentes ao analisar o autor, entre outros, o nosso provérbio "Com baleias no canal terás temporal", ditado aliás não muito distante do universo simbólico que Nemésio exprimiu no título Mau Tempo no Canal. Ainda assim, relembrando a paradigmática quarentena de abastecimentos e o impedimento de qualquer tentativa de apoio ou socorro por meios marítimos habituais (ou aéreos, como há poucos dias mortalmente tornou a ocorrer!) a que as Flores e o Corvo estiveram sujeitas em Março de 1991, logo relembra que "Quando o mar zurra, atrás vem quem no empurra"...


 – E do mesmo modo, conquanto deixando para posterior ensejo uma abordagem específica e desenvolvida do extremamente rico Adagiário Popular açoriano – mas recordando-me logo aqui dos avisos prenunciadores que o Pico gera, mostrava e não deitava, com o seu capelo, barrete, penacho, boca de lobo, nuvem da Prainha, etc., e que meu bisavô Pacheco evocava tão amiúde ali junto à perigosa cisterna do nosso quintal no Pasteleiro, face aos calhaus para onde eu queria correr à força para navegar até às grutas do Monte dianteiro, com a mochila da Campanha da França às costas e o oscilante e pesado capacete de meu avô Eduardo Medeiros da Rosa (Horta, 1891-1963) marcado pelas balas (e pelas fundas feridas e cicatrizes carnais e espirituais!) da I Primeira Grande Guerra (onde ele estivera e servira com o General Gomes da Costa, seu ídolo militar, com direito a honras fidedignas naquela enorme fotografia pessoal, autografada e pendurada em lugar de honra na sala da nossa casa nas Angústias)...


Em consonância – vinha a dizer – Costa Alves regista uma série de outros ditados profundamente ligados às condições existenciais e ambientais, geo-bio-físicas e psíquicas insulares: “Vento sudoeste brandinho e panga, é tremer dele quando se zanga”; “Gaivotas pelas portas, água pelas grotas”; “Nuvens do sul para o norte vão, mau tempo de inverno, bom tempo de verão”; “Não te fies em céu estrelado, nem em amigo reconciliado”; “Vento norte, três dias forte”, etc.

– Ora nestas horas do Alex em que nos vimos envoltos, mas já informáticos observadores e participantes pelos OCS e pelas Redes planetárias da Internet e suas aplicações, nesse “sistema natural constituído pelo mar oceano de ar que nos rodeia, que não vemos, mas que respiramos, e à sua matematização, permitindo uma justificação lógica quantitativa da sabedoria dos provérbios”, – como não relembrar outro tempo de catástrofes e medos cíclicos (sabe-se lá se replicáveis em novos riscos e ameaças por alterações climáticas e ambientais)!? E tudo isto, apesar do Adagiário selecto não integrar sequer o anticiclone dos Açores, porém sabendo que “Qual o tempo, tal o tento”...


Porém – conhecendo-se que os nomes das tempestades ciclónicas e dos violentos e ameaçadores fenómenos naturais (ao fechar e abrir os anos, e de prioridade em sequência baptismal) vão de Arlene a Wilma, Alberto a William, Andrea a Wendy, Arthur a Wilfred, Ana a Wanda, e de Alex, talvez em 2016 (quem o pressagiará?) a Walter..., saltando-se pois alternadamente de belos mas impiedosos nomes femininos para outros de mansos senhores que acabam nominalmente regulando desgraças e eleições do clima – conforme no seu livro O Anticiclone dos Açores (com imagens do talentoso fotógrafo que foi Alexandre D. O’Neill, filho do poeta Alexandre O’Neill) sinalizou o nosso geofísico e meteorologista Anthimio de Azevedo (aliás ultimamente, e bem avisado, queixando-se das mudanças climáticas e da vadiagem do nosso anticiclone!) –, como não estarmos hoje atentos e acautelados para aquilo que nos pode sair na roleta do boletim meteorológico ou na presidência dos nossos destinos..., – ou não bastassem já todos os demais desterros, ventos e esquecimentos do tempo e da sorte a que fomos e estamos geo-historicamente votados, para bem e para mal dos nossos pecados e virtudes de gerações, neste frágil e precário arquipélago de almas incarnadas em nove pequenas ilhas, no meio de um imenso Oceano...
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 23.01.2016):

A Roleta dos Boletins
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No livro de Costa Alves sobre o Adagiário Meteorológico português aqui recordado antes, os Açores também estiveram presentes, como quando foi analisado o provérbio “Com baleias no canal, terás temporal”, ditado não alheio ao universo simbólico que Nemésio exprimiu no título de Mau Tempo no Canal, conquanto usado em Mudam os Ventos, mudam os Tempos para relembrar a paradigmática quarentena e o recorrente impedimento de qualquer tentativa de apoio ou socorro de urgência a que estiveram sujeitas as Flores e o Corvo em 1991 – ou como há pouco, e desta vez mortalmente, tornou a ocorrer! –, repetindo-se então a oeste que Quando o mar zurra, atrás vem quem no empurra!


– De resto, em consonância e de idêntico modo, Costa Alves ainda seleccionou uma série de outros aforismos profundamente ligados às condições existenciais e ambientais, geobiofísicas e psíquicas insulares...


Ora conhecendo-se que nomes de tempestades ciclónicas e de violentos e ameaçadores fenómenos naturais, ao fechar e abrir os anos, e de prioridade em sequência baptismal, vão de Arlene a Wilma, Alberto a William, Andrea a Wendy, Arthur a Wilfred, Ana a Wanda, e de Alex, talvez em 2016 (quem o pressagiará?), a Walter – saltando-se alternadamente de belos mas impiedosos nomes femininos para outros de menos malvados senhores que nominalmente regulam desgraças e eleições do ambiente, conforme em O Anticiclone dos Açores sinalizou Anthimio de Azevedo (aliás ultimamente, e como bem avisado geofísico açoriano, queixando-se das mudanças climáticas e da vadiagem do nosso anticiclone...) –, como não estarmos hoje atentos e acautelados para aquilo que nos pode sair amanhã na prospectiva roleta do boletim meteorológico e nas histriónicas urnas da provável presidência dos nossos destinos... –, como se não bastassem todos os demais desterros, derrocadas, ventos e esquecimentos do tempo e da sorte a que fomos condenados e estamos geo-historicamente votados, para bem e para mal dos pecados e virtudes de tantas gerações, neste frágil país e no precário arquipélago de almas incarnadas em nove pequenas ilhas, no meio de um imenso Oceano.
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 23.01.2016):




























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sábado, janeiro 16, 2016


Os Faróis do Tempo
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Não sei se devido a remota herança de corpo, alma e vida vivida, talvez não se passe nenhum Inverno em que não recorde a alta figura de António Silveira Pacheco, meu bisavô faialense, ali à varanda da antiga casa das Angústias, emprestados que eram por ele à minha curiosa investigação infantil os seus belos binóculos de Faroleiro-Chefe com os quais nas férias do Verão sempre pesquisava as mansas águas do Porto Pim, a Fábrica da Baleia e o Monte da Guia, enquanto ouvia os seus relatos sobre os fantásticos Faróis das ilhas onde ele tinha estado tantos anos a vigiar a travessia dos barcos e a manter acesas e limpas as luzes da terra sobre a noite do mar e a passagem do Tempo... 


– Até aí nunca tinha ouvido a misteriosa evocação do nosso protector anticiclone insular e do vasto adagiário popular da Meteorologia – que aliás só depois vi científica e minuciosamente explicados pelos nossos distintos meteorologistas José Agostinho (1888-1978) e Anthimio de Azevedo (1926-2014), e mais tarde ainda, a relembrar também o sentido interpretativo de alguns daqueles Provérbios que meu bisavô do Capelo me recitava, na sugestiva antologia Mudam os Ventos, mudam os Tempos de Manuel Costa Alves, da qual o académico José Pinto Peixoto salientara que recolhia manifestações “de aculturamento e de observação do mundo real e do comportamento, (...) sínteses de acumulação e de sedimentação da inteligência que soube reflectir sobre a fenomenologia do real”!


Ora nestas horas do Alex, em que nos vimos envoltos, mas já informáticos observadores e participantes – pelos OCS e pelas Redes planetárias da Internet e suas aplicações tecnológicas – nesse “sistema natural constituído pelo mar oceano de ar que nos rodeia, que não vemos, mas que respiramos, e à sua matematização, permitindo uma justificação lógica quantitativa da sabedoria dos provérbios”..., – como não relembrar outro Tempo de catástrofes e medos cíclicos (sabe-se lá se replicáveis com novos riscos e ameaças por alterações climáticas e ambientais)!?


– E tudo isto, apesar do Adagiário, não conhecendo sequer o anticiclone dos Açores, saber porém que “Qual o tempo, tal o tento”...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 16.01.2016):



























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sábado, dezembro 19, 2015


Uma Igreja em Diálogo

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Acaba de ser apresentado em S. Miguel (Ponta Delgada, Igreja do Colégio) e na ilha Terceira o livro A Igreja em Diálogo com o Mundo, da autoria do Bispo coadjutor de Angra D. João Lavrador.

– Em Angra do Heroísmo esta edição da Paulus (Lisboa, 2015) foi lançada na Livraria do Seminário Episcopal de Angra (SEA) com a presença e intervenções do autor, do Bispo D. António Sousa Braga e da jornalista Carmo Rodeia. Presentes vários sacerdotes, seminaristas e alguns leigos que compuseram o acolhedor espaço daquela livraria diocesana, onde actuou e abrilhantou a cerimónia o Coro do Seminário.



A obra, prefaciada pelo Bispo do Porto (D. António Francisco dos Santos), reúne oitenta e seis Crónicas publicadas no conceituado semanário Voz Portucalense (entre Junho de 2009 e Julho de 2015) pelo então Bispo auxiliar daquela prestigiada diocese do norte de Portugal, conforme o próprio, na sua Introdução, programaticamente a define e objectivamente fundamenta:

– “Há alguns anos fui convidado a escrever regularmente algumas reflexões sobre acontecimentos que a meu critério mereciam ser iluminados. (...). Fi-lo com gosto, como desafio pessoal e como prova do meu apreço pelo meritório trabalho que os jornalistas realizam na edificação da opinião pública e na promoção de uma cultura que seja digna da pessoa humana e dos valores que darão consistência à harmonia social.



“ (...) Em tempos de crise cultural e civilizacional, na busca de novas coordenadas que orientarão a humanidade para os verdadeiros valores dignos do ser humano, a comunicação social, sobretudo de inspiração cristã, é convidada a ler os sinais dos tempos.

“ (...) Foi a esta luz que periodicamente seleccionava um acontecimento que a meu juízo deveria ser iluminado pela luz da fé cristã e lido através dos documentos do magistério da Igreja”.


 – Ora se foi sob essa luz orientadora que o projecto eclesial e pessoal do nosso novo Bispo acompanhou “a voragem do tempo e da história” – ordenando reflexões críticas segundo áreas temáticas que correspondem justamente ao conteúdo dos textos seleccionados e constantes dos sete capítulos deste livro (com edificante destaque para Evangelho e Cultura, Justiça, Paz, Testemunho, Alegria, Renovação Comunitária, Ministérios, Educação e Mariologia) –, desígnio ainda mais expectável é o mesmo aqui e agora, face às responsabilidades e desafios da actual missão de D. João Lavrador ao serviço da Igreja e Povo dos Açores, idêntica e fielmente aguardando-se a sua mais profunda, coerente e autêntica ortopraxia evangelizadora (religiosa, espiritual, pastoral, moral, teológica, existencial, social, cultural e eclesiástica) neste arquipélago...


Várias vezes, ao longo deste livro, salientou o prefaciador de A Igreja em Diálogo com o Mundo – “somos interpelados sobre o lugar da Igreja na sociedade e sobre a missão dos cristãos no percurso da história”. E na verdade, porque a “intenção do autor dos textos não é académica nem apenas jornalística”, o que acima de tudo preside à respectiva elaboração é um confessado “desejo de ajudar o leitor a ser protagonista da evangelização mais do que seu destinatário, interventor num mundo em mudança mais do que recetor da mudança do mundo, comprometido com a missão da Igreja mais do que espectador passivo do que diariamente acontece”.


Assim, sempre ao longo de todas as Crónicas aqui reunidas, é também notória a intenção do autor em propor chaves de leitura da realidade a partir não só da Teologia e das Doutrinas Conciliares, dos Documentos da Igreja e dos Ensinamentos (Discursos, Cartas e Encíclicas) dos Papas (mormente dos últimos Pontífices, desde João XXIII e Paulo VI a Francisco), mas também em diálogo aberto com o mundo da Cultura e do Pensamento, aonde se reflecte e se projecta metódica, histórica e decisivamente sobre o Homem, a sua natureza e o seu destino transcendentes, e desse modo então sobre os Valores da Humanidade e da Pessoa, como se lê, por exemplo, no texto sobre o lugar ético “do pensamento altruísta”, paradigmática e categorialmente abordado e construído (ou desconstruído...), de modo unicamente fundamental, e na medida do possível sistemático, em Antropologia Filosófica e Teológica...


– “ O grande debate – refere D. João – dá-se na idade moderna e corresponde à rutura na concepção antropológica sobre o ser humano. Esta designação deve-se a Comte e contrasta com uma visão pessimista sobre o homem e a sua incapacidade para o altruísmo teorizada por Freud., Hobbes e outros autores.

“A antropologia tem uma marca secular e profunda que foi absolutamente beneficiada pelo cristianismo que lhe deu não só o seu conteúdo mais sublime como também a sua fundamentação mais autêntica através do amor e da caridade.


“ (...) No século XX dá-se uma aproximação ao conceito de altruísmo através da visão bíblica (...). A benevolência, expressão para oferecer a visão altruísta do ser humano na modernidade mas insuficiente, é conjugada com a visão cristã (...), para uma verdadeira visão antropológica. Exemplo disto é Lévinas, como filósofo, e teólogos como Rahner e Urs Von Balthasar”.

– Depois e finalmente, devo salientar que em todas estas Crónicas é possível vislumbrar a visão da Igreja e do Mundo que o novo Bispo dos Açores necessária e firmemente trará consigo (a partir de novos e mais amplos horizontes...), e que bastante prenuncia (e exigirá!) a uma Diocese como a nossa, regionalmente tão carenciada e problemática, a todos os níveis da Fé, da Inteligência e da Vida comunitária e individual, nestas nove ilhas e na diáspora açoriana...



Por tudo isto, estes empenhados, lúcidos e indicativos textos cristãos de memórias e esperanças de D. João Lavrador devem legitimamente merecer consequentes meditações, solidários diálogos, compromissos comuns e caminhos partilhados na mesma terra, mas com os olhos do espírito e do coração no Futuro!


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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 19.12.2015):



Luzes e Caminhos da Igreja
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Acaba de ser apresentado nos Açores o livro A Igreja em Diálogo com o Mundo, da autoria do Bispo coadjutor de Angra D. João Lavrador.


– A obra, prefaciada pelo Bispo do Porto (D. António Francisco dos Santos), reúne oitenta e seis Crónicas publicadas no semanário Voz Portucalense (Junho de 2009-Julho de 2015) pelo então Bispo auxiliar daquela diocese nortenha, conforme o próprio, na sua Introdução, programaticamente a define e objectivamente fundamenta:

“Há alguns anos fui convidado a escrever regularmente algumas reflexões sobre acontecimentos que a meu critério mereciam ser iluminados. (...).

“Fi-lo com gosto, como desafio pessoal e como prova do meu apreço pelo meritório trabalho que os jornalistas realizam na edificação da opinião pública e na promoção de uma cultura que seja digna da pessoa humana e dos valores que darão consistência à harmonia social.

“ (...) Em tempos de crise cultural e civilizacional, na busca de novas coordenadas que orientarão a humanidade para os verdadeiros valores dignos do ser humano, a comunicação social, sobretudo de inspiração cristã, é convidada a ler os sinais dos tempos.

“ (...) Foi a esta luz que periodicamente seleccionava um acontecimento que a meu juízo deveria ser iluminado pela luz da fé cristã e lido através dos documentos do magistério da Igreja”.


 Ora se foi sob essa luz orientadora que o projecto eclesial e pessoal do nosso novo Bispo acompanhou “a voragem do tempo e da história” – ordenando reflexões críticas segundo áreas temáticas que correspondem justamente ao conteúdo dos textos seleccionados e constantes deste livro (com edificante destaque para Evangelho e Cultura, Justiça, Paz, Testemunho, Alegria, Renovação Comunitária, Ministérios, Educação e Mariologia) –, desígnio ainda mais expectável é o mesmo aqui e agora, face às responsabilidades e desafios da missão de D. João ao serviço da Igreja e Povo dos Açores, idêntica e fielmente aguardando-se a sua mais profunda, coerente e autêntica ortopraxia evangelizadora neste arquipélago...

– Por tudo isto, estes empenhados, lúcidos e indicativos textos de memórias e esperanças devem legitimamente merecer consequentes meditações, solidários diálogos, compromissos comuns e caminhos partilhados na mesma terra, mas com os olhos do espírito e do coração no Futuro!
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Em Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3094:

























e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 19.12.2015):
"Igreja, Luzes e Caminhos":


sexta-feira, dezembro 18, 2015


Dos Arquivos do Vaticano
para a História dos Açores
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Publicada já há alguns anos pela Esfera do Caos (Lisboa, 2011) mas ainda felizmente disponível em Angra do Heroísmo na Livraria In Folio, a obra Arquivo Secreto do Vaticano, Expansão Portuguesa – Documentação, como o seu título indica, reúne documentação, descrita e sumariada do Fundo da Nunciatura de Lisboa patente no Arquivo Secreto do Vaticano e relativa ao período da Expansão Portuguesa – feito histórico-civilizacional que promoveu, como se entende na Introdução ao primeiro dos três volumes que integram esta bela edição encadernada e guardada em caixa-arquivo, “aquela que podemos chamar a primeira globalização do Cristianismo na sua forma confessional católica desde a modernidade”.



Prefaciada por Roberto Carneiro (Presidente do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica) – que no seu texto explica os diferentes faseamentos e as sucessivas fases de trabalho, financiamento e coordenação desta obra organizada sob a Coordenação de José Eduardo Franco –, este excepcional repertório documental constitui um indispensável instrumento de trabalho para quem queira estudar o Catolicismo em Portugal e no Mundo, enquanto e como “experiência de implantação e afirmação da Fé Cristã confessionalizada numa estrutura modeladora com uma história que não é desligável da história dos países, das culturas e das derivas internacionais da religião e da política.

“Ler estas fontes documentais – salienta precisamente José Eduardo Franco – é encetar, de facto, uma aventura de compreensão que deve ser, em primeiro lugar, a missão da construção da história como revisitação do passado, guiada por uma insistente interrogação”.  



– O Plano dos 3 Volumes desta obra está organizado por relação aos espaços geográficos da Costa Ocidental de África e Ilhas Atlânticas (Tomo I, com coordenação científica de Arnaldo do Espírito Santo e Manuel Saturino Gomes), do Oriente (Tomo II, com coordenação científica de João Francisco Marques e José Carlos Lopes de Miranda), e do Brasil (III Tomo, com coordenação científica Luís Machado de Abreu e José Carlos Lopes de Miranda).

A primeira fase de elaboração deste projecto iniciou-se, sob a coordenação do Professor Teodoro de Matos, em 1998, com um projecto financiado pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (Inventariação da Documentação relativa a Portugal existente nos Arquivos do Vaticano), ao qual se seguiram uma segunda (2005) e terceira (2008) fases, mas sendo que, ao final, o seu Investigador Responsável (José Eduardo Franco) entendeu por bem reunir os intervenientes das equipas de ambas as fases do projecto que se disponibilizaram para o efeito. Devido à sua dimensão ainda era necessário muito trabalho adicional para tornar o resultado capaz de publicação com coerência e rigor de critérios, pelo que os membros das referidas equipas das duas fases aceitaram apoiar e, alguns deles, colaborar em conjunto na preparação da versão final na forma que aqui se publica, da qual todos eles são, na verdade, autores e colaboradores”.

“Este empenho conjunto – ainda segundo salientou Roberto Carneiro – pretendeu fazer justiça ao trabalho efectivamente desenvolvido por todos os intervenientes nas diferentes etapas e garantir que o produto científico do considerável investimento em recursos humanos e materiais, feito por prestigiadas instituições de financiamento do Estado Português e da União Europeia, se tornasse acessível a um público interessado e o mais alargado possível”.



– Entretanto, em Outubro de 2011, a quando da apresentação desta obra em Lisboa, o actual Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente, então Bispo do Porto (ele próprio historiador de mérito) teve também oportunidade de salientar a importância, os recursos e as potencialidades que um programa desta natureza contém, com a particularidade – para nós indicativa… –, do mesmo se ter precisamente debruçado, com alguma atenção, sobre a problemática conflitual, para si dilecta e da qual é um especialista, do Liberalismo, do primeiro Republicanismo, do Movimento Católico Português e das suas paradigmáticas configurações, ecos e ilustrações nas nossas ilhas, para tanto respigando, por exemplo, do 1º volume, um documento (datado de “sete anos antes da revolução liberal”) onde um prelado já dava notas do outro tempo que naqueles tempos chegava, ao referir “apreciar a religiosidade das pessoas do campo em oposição à cidade, onde se diz que residem os libertinos e os maçons”..., bem assim ali variada e abundantemente constando também muitas e preciosas informações e pistas sobre os Açores, a Igreja, a Monarquia, etc. E deste modo é depois salientado o alcance histórico-temático desta obra por Arnaldo Espírito Santo, que escreve o seguinte:


– “Tomemos como caso notável a história regional e local das comunidades açorianas. Das centenas de pedidos de dispensa de impedimentos canónicos do matrimónio entre familiares, consanguíneos e afins, ressalta a verificação de que era restrito, no século XVII, o número de famílias do arquipélago, em grande parte descendentes daquelas que iniciaram o povoamento das ilhas. A prática religiosa é intensa. A enquadrar as comunidades urbanas e com uma grande inserção entre elas, exercem o seu fascínio os conventos e os institutos de várias famílias religiosas. Muitos e muitas acorrem a engrossar as suas fileiras. Seja por inadaptação ou por insatisfação, chovem os pedidos de mudança de lugar, uns alegando desejo de maior austeridade, outros denunciando dificuldades pontuais de convivência e conflitos pessoais. Uma abadessa solicita a exoneração do cargo; uma freira, já idosa, pretende licença para ter uma criada. A autoridade eclesiástica competente vai despachando conforme os casos, ora acedendo aos pedidos, ora recusando para não criar precedentes. Há matéria abundante que roça o romanesco. Uma freira foge do convento para Inglaterra com um marinheiro inglês. Outra salta o muro, dizem que com conivência do confessor. Um escândalo que fez correr rios de tinta e de documentos”…


De tudo isto e do muito mais que ali consta, para encantadoras incursões e revisitações socio-históricas, institucionais, culturais e existenciais, pelos caminhos do passado da nossa vida colectiva nos Açores – enfim –, no entrecruzamento de gentes, mentalidades e destinos do Mundo, estamos perante uma obra fascinante e plena de atractivos inter e pluridisciplinares, indispensável portanto nas nossas estantes, bibliotecas e arquivos regionais e pessoais, para estudo, investigação e reprodutivo conhecimento do que fomos e daquilo que, de modo profundo, mesmo quando não reflectido nem criticamente assumido, nos molda ainda e condiciona contemporaneamente…
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 18.12.2015):