A mais ou menos esperada confirmação da não recandidatura de Carlos César à presidência do Governo Regional dos Açores não colheu propriamente ninguém de surpresa, tanto mais quanto apelos a outras airosas saídas ético-politica e juridicamente consentâneas – aceitáveis e até mais do que desejáveis para um PS outro, confiante e consciente de si –, não tiveram acolhimento corajoso, para gáudio imenso, calorosos louvores e aliviados suspiros de insuspeitos adversários e permanentes meninos e meninas de coro e corte…
Todavia, certamente pesados bem interesses pessoais e os do PS, lá se optou por essa solução (conquanto de risco certo!), já brilhando mesmo nas ilhas uma girândola sobre os rumos do líder (mais provisório agora, a prazo definido e curto):
– E é assim que disjuntamente o vislumbram apenas na liderança do PS-A; na cadeira presidencial da ALRAA (conforme os recortes inimagináveis de uma improvável revisão constitucional…); na calha para a corrida presidencial da República (liricamente versejada por Alegre), ou, enfim, na expectativa de protagonismo mais nacional, com um regresso do PS em força à AR, ou a um executivo de bloco central (coisas de puro delírio, após a herança quase criminosamente deixada, e submissa e pateticamente consentida por escusado tempo e por tantos fadistinhas e comparsas da repulsiva figura desse nominal clone menor do sábio e do similar fado da Grécia (que já Eça a químicos papeis de nós tirou, berço antigo e parcial de uma ciclicamente desalmada Europa, a mesma que Soares e agora Cavaco tanto fustigam…) – e da sua vil regência nesta bipolar Nação (cada vez mais em asfixiante estado de choque, sítio societário e sonambulismo explosivo) que o governo de Lisboa, com a miserável ajuda de OCS, irresponsável e paranoicamente cada vez mais vai subliminarmente induzindo à arruaça e à insurreição violenta (e que só a lucidez da CGTP será, talvez, capaz de evitar!).
Mas quanto ao nosso Eça, sempre tão actual em “As Farpas” de Uma Campanha Alegre, onde, como ele diz, não há com efeito senão “uma transbordante alegria”, “um riso que peleja” – “Que peleja por aquilo que eu supunha a Razão. Que peleja contra aquilo que eu supunha a Tolice” –, releia-se, tristemente todavia, o que próprio constatou (já também…) em Janeiro de 1872:
– “Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país caótico e que pela sua decadência progressiva poderá vis a ser riscado do mapa da Europa – citam-se, a par, Grécia e Portugal. Nós, porém, não possuímos como a Grécia, além de uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal, e o museu humano da beleza da Arte. (…) Como deve ser infeliz um rei inteligente (ou, hoje, qualquer Presidente digno desse nome…), quando, caído em cepticismo e misantropia pela certeza que adquiriu de que está no meio de uma pocilga política…”!
E quanto aos Açores, aos brindes, lágrimas de alegria, hipócritas reverências e inocentes ou quase evangélicas laudes – imagine-se! – pelo cumprimento da palavra, nada disso também é para admirar.
– Porquê, ou à custa de quem, é o que se comprovará depois…
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Publicado em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 16.10.2011), "Azores Digital" (http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2157&tipo=col) e "A União" (http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=25630).
Primeira versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 15.10.2011).