As máscaras do Parlamento:
Ideologia, Censura e Miopia
O processo que envolveu o inicial anúncio público e a posterior exclusão liminar do Reverendo Padre Dr. Francisco Caetano Tomás da lista de
personalidades agraciadas este ano com Insígnias
Honoríficas Açorianas tem merecido algumas assinaláveis tomadas de posição
– das quais relembro as do Prelado, do Vigário Geral da Diocese e do Clero e
Ouvidoria da ilha Terceira, as reações frontais dos jornalistas Armando Mendes
(“Diário Insular”) e Manuel Moniz (“Diário dos Açores”), ou a afim indignação
do meu velho amigo e camarada Luiz Fagundes Duarte …–, embora, infeliz e
incrivelmente, a par de muitos acobardados e sintomáticos silêncios ou cúmplices
silenciamentos institucionais, mediáticos e pessoais…
Porém, a insólita história desta façanha político-parlamentar regional –
que comprometeu em primeiro e patente lugar todo
o elenco – visualizável em http://www.alra.pt/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=255
– da Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho (CAPAT) da ALRAA e
a igualmente famosa, determinante e enjoada missiva da deputada Zuraida Soares
(BE) – é já suficientemente conhecida nos seus contornos básicos, desde a preambular publicitação dos honorificáveis nomes até ao respetivo e
derradeiro placet institucional,
passando decisiva e formalmente pela apreciação ao conteúdo do Projeto de Resolução nº 22/2012 (entrado
na ALRAA a 24 de abril último, por assinada
e assinalável “iniciativa de Sua Excelência o Presidente da Assembleia
Legislativa […] e dos Grupos Parlamentares do PS, PSD, CDS/PP e BE e das Representações
Parlamentares do PCP e do PPM”), sendo então – como é de arquivar para memória
futura – líderes desses agregados, respetivamente, os seus pares Berto Messias,
Duarte Freitas, Artur Lima, Zuraida Soares, Aníbal Pires e Paulo Estêvão,
enquanto que – por outra banda – integravam a CAPAT os seguintes deputados
(cujas biografias e currículos muito proveito daria cotejar com os de outras
agraciadas figuras e medalhadas personalidades da vida e da sociedade
açorianas…). No entanto, lá os tivemos assim:
– Do PS: Hernâni Jorge (Pres.),
Isabel Rodrigues (Relat.), António Parreira, Bárbara Chaves, Carlos Mendonça,
Francisco Valadão Vaz e José Ávila; do PSD: Luís Garcia (Secret.), Clélio
Meneses, José Francisco Fernandes e Paulo Ribeiro; do CDS/PP: Luís Silveira; do
PCP: Aníbal Pires, e do BE: Zuraida Soares (participante “sem direito a
voto”…).
Ora o vomitado saneamento do octogenário sacerdote, psicólogo e professor
– cujas orientações e fundamentações teórico-disciplinares, epistemológicas,
técnico-metodológicas, psicocomportamentais, científicas e de filosofia moral
não cabe aqui sistematicamente esmiuçar nem confrontar, e que, ao que se
imagina, nem ali na CAPAT terão estado em escorreita leitura e análise de
contraditório (muito embora até fosse curioso vê-las discutidas pelos ditos
comissários, a começar pelos provenientes da Terceira, ou por algum daqueles
que eventualmente tivessem sido seus alunos no Seminário ou em outra qualquer
Escola… –, foi proposto, assimilado e subscrito por todos os partidos com notória base em tendenciosos argumentos
de desvio, discordância ou configurável
delito de opinião, abrangendo, distorcidamente
aliás, algumas das paradigmáticas causas
e pautas fraturantes em certos círculos (verbi gratia os complexos, duplos e parcialmente díspares fenómenos antropológicos,
bio-psico-societários, afetivos, morais e jurídico-políticos da
Homossexualidade e a sempre
irremissível, traumática, pecaminosa e criminosa tara patológica e predatória
de toda a Pedofilia!), evidentemente
porque se quis fazer aparentar –
concedemos aqui – que esta última
perversão violentadora de crianças até pode
parecer não ter sido efetivamente bem perspetivada, em toda a sua dimensão e profunda dramaticidade psicoexistencial
e ontológica, pelo algo esquemático diagnóstico
psicologista do Dr. Caetano Tomás…
– Mas também digo isto por, nas rebarbativas hostes libertárias locais
de alguns setores, não se vislumbrar a mais pequena estrelinha de autoridade
derivada de uma, outra que fosse, anterior, reconhecida ou exemplar impugnação e resistência ideológica e
prática à opressão, à violência e à exploração (ou a quaisquer outras e
diferentes formas de perversão humana, antidemocrática e anticristã …), e
porque foi, claramente, por um assumido e
puro móbil censório que a tal bem caçada (pelo DI) cartinha do BE foi
enviada, chegou e prosseguiu incontestada
na presidência da ALRAA…, para embaraço de mão e face, ou a temeroso
contragosto de um previsível escândalo
a seguir-se àquele hipócrita e dissimulado golpe desferido à má e à falsa fé!
De resto, muitos dos ditos
deputados regionais, que se armaram em
juízes dos (de)méritos de Mons. Caetano Tomás, nem deste precário e
contingente mundo teriam sequer visto a luz natural, ou por cá antes e ainda
andariam de fralda e bibes pueris, quando já ele estudava, refletia e ensinava
Filosofia, Psicologia, Teologia, Matemática, Línguas e muitas outras Ciências e
Humanidades…
– Contudo, e até por nisso, a
deputada bloquista foi mesmo coerente
com o que o dela, desde há muito, se esperava e ideologicamente afinal tornou a
revelar (embora nem ética nem, muito
menos, intelectualmente esta sua
rasteira atitude de denúncia e chantagem fosse de imaginar como
possível agora, a frio e à socapa!). Todavia, para quem até já num Congresso do
PS fez convidada oração “de sapiência”, que a “isca e a bisca” foram
taticamente servidas desta feita na ponta da língua e de boca cheia, quais
esquinadas e inquinadas pedras de arremesso para um pântano de sapos inchados e
coaxantes rãs, como nas fábulas, lá isso verificou-se mesmo…
Quanto aos outros, novatos ou ressabiados politiqueiros, entre inocências perdidas, ademanes e
ressentimentos subliminares, logros, desconhecimentos
e enviesamentos de pasmar o mais estúpido dos votantes, à mistura com
azedos ou toscos refluxos de ignorância
e com uns salpicos de falsas, imaturas ou malsãs mentalidades, – nem sequer talvez se tenham apercebido do perigoso e imprudente precedente que estavam escancarando, e
da hipoteca que, acrescida e
levianamente, sobre a herdada e
transmissível honorabilidade democrática e cívica do Parlamento Regional, e
das suas próprias e mascaradas
consciências privadas, estavam
vazando!
– Todavia, dentre estes últimos,
os casos do PSD e do CDS/PP ainda são mais surpreendentes e graves, porquanto
sobremaneira denunciam uma indesculpável, autogerida e inusitada ausência de senso interpretativo e de memória histórica, a par de uma assustadora e repugnante subserviência moral
e cultural, sem hombridade, nem gratidão, nem apreço, nem respeito de
espécie alguma pela pessoa visada e pela sua inteira e longa vida de trabalho e serviço nas nossas comunidades,
famílias, escolas, Igreja, e a muitas outras pessoas e instituições até bem
próximas desses partidos…
Finalmente, entristecedor foi
também ver alguns atores do PS terem perdido mais uma oportunidade para estarem
liderante e consensualmente à discernida altura das suas exigíveis e imparciais responsabilidades, e dos seus mais nobres e autênticos ideais, separando as águas da lama, sem aquela
incauta miopia suicidária, seguidista ou revanchista que primeiro ensandece
a justa e equilibrada visão das coisas e depois obscurece leituras compreensivas dos factos políticos e dos
sinais humanos, deixando de seguida arrastar e puxar pobres cegos e guias néscios
para o mesmo escuro precipício dos seus adversários
externos e dos seus próprios e não superados demónios interiores, ambos porventura psiquicamente recalcados e
partidariamente reprimidos!
– E que pena tudo isto ter
terminado real e simbolicamente assim
e sem glória, porquanto ninguém merecia semelhantes ultrajes, tamanhas desonras
e afrontas infames! E logo para o mais solene, comemorativo e irmanante Dia da
Autonomia das nossas ilhas dos Açores, sob a exigente égide (ou retórica etno-política somente?) da partilha limpa e generosa dos únicos e
legítimos Dons do Espírito Santo…
P.S. - Já depois de escrito e publicado este meu texto, pude ler na Revista de hoje (Domingo, 03 de Junho de 2012) do jornal angrense "Diário Insular" uma Crónica de Luiz Fagundes Duarte intitulada "A cabeça do Pai Tomás" (Folhetim 577), sendo que a mesma também já foi introduzida e divulgada por esse meu amigo na rede social do Facebook. Atendendo ao carácter muito controverso do conteúdo desse artigo - do qual discordo totalmente -, não deixarei de o comentar em posterior ocasião.
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P.S. - Já depois de escrito e publicado este meu texto, pude ler na Revista de hoje (Domingo, 03 de Junho de 2012) do jornal angrense "Diário Insular" uma Crónica de Luiz Fagundes Duarte intitulada "A cabeça do Pai Tomás" (Folhetim 577), sendo que a mesma também já foi introduzida e divulgada por esse meu amigo na rede social do Facebook. Atendendo ao carácter muito controverso do conteúdo desse artigo - do qual discordo totalmente -, não deixarei de o comentar em posterior ocasião.
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Publicado em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 3 de Junho de 2012),
RTP-Açores: http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=27244&visual=9&layout=17&tm=41,
RTP-Açores: http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=27244&visual=9&layout=17&tm=41,
Azores Digital: http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2231&tipo=col.
e "A União" (Angra do Heroísmo, 05.06.2012): http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=28235
e "A União" (Angra do Heroísmo, 05.06.2012): http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=28235
Versão reduzida em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 2 de Junho de 2012).