As Representações da Autonomia
Se todos os actos eleitorais, a todos os níveis, se revestem de grande
importância – enquanto modos formalmente
concretizadores do exercício da Democracia e meio mais ou menos eficiente de e para manifestação da vontade popular e individual, assim e por isso
mesmo, em tal regime ou sistema de organização da vida social dita soberana e legitimada pelo voto dos
cidadãos –, não menos decisivo para a autenticidade dos processos institucionais dessa particular forma de participação política e cívica é o próprio mecanismo integrante e decorrente de
tais actos, nomeadamente naquilo que desde sempre e mais
historico-filosoficamente a propósito da Democracia foi fundamentalmente
pensado.
Na verdade, desde a problemática
da natureza mesma da Democracia e da condição natural do Homem como um ser
social e político, até às problemáticas das possíveis e várias configurações
que na prática esse sistema do governo já se arrogou – ou pode ainda vir a
assumir –, passando pela magna e essencial questão das delegações do Poder e das suas várias modalidades de contratualização ou contrato para a produção da Lei e da ordenação da Sociedade, estas
questões continuam tão merecedores de análise e reflexão quanto o foram nos
primórdios gregos da História do Pensamento Ocidental.
– Por outro lado e ao longo da
própria evolução das sociedades, cada vez maior acuidade ganhou a percepção de
que em todos os actos político-eleitorais livres, ou assim exponencialmente
desejáveis, em jogo entra toda uma complexa série de factores que entroncam em
outros tantos sistemas de entendimento filosófico, político-jurídico, social,
moral e simbólico, cujas mútuas coordenadas nunca deveriam esquecidas nem
escamoteadas!
No caso dos Açores, com a
proximidade das eleições regionais do próximo Outono, de um ou de outro modo,
embora à pequena escala da Autonomia democrática que em parte conquistámos e em
parte nos foi outorgada, estas problemáticas também podem e devem ser pensadas,
– para mais numa altura em que, nunca talvez como durante a última década, nada
do que se passa e passará no País importará tanto à nossa Região, a começar
pelo próximo Orçamento do Estado…
Ora, pelo que se ouviu dos
principais partidos do regime e sistema que temos, a(s) data(s) proposta(s) ao
Presidente da República para a marcação das Eleições Regionais são mesmo importantes
para uma rigorosa avaliação, um mais transparente delineamento e uma mais
esclarecida capacidade de escolha popular entre os vários modelos, agentes e
programas em presença actual e implementação futura. E neste caso, francamente,
toda a razão assiste à devidamente justificada proposta do Partido Socialista!
E se mais não houvesse que escutar para reflectir, bastaria talvez apenas
observar bem as fotografias das delegações partidárias do PS e do PSD que se
deslocaram a Belém, levando as respectivas moções de calendarização para o
aguardado, importante e exigente acto eleitoral que já está a bater à porta das
ilhas…
– E foi assim que o PSD-A lá se
apresentou ao PR com Berta Cabral, ao lado de dois organicamente tutelares dirigentes
nacionais do partido de Passos Coelho, numa representação muito lacunarmente
açoriana, com uma imagem um pouco gasta e até parcamente autónoma e autonómica, quando, desde Mota Amaral até
Duarte Freitas, Joaquim Ponte, Costa Neves, Lídia Bulcão ou mesmo Patrão Neves,
para referir apenas alguns nomes sociais-democratas, não lhe teriam faltado
figuras de prestígio regional e nacional para a dita auscultação-propositura a
Cavaco Silva. Mas, ao contrário do que o mais elementar senso político e
intuição partidária recomendariam, a líder regional micaelense lá se ficou,
subalternizada e sob um desnecessário e
contraproducente protectorado simbólico do PSD nacional, apenas acompanhada
por Jorge Moreira da Silva e José Matos Correia!
Porém, ao contrário do PSD, muito
bem – na forma, no elenco e na fundamentação do conteúdo da mensagem
transmitida – esteve a delegação açoriana, exemplarmente
autónoma e autonómica do PS (Vasco Cordeiro, Maria João Carreiro, Berto
Messias e Ana Luís), com uma atractiva
imagem de frescura, segurança e representatividade real:
– Um óptimo sinal partidário e um capital
simbólico altamente precioso, renovado e personalizado para os combates
políticos que se avizinham, aqui nas nossas ilhas e em Lisboa, ao mesmo tempo e
quem sabe se contra concertados e poderosos adversários na Lapa, em S. Bento,
no Caldas, em Belém e até nalgumas conhecidas e velhas armadilhas de outros
bairros da capital, à velha moda do pior que já passou pelo Rato e por outros
largos e ruas semelhantes na nossa própria terra!
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Em: Azores Digital – http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2250&tipo=col;
“Diário dos Açores” Ponta Delgada, 22.07.2012) – http://jornal.diariodosacores.pt/;
RTP-Açores – http://www.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10;
“Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 21.07.2012) – http://www.diarioinsular.com/;
“Networked
Blogs” - http://www.networkedblogs.com/blog/os-sinais-da-escrita?parent_page_name=source